O globo, n. 31091, 21/09/2018. País, p. 8

 

Gastos milionários na TV não impulsionam candidatos

Júlia Cople

21/09/2018

 

 

Dados das prestações de contas dos candidatos à Presidência mostram que a produção de conteúdo para TV, rádio e vídeos consome mais da metade do dinheiro já gasto nas campanhas para o cargo. Os 13 cabeças de chapa (inclusive Lula, antes de ser declarado inelegível) despenderam R$ 67,9 milhões com propagandas do tipo —mais de 40% do que foi arrecadado. Levantamento do GLOBO indica que os gastos coma produção consumiu 54,9% das despesas contratadas nos primeiros 20 dias do horário eleitoral.

O percentual gasto com tais produções corresponde ainda a 43,85% de todo o montante arrecadado pelas campanhas à Presidência. As 13 chapas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) juntaram R$ 154,9 milhões para a disputa e, até a prestação de contas atualizada em 17 de setembro, contrataram serviços diversos no valor de R$ 123 milhões. Deste total, R$ 67,9 milhões foram revertidos à produção do horário eleitoral, reconhecido há anos como a principal forma de se atingir o eleitorado.

Naturalmente, os postulantes ao Planalto que mais dispõem de tempo no programa eleitoral de TV e rádio são também os que mais gastam. É a despesa principal de oito dos 13 cabeças de chapa. O investimento no conteúdo midiático supera os gastos de transporte, publicidade impressa, adesivos e impulsionamento de conteúdos nas redes sociais — novidade nesta eleição.

Investimento

Em valores absolutos, quem mais investiu neste tipo de propaganda foi Henrique Meirelles, R$ 24,7 milhões. Isso representa 54,89% do que tirou do próprio bolso para financiar a campanha. Os gastos do emedebista ultrapassam um terço de tudo o que já foi contratado pelos presidenciáveis (34,99%). O investimento em seu 1 minuto e 55 segundos de TV e rádio não se traduziu em votos: o ex-ministro da Fazenda tem 2% das intenções, segundo o Datafolha.

Antes de ser barrado, o ex-presidente Lula (PT), com 2 minutos e 23 segundos, gastou R $17,8 milhões coma produção dos programas eleitorais, o que representa 86,8% do que arrecadou e 67,9% das despesas que contratou. Seu substituto, Fernando Haddad, ainda não apresentou balanço.

Com arrecadação de R$ 46 milhões, a maior entre os presidenciáveis (29,6% do total arrecadado pelos 13 cabeças de chapa), o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) contratou R$ 15,2 milhões em produção dos seus 5 minutos e 32 segundos. Isso significa 49% de suas despesas contratadas. O investimento não surtiu efeito: Alckmin não passou de um dígito nas pesquisas.

Jair Bolsonaro (PSL) arrecadou R$897 mil, mas já contratou despesas nova lorde R$ 985 mil. Deste montante, R$ 240 mil foram investidos em produção de conteúdo (ele tem apenas 8 segundos) — mais de um quarto do que tem à disposição para a campanha (26,76%) e 24,37% de tudo o que contratou.

Ciro reverteu à produção de televisão, rádio e vídeos 27% dos seus gastos (R$ 2,25 milhões). Com 38 segundos nas plataformas de massa, o pedetista gastou ainda mais com publicidade via materiais impressos (29%).

Com 21 segundos, Marina Silva (Rede) usou mais da metade de suas contratações para esta modalidade de propaganda (54,29%) ao contratar as produções no valor de R$ 1,9 milhão.

Já Alvaro Dias (Podemos), também com 21 segundos, destacou R$ 4,4 milhões para isso — 84,6% do que arrecadou e 79,4% de tudo o que gastou até aqui. E manteve os 3% de intenção nas últimas três pesquisas Datafolha.