Título: Espanha é rebaixada e põe mundo em alerta
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Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2012, Economia, p. 8

Madri — A crise que arrasa a Europa e deixa o mundo em estado de alerta atingiu ontem um grau assustador ao indicar a possibilidade cada vez maior de a Espanha, a quarta maior economia da Zona do Euro, quebrar. As apostas nessa direção aumentaram depois de a Fitch, uma das maiores agências de classificação de risco do mundo, cortar três níveis da nota da dívida espanhola, de "A" para "BBB", com perspectiva negativa — ou seja, de novos rebaixamentos. A Espanha está a dois degraus de ser considerada uma economia especulativa.

O motivo principal para a decisão da Fitch foi a frágil situação dos bancos espanhóis, cujo salvamento poderá custar até 120 bilhões de euros aos cofres públicos, que já estão combalidos, devido à recessão que assola o país. Na avaliação da agência, a Espanha continuará no atoleiro pelo menos até o fim de 2013, com desemprego em alta — entre os jovens, um em cada dois estão sem trabalho, inflamando as cobranças sociais.

"A Fitch espera que a Espanha consiga apoio financeiro internacional para recapitalizar seus bancos de tamanho médio, assim como as suas caixas de poupança, o que voltará a atrair a confiança para todo o setor bancário", assinalou a agência em nota. Pelos cálculos da Fitch, se o governo assumir o rombo do sistema financeiro, a dívida pública espanhola atingirá 95% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2015. O maior problema entre os bancos é o Bankia, que já recebeu um aporte de 7 bilhões de euros e pede mais 18 bilhões de euros.

O rebaixamento anunciado pela Fitch não impediu, porém, que a Espanha fosse aos mercados em busca de recursos para fechar suas contas. O governo conseguiu captar mais de 2 bilhões de euros, mas foi obrigado a pagar juros elevadíssimos — 6,044% ao ano contra 5,743% anuais de 19 de abril —, um claro sinal de que a tensão entre os investidores não recuará até que o país obtenha uma ajuda europeia para seus bancos. Portugal, Irlanda e Grécia já foram resgatados pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy admite apenas pedir ajuda para o setor financeiro, debilitado pelos ativos imobiliários tóxicos desde o estouro de sua bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.

Frustração Diante da hipótese de derrocada da Espanha, que certamente levará junto outras economias da Zona do Euro — o chefe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, disse que os líderes da região estão prontos para estender a mão ao governo de Rajoy. "Caso, algum dia, a Espanha peça apoio para o seu setor bancário, a ajuda evidentemente acontecerá", afirmou. Mas ele minimizou o fato. "A situação da Espanha evolui bastante bem. O governo daquele país adotou todas as medidas de consolidação que teria que tomar", disse. Em Berlim, durante encontro com o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, a chanceler alemã, Angela Merkel, frustrou o mundo. Era grande a expectativa de que ela sinalizasse a adoção de medidas imediatas para reverter o pessimismo que tomou conta do mundo diante das chances de falência da Espanha. Mas Merkel optou por enfatizar o seu discurso de reforço à união política europeia, uma proposta de longo prazo que não tem o apoio de seus sócios. Eles pedem soluções urgentes para a crise da dívida na região.

Férrea partidária de ajustes nas contas públicas, a chanceler alemã admitiu, no entanto, que o Pacto Fiscal não é a solução absoluta para reativar as economias europeias. "Precisamos de mais Europa, de uma união orçamentária. Necessitamos, antes de mais nada, de uma união política", destacou, jogando água fria nas expectativas em torno da reunião da União Europeia marcada para o fim de junho, em Bruxelas. "Não há nenhuma reunião capaz de solucionar tudo de um só golpe", afirmou.

Apesar das resistências da Alemanha, David Cameron defendeu soluções concretas para a recuperação do setor bancário europeu, dentro da complementação do pacto fiscal. "Entendo por que os países da Zona do Euro querem examinar (o projeto) de uma união bancária", afirmou. A Grã-Bretanha, que não é membro da Zona do Euro, foi um dos dois países da União Europeia, junto com a República Tcheca, que se negou a assinar o pacto fiscal defendido por Merkel para o controle dos deficits públicos.

» Mesmo com incerteza, bolsas sobem

Apesar do rebaixamento da Espanha, as principais bolsas europeias subiram ontem, reagindo ao anúncio de corte de juros na China. No entanto, perderam força no fim da sessão, depois que o presidente do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, deu poucos sinais de que seriam iminentes novas medidas de estímulo monetário. Houve elevação nas bolsas de Londres (1,18%), Frankfurt (0,82%), Paris (0,42%),Milão (0,88%) e Madri (0,3%). Nos Estados Unidos, os pregões fecharam sem direção. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,37%, enquanto a Nasdaq, das ações de tecnologia, perdeu 0,48%. O Standard & Poor"s, que engloba as 500 maiores corporações dos EUA, recuou 0,01%. No Brasil, as bolsas não funcionaram por causa do feriado de Corpus Christi.