Título: Lupa sobre Protógenes
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2012, Política, p. 6

A previsão do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) ao achar que estaria fora das investigações do caso Cachoeira acabou. Integrante da CPI sobre o esquema do contraventor, o parlamentar será alvo do Conselho de Ética da Câmara, que vai apurar seu envolvimento com o araponga Idalberto Matias Araújo, o Dadá. O relator do caso, Amauri Teixeira (PT-BA), apresentou ontem parecer preliminar considerando admissível a representação de autoria do PSDB em que Protógenes é acusado de quebra de decoro parlamentar. O relatório será votado na quarta-feira e, no entendimento do presidente do colegiado, deverá ser aprovado.

No texto, Teixeira argumenta que, apesar de ainda não haver provas, "há indícios suficientes que revelam ter o representado se portado de forma incompatível com o decoro" e que "são os fatos consistentes, graves, e requerem apuração imediata em processo ético-disciplinar". Para o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), dificilmente o caso será arquivado. "Não tenho dúvida de que vai ter a apuração, até porque, na atual conjuntura, ninguém votaria contra isso, e espero que a verdade seja revelada, doa em quem doer", acredita. Se o relatório for aceito, Protógenes terá 10 dias para se defender. O colegiado poderá pedir a suspensão por seis meses ou a cassação do mandato do deputado.

Na elaboração do relatório, Amauri Teixeira teve acesso a dados da CPI do Cachoeira e a documentos enviados pela regional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), na qual Protógenes está registrado como delegado da Polícia Federal. O deputado petista acredita que gravações ainda não analisadas e novos documentos solicitados à PF podem conter dados mais consistentes.

Processo O próprio investigado solicitou ao conselho que as informações da CPI fossem incluídas na apuração preliminar de seu caso. No dia do depoimento à comissão mista do delegado da PF Raul Marques, que chefiou a Operação Vegas, o deputado saiu da sessão sorridente e afirmou ao Correio que estava "de alma lavada", porque Marques havia garantido não haver nada contra ele nas investigações. Parlamentares presentes no depoimento, porém, asseguram que o delegado destacou uma ligação suspeita em que Protógenes tenta contato com a empresa Delta Construções.

O deputado soube do relatório de Amauri Teixeira pela reportagem do Correio, mas ao ser informado do teor do parecer, desligou o telefone sem responder a qualquer pergunta. Mais tarde, Protógenes reagiu pelo Twitter, questionando a legalidade da divulgação do parecer e levantando suspeitas sobre o relator. "Recebi alguns telefonemas de colegas do PT falando que o parecer do deputado Amauri foi uma traição", destacou. "Um passarinho me contou agora que ele cumpriu tarefa do PT em acordo com o PSDB. Querem desviar o foco da corrupção da Delta."

Um integrante do Conselho de Ética assegura não haver impedimento para que o relator divulgue o parecer à imprensa. "Ilegal não é, mas não foi ético nem moral, e com certeza o Protógenes inteligentemente irá reverter isso a seu favor, jogando os conselheiros contra o Amauri, que já não é muito bem-visto entre os colegas", comenta. "Certamente, a reunião do conselho vai começar com bate-boca, mas o relatório preliminar vai acabar sendo aprovado mesmo assim."

"Não tenho dúvida de que vai ter a apuração, até porque, na atual conjuntura, ninguém votaria contra isso, e espero que a verdade seja revelada" José Carlos Araújo, deputado do PSD-BA, presidente do Conselho de Ética