Título: Amizade talhada nas eleições
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2012, Política, p. 3
A relação do governador Sérgio Cabral com o governo federal alternou bons e maus momentos nos últimos anos. Mas todos no meio político sabem que ele é muito mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que da presidente Dilma Rousseff. Apesar do elogio público em 26 de abril, em um evento no Rio de Janeiro — em que Dilma elogiou a "voz harmônica" do governador fluminense e a "tradição familiar" de enaltecer a Cidade Maravilhosa por intermédio do samba —, a relação entre ambos sofre descompassos. O mais grave está na divergência quanto à definição dos critérios de distribuição dos royalties do pré-sal.
Com Lula, no entanto, a relação é muito mais amistosa. Por isso, aliados de Cabral nunca esconderam a torcida para que o petista dispute um novo mandato presidencial em 2014. Achavam que, se isso acontecesse, Cabral seria a opção mais natural, já que o atual vice-presidente, Michel Temer, não agrada a Lula por seu passado serrista. Se Dilma for candidata à reeleição, a tendência é que a parceria seja firmada em termos bem mais institucionais, o que favoreceria Temer.
Nem sempre, contudo, a relação de Cabral e Lula foi próxima. Em 2006, ainda durante o primeiro turno da disputa eleitoral em que Lula tentava a reeleição, o então presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), procurou Lula no Palácio da Alvorada. "Presidente, o candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral, quer uma mensagem de apoio sua para usar no horário político. O que respondo?". Lula não teve dúvidas: "Responda a ele assim: "Esquece!"", narrou um influente cacique petista que presenciou o diálogo. O então candidato justificou que Cabral era um tucano e que, mesmo quando mudou-se para o PMDB, jamais fizera um gesto de aproximação com o governo federal.
Mas o petista teve que enfrentar um segundo turno presidencial contra Geraldo Alckmin (PSDB), algo que estava fora dos prognósticos do partido. Necessitando do maior número de votos para não deixar a presidência escapar, Lula chamou novamente Berzoini para uma conversa no Palácio da Alvorada: "Diga para aquele menino do Rio que eu gravo a propaganda de apoio". Perplexo com a mudança em tão pouco tempo, Berzoini perguntou o que falaria para Cabral. "Diga que estou apoiando-o porque a adversária dele é a Denise Frossard (PPS), aquela juizinha que queria meu impeachment", justificou Lula, pragmático. (PTL)
Dossiê contra tucano Recuperado politicamente do escândalo do mensalão em 2005, Lula tinha praticamente assegurada a reeleição em primeiro turno em 2006. Dois fatores, contudo, foram considerados essenciais para obrigar o petista a disputar outro round com o tucano Geraldo Alckmin: a descoberta de uma mala de dinheiro em um hotel que seria usada para comprar dossiês falsos contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra; e a ausência no último debate presidencial do primeiro turno, o que foi interpretado pelo eleitorado, em pesquisas de opinião, como uma atitude arrogante da parte de Lula.