Título: PSB não garante apoio ao PT
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2012, Política, p. 6

Em entrevista ontem, o petista Humberto Costa (C) afirmou que procurará os apoios agora: "Como tenho couro de jacaré, tenho que desarmar os espíritos"

Mesmo com a intervenção da Executiva Nacional do PT e a consequente escolha do senador Humberto Costa (PT-PE) como candidato do partido à Prefeitura do Recife, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), que teria participado da costura para afastar o prefeito João da Costa (PT-PE) da disputa, ainda não decidiu se apoiará o petista. Na avaliação do governador, a instabilidade do PT, ocasionada por ataques pesados entre o grupo de Humberto e de João da Costa, minaria a possibilidade da militância entrar para valer na campanha do senador pernambucano. Desta maneira, o apoio de Eduardo está atrelado à pacificação do PT e à união da Frente Popular. Além de reconstruir o partido em torno do seu nome, Humberto Costa tem a difícil missão de neutralizar o discurso da oposição de que ele é um candidato "biônico", imposto pelos caciques da sigla.

Nas ruas, o governador já está sendo cobrado pelo possível apoio ao candidato que "atropelou" o prefeito. Pesquisas internas teriam apontado o crescimento de João da Costa justamente pelo fator da "vitimização". Para ter uma candidatura própria sólida ou até mesmo um nome de confiança para a vice na chapa petista, o governador se resguardou e assinou, na tarde de ontem, a exoneração dos quatro secretários mais fortes do governo: Danilo Cabral (Cidades), Geraldo Júlio (Desenvolvimento Econômico), Sileno Guedes (Articulação Social) e Tadeu Alencar (Casa Civil).

Durante coletiva, ontem à tarde, no Recife, Humberto Costa declarou que não pensa na possibilidade de marchar na eleição municipal sem o PSB ao lado. "Não trabalho com a hipótese de o PSB não nos apoiar. Não trabalho com a ideia de divisão da Frente." Ele assegurou que vai procurar os líderes de todos os partidos que compõem o bloco. Disse que a primeira pessoa com quem vai conversar é o governador Eduardo Campos.

Ao lado do ex-prefeito do Recife João Paulo, até pouco tempo desafeto dentro da legenda, comunicou que, quando a poeira baixar, vai sentar-se com o prefeito João da Costa para costurar o apoio a sua candidatura. "Queremos sim o apoio dele. Vamos deixar a poeira baixar. Ele é uma liderança do PT." Humberto salientou que o debate no partido é natural e, às vezes, até exaltado. "Como tenho couro de jacaré, tenho que desarmar os espíritos. A partir de hoje, vamos procurar todos."

Resistência João da Costa chegou à capital pernambucana, na tarde de ontem, e foi recebido por grande número de militantes no Aeroporto Internacional do Recife. "Ô, Lula, decepção, você não manda no Recife não", gritavam os correligionários. O prefeito demonstrou resistência em apoiar Humberto Costa. "Não vou submeter meu apoio a um ato de força se ainda não fui convencido (de desistir da candidatura)." No dia em que foi afastado pela cúpula petista, João da Costa ironizou ao ser perguntado se apoiaria Humberto. "Acho que são eles que não querem o meu apoio. Vão querer o apoio de um prefeito que, segundo eles, é isolado politicamente?"

Um bloco de petistas, liderado pelo deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), da tropa de choque de João da Costa, defende que ele acione a Justiça comum, já que foi vencedor nas prévias. O ato representaria o caminho para expulsão do partido. A avaliação é de que a candidatura de João da Costa deixou de ser um gesto meramente político. Tornou-se uma questão de honra. "Sendo assim, que nos expulsem do partido. Seria mais honesto, corajoso e digno", rebateu Ferro.

"Não trabalho com a hipótese de o PSB não nos apoiar. Não trabalho com a ideia de divisão da Frente" Humberto Costa, senador (PT-PE)