O Estado de São Paulo, n. 31091, 21/09/2018. País, p. 4
Apelo contra 'marcha da insensatez'
Gustavo Schmitt
Jussara Soares
Fernanda Krakovics
Maria Lima
Letícia Fernandes
21/09/2018
A 16 dias das eleições, em carta publicada ontem no Facebook, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o quadro eleitoral atual é sombrio e fez um apelo pela união de campanhas de centro para eleger o que chamou de candidatos “mais capazes” contra a “marcha da insensatez”. Segundo o tucano, seria essa uma oportunidade para evitar “que o barco naufrague”.
Tão logo o ex-presidente divulgou a carta em suas redes sociais, candidatos à Presidência e outros políticos reagiram sem demonstrar interesse à ideia de uma frente de centro.
Para FH, “ante a dramaticidade do quadro atual, se busca a coesão política, com coragem para falar o que já se sabe e a sensatez para juntar os mais capazes”. O tucano alerta que a união é importante para evitar a escolha do eleitorado por um “salvador da pátria” ou um “demagogo”.
O ex-presidente foi claro sobre o pedido de união contra o extremismo: “Sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar”.
Em julho, Fernando Henrique já havia feito movimento semelhante: apoiou um documento que conclamava as forças “democráticas e reformistas” a se unirem durante a disputa eleitoral, numa “defesa intransigente da liberdade e da democracia”.
Ontem, FH classificou o cenário como “dramático” e citou o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill: “Diante de tão dramática situação, os candidatos à Presidência deveriam se recordar do que prometeu Churchill aos ingleses na guerra: sangue, suor e lágrimas. Poucos têm coragem e condição política para isso.”
“FH não me ouviu”
No texto, FH não mencionou candidatos, nem mesmo o seu correligionário Geraldo Alckmin, que patina nas pesquisas. Logo após a repercussão da postagem em seu Facebook, o ex-presidente foi ao Twitter e explicou que sua intenção na carta é clamar por “sensatez” e pela aliança dos candidatos “não radicais”. No Twitter, FH mencionou o seu candidato ao falar do seu chamado por candidatos não radicais: “Quem veste o figurino é o Alckmin, só que não se convida para um encontro dizendo ‘só com este eu falo’”.
Ainda na carta, Fernando Henrique falou em perigos do extremismo sem uma movimentação de centro para impedir “candidaturas radicais”.
Na internet, a candidata Marina Silva (Rede) desdenhou da proposta de FH. “Ninguém chama para tirar as medidas com a roupa pronta”, escreveu ela. Pouco antes, seu vice, Eduardo Jorge, disse que o ex-presidente havia ignorado proposta semelhante feita por ele no início do ano:
— Fernando Henrique não me ouviu quando falei isso em fevereiro 2018. Eu propus a mesma coisa em fevereiro e ele não deu bola —disse Eduardo Jorge.
A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, criticou a carta e disse que Bolsonaro é cria do PSDB. “O homem das elites quer juntar os sensatos para as eleições! Aqueles que não aceitaram o resultado das urnas em 2014, deram o golpe, foram para o governo Temer e aprovaram as reformas que jogaram o país na crise. Vergonha alheia, Bolsonaro é cria tucana”, escreveu Gleisi, no Twitter.
A campanha de Ciro Gomes (PDT), por sua vez, não se considerou como destinatária da carta de FH.
—Ele tem que defender o público dele, tentar unir a direita para ter alguma chance — disse o coordenador da campanha pedetista, Carlos Lupi.
Para ele, a mensagem do ex-presidente é voltada para os que estão abaixo de Geraldo Alckmin nas pesquisas de intenção de voto, e não para Ciro. Lupi também não considera que os dois estejam no mesmo campo político.
Sem recado para Alckmin
Para o deputado Silvio Torres, tesoureiro nacional do PSDB e braço direito de Alckmin, a carta não é contra o presidenciável:
— Acho que a essa altura o FH não escreveria algo para prejudicar o Geraldo.
O pedido do ex-presidente também não empolgou as campanhas de Alvaro Dias (Podemos) ou de Henrique Meirelles (MDB). Com 3% de intenções de voto na última pesquisa Datafolha, Dias tem dito que seria “covarde” se desistisse de concorrer à Presidência. Auxiliares da campanha do candidato disseram que ele não cogita qualquer aliança para tentar enfraquecer os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT), e que essa possibilidade é “zero abaixo de zero”.
Interlocutores de Henrique Meirelles, que aparece com 3%, também refutam a possibilidade de o emedebista se aliar a outros nomes de centro. Coordenador da campanha de Meirelles, João Henrique Sousa disse que as pesquisas mostram que cerca de 40% do eleitorado ainda não está com o voto cristalizado em um candidato, e que é nesse grupo que Meirelles ainda poderia crescer.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
No Datafolha, 40% admitem mudar o voto
Mariana Martinez
21/09/2018
A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra que, no conjunto do eleitorado brasileiro, 40% admitem a possibilidade de mudar o voto nestas eleições presidenciais. No grupo, 15% afirmam que o candidato Ciro Gomes, do PDT, seria uma segunda opção, 13% indicam Marina Silva (Rede), 12% optam por Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) e 11% apontam Jair Bolsonaro (PSL).
De acordo com o levantamento, os eleitores de Bolsonaro e Haddad são os mais convictos sobre sua opção de voto. Apenas um de cada quatro apoiadores dos dois candidatos dizem que poderiam escolher algum outro nome para a Presidência da República.
Os eleitores de Ciro, Alckmin e Marina são os menos decididos. Mais da metade admite escolher outro candidato, e muitos têm mudado de opinião nas últimas semanas, diz o Datafolha.
A pesquisa mostra que Bolsonaro mantém a liderança na disputa ao Planalto. O capitão reformado do Exército, que segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e está há duas semanas sem fazer campanha, oscilou dois pontos para cima e alcançou 28% das intenções de voto.
Fernando Haddad, do PT, que vem subindo desde que teve a candidatura oficializada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cresceu três pontos percentuais e chegou a 16% das intenções de voto. O petista está tecnicamente empatado com Ciro Gomes, que ficou estagnado em 13% em comparação ao último levantamento, divulgado na semana passada.
O instituto entrevistou 8.601 eleitores de 323 municípios nos dias 18 e 19 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais. A pesquisa foi contratada pela Folha e pela TV Globo.
As simulações do Datafolha para 2º turno mostram que Ciro Gomes é o único candidato que venceria todos os adversários. Ele ganharia a eleição de Bolsonaro com 45% dos votos, vantagem de seis pontos. Nos outros cenários, Bolsonaro empata com Haddad, Alckmin e Marina.
A rejeição a Bolsonaro continua alta, e a de Haddad cresceu. Segundo o levantamento, 43% dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum no candidato do PSL, e 29% rejeitam o petista.