O Estado de São Paulo, n. 45628, 20/09/2018. Internacional, p. A13

 

Coreia do Norte impõe condições aos EUAS para desmantelar arsenal nuclear

20/09/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

Compromisso. Após dois dias de reuniões com presidente da Coreia do Sul, Kim Jong-un assinou acordos para encerrar exercícios militares e criar zonas desmilitarizadas na fronteira; líder norte-coreano também prometeu realizar visita inédita a Seul

O líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, se comprometeu ontem pela primeira vez a dar passos concretos rumo à desnuclearização do país, como desmantelar permanentemente suas principais instalações nucleares e centrais de produção de combustível para ogivas nucleares. Mas, para fazer isso, pediu que os EUA respondam com concessões.

No segundo dia de uma cúpula em Pyongyang com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, Kim assinou acordos para diminuir as tensões entre os dois países, como encerrar os exercícios militares e criar zonas desmilitarizadas na fronteira. O líder também prometeu visitar a capital da Coreia do Sul, Seul, o que seria a primeira visita oficial de um dirigente nortecoreano ao país vizinho. Moon afirmou que a viagem pode ser feita ainda este ano.

No entanto, a promessa que chamou mais a atenção de Washington foi a de desmantelar o local de testes de mísseis intercontinentais e a base de lançamento de mísseis na presença de especialistas. Mas, para seguir adiante com suas promessas, Kim pediu “medidas correspondentes” por parte dos EUA, como declarar formalmente o fim da Guerra da Coreia (1950-53) – o conflito foi interrompido com um cessar-fogo. Em troca, ele disse que desmantelará o complexo nucelar de Yongbyon, coração do programa nuclear do país, entre outros passos.

O presidente americano, Donald Trump, considerou a declaração “encorajadora”, mas não anunciou novos compromissos. O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, por sua vez, saudou os “importantes compromissos” na cúpula de Pyongyang e disse que o governo está pronto para novas negociações que alcancem a desnuclearização norte-coreana “até janeiro de 2021”.

Em comunicado, Pompeo também disse que falou com o chanceler norte-coreano, Ri Yong-ho, e o convidou para uma reunião em Nova York, na semana que vem, durante a Assembleia-Geral da ONU.

A Coreia do Norte é alvo de múltiplas sanções do Conselho de Segurança da ONU em razão de seus programas nuclear e balístico, e já realizou diversos lançamentos de mísseis em Tongchang-ri.

Os líderes afirmaram ontem que essas medidas transformarão a Península Coreana em “uma terra de paz, sem armas ou ameaças nucleares”. O progresso do atual processo de desmantelamento das instalações norte-coreanas não foi detalhado no encontro.

Na terça-feira, o Departamento de Estado americano havia manifestado a esperança de que a cúpula permitisse “um passo significativo e verificável em direção à desnuclearização da Coreia do Norte”.

Cúpula. Na reunião histórica do dia 12 de junho entre Kim e Trump, em Cingapura, o nortecoreano reiterou ao americano seu compromisso de avançar até a “desnuclearização completa da Península Coreana”.

Apesar das promessas, a Coreia do Norte não demonstrava real comprometimento com o assunto, o que despertou críticas de Washington. O governo Trump cancelou a viagem de Pompeo a Pyongyang como sinal de seu descontentamento com o pouco avanço no acordo firmado em Cingapura.