Título: Venda de mansão sob suspeita de sonegação
Autor: Jerônimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2012, Política, p. 4
Integrantes da CPI criada para investigar a organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira consideram existir elementos suficientes para fazer denúncia de crime de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, ao fim do relatório da comissão. Incongruências nas informações prestadas por Perillo e integrantes da quadrilha com relação ao preço e forma de pagamento do imóvel do condomínio Alphaville Flamboyant apontam para valores não declarados na transação da casa, que pertencia ao governador e abrigava Cachoeira quando o contraventor foi preso. Escuta realizada pela Polícia Federal, divulgada ontem pelo Jornal Nacional, registrou diálogo entre o ex-vereador Wladimir Garcez e Cachoeira em que o contraventor deixa claro que comanda o processo de compra e estabelece preço de R$ 2,2 milhões pelo imóvel.
O valor é R$ 800 mil maior do que o R$ 1,4 milhão que o governador declarou ter recebido pela casa, com o pagamento de três cheques emitidos pela Excitant Confecções, empresa que tem uma cunhada de Cachoeira no quadro societário. Em depoimento à CPI, o dono da Faculdade Padrão e novo proprietário da casa, Walter Paulo de Oliveira Santiago, negou que o negócio tenha sido fechado com os três cheques e afirmou que pagou o imóvel em dinheiro, com notas de R$ 50 e 100. "Quem estava comprando a casa é o Cachoeira, ele arbitrou um teto. Tem uma grave contradição entre os números: R$ 1,4 milhão em três cheques, R$ 1,4 milhão em dinheiro e depois R$ 2,2 milhões. É uma transação obscura, não existe ambiente de legalidade. Chegando ao indício de crime, a CPI faz comunicação ao Ministério Público. Os elementos até agora são a prática de crime de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e sonegação fiscal", aponta o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), integrante da comissão.
A suposta venda do imóvel com valor subvalorizado era o argumento que faltava aos parlamentares que tentam emplacar requerimento de quebra de sigilo do governador na CPI. Integrantes da comissão querem acessar o valor da movimentação imobiliária registrada na Declaração de Imposto de Renda de Perillo.
Bolsas de estudo O ex-vereador é apontado como o responsável por ter articulado o pagamento da casa, com uma parte em dinheiro e outra em cheques. O advogado de Garcez, Neiron Cruvinel, afirma que seu cliente informou que o pagamento foi feito apenas por cheques, e não por dinheiro, no valor de R$ 1,4 milhão, e não de R$ 2,2 milhões, como afirma a Cachoeira na escuta telefônica. "Conheço o fato do próprio Garcez e o valor é de R$ 1,4 milhão. Ele me disse duas vezes essa mesma versão." Em seu depoimento à CPI, o dono da Faculdade Padrão atesta que o pagamento foi feito em dinheiro e que o assessor do governador Lúcio Gouthier Fiúza levou os "pacotinhos". Ontem, o governo de Goiás anunciou a exoneração de Fiúza.
Comprador da casa do governador Marconi Perillo, Santiago recebe cerca de R$ 1 milhão mensalmente em recursos públicos do estado de Goiás para manter sistema de bolsas que abrangem a maioria dos estudantes da Faculdade Padrão. Assim que assumiu a instituição de ensino, Santiago se tornou beneficiário do programa de bolsas criado pela gestão de Perillo. O repasse de recursos sai de um convênio entre a Secretaria de Gestão e Planejamento e a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), uma ONG de assistência social mantida com recursos públicos e que não se submete à prestação de contas como as outras secretarias. No ano passado, o governo e a entidade que tem a primeira-dama de Goiás, Valéria Jaime Perillo, como presidente de honra firmaram convênio de R$ 40 milhões para bolsas de estudo em faculdades particulares.
Quem é quem Confira quais são os personagens da venda da casa em Goiânia
Carlinhos Cachoeira O bicheiro foi preso em 29 de fevereiro no imóvel do condomínio Alphaville Flamboyant. A casa em que a polícia encontrou Cachoeira já pertenceu ao governador de Goiás, Marconi Perillo.
Marconi Perillo Vendeu a casa, ainda não se sabe ao certo se diretamente para Walter Paulo de Oliveira Santiago, dono da Faculdade Padrão, ou se ao ex-vereador Wladimir Garcez, que teria repassado o imóvel ao empresário. Perillo diz que recebeu três cheques — dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil — emitidos pela empresa Excitant Confecções, de uma cunhada de Cachoeira, pela casa. Santiago, por sua vez, afirma que pagou em dinheiro.
Wladimir Garcez Afirmou em depoimento à CPI que comprou a casa de Perillo para fazer investimento. Alegou que levantou o dinheiro com a ajuda do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu e de Cachoeira. Mas é apontado pelo dono da Faculdade Padrão como intermediário da venda da casa, recebendo R$ 100 mil como comissão.
Walter Paulo de Oliveira Santiago É apontado como proprietário da Faculdade Padrão e da Mestra Administração e Participações. Afirma que pagou a casa em dinheiro, em pacotes de R$ 100 e R$ 50. O imóvel seria um investimento para a Mestra, empresa que tem capital de R$ 20 mil.
Lúcio Gouthier Fiúza O dono da Faculdade Padrão e o ex-governador afirmam que foi o assessor de Perillo quem recebeu os cheques (segundo a versão de Garcez) ou o dinheiro (segundo a versão de Santiago) do pagamento da casa.