O globo, n. 31085, 15/09/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro segue líder, e Haddad sobe

Miguel Caballero

Marco Grillo

15/09/2018

 

 

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, permanece na frente da corrida pelo Palácio do Planalto, agora com 26% das intenções de voto, segundo a pesquisa Datafolha divulgada ontem. O presidenciável, que segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e está há mais de uma semana sem fazer campanha, oscilou dois pontos para cima, dentro da margem de erro, na comparação com o levantamento divulgado no início da semana. Em segundo lugar, Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) estão empatados, ambos com 13% —o pedetista se manteve estável, enquanto o petista subiu quatro pontos percentuais, o único candidato a crescer além da margem de erro. A dupla está tecnicamente empatada, no limite da margem, com Geraldo Alckmin, que oscilou um ponto para baixo e aparece com 9%. Marina Silva (Rede) caiu três pontos e tem 8%, em empate técnico com o tucano.

A leitura das três pesquisas Datafolha divulgadas após o início da campanha eleitoral projeta perspectivas distintas para os candidatos do bloco da frente. Bolsonaro vem consolidando sua posição de liderança: na primeira pesquisa da série, divulgada no fim de agosto, a distância dele para a segunda colocada, então Marina, era de seis pontos percentuais (22% a 16%) — agora é de treze pontos para os dois adversários que vêm em seguida, Ciro e Haddad (26% a 13%). O petista, por sua vez, está em trajetória acelerada de ascensão e triplicou o desempenho em três semanas: tinha 4% em 22 de agosto, passou para 9% em 10 de setembro e agora tem 13%. Com a subida, alcançou Ciro, que iniciou a série com 10% e chegou a 13% no início da semana, mesmo patamar da sondagem veiculada ontem.

Já o desempenho de Marina caiu pela metade no período: começou com 16%, foi a 11% e chegou a 8%, saindo, pelo menos momentaneamente, da briga pela vaga em aberto no segundo turno. Alckmin não conseguiu avançar: passou de 9% para 10% e voltou a 9%.

Bolsonaro: alta rejeição

O cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG, vê favoritismo de Haddad contra Ciro para ser o representante da esquerda no segundo turno. E chama atenção para a dificuldade de Alckmin se apresentar como opção de voto útil antipetista se não começar a crescer: —O Haddad está crescendo dentro do eleitorado lulista e ainda há espaço para avançar nesse segmento. O Alckmin precisa crescer em São Paulo, seu estado e onde Bolsonaro está na frente. Se ele não crescer, seu próprio discurso pelo voto útil perde credibilidade, pois quem está caindo não recebe voto útil —analisa Ranulfo. O Datafolha também perguntou aos eleitores se o ataque a faca contra Bolsonaro, na semana passada, afetaria a decisão de voto: 98% disseram que não mudariam sua escolha por causa do episódio. Embora ainda esteja com um alto patamar de rejeição (44%, um ponto a mais que no levantamento anterior), Bolsonaro melhorou sua performance nas simulações de segundo turno. Ele ainda seria derrotado por Ciro (45% a 38%), mas reduziu a diferença de dez para sete pontos percentuais em relação à pesquisa anterior do Datafolha. Contra Alckmin (41% a 37%) e Marina (43% a 39%), Bolsonaro aparece quatro pontos atrás, o que significa empate técnico no limite da margem de erro. Ele diminuiu a desvantagem em cinco pontos no caso do tucano e em dois contra a candidata da Rede. Numericamente, Bolsonaro aparece um ponto à frente de Haddad (41% a 40%). Na pesquisa anterior, estava em igual vantagem (39% a 38%).

Ciro é o único a vencer em todas as simulações. Já Haddad, além do empate com Bolsonaro, é superado em todos os outros cenários.

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A direita ravosa contra um PT ressentido

Paulo Celso Pereira

15/09/2018

 

 

A tão falada polarização da eleição de 2014 poderá em breve ser vista como uma divergência de botequim se confirmado o cenário projetado pela pesquisa Datafolha divulgada ontem. Se mantido o crescimento vertiginoso de Fernando Haddad (PT), de um ponto percentual por dia, a tendência é que já na próxima semana ele figure isolado na segunda posição, se aproximando velozmente do patamar de Jair Bolsonaro (PSL). Assim, cresce significativamente a chance de a etapa final da disputa reunir o líder da direita raivosa e o representante de um PT profundamente ressentido. Bolsonaro conseguiu manter sua trajetória ascendente, no limite da margem de erro, mesmo trancafiado no leito de um hospital. A melhor informação da pesquisa para ele, no entanto, é o fato de figurar numericamente à frente de Haddad no segundo turno —um empate técnico de 41% a 40%. Isso o ajuda a combater o discurso de que sua liderança é um passaporte garantido para a volta do PT.

A provável polarização entre Bolsonaro e Haddad a partir da próxima semana só deixará um caminho para Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB): a busca radical do voto útil. Ciro manteve os mesmos 13% da pesquisa divulgada na segunda-feira, mas vê seu campo de crescimento pela esquerda se reduzir, uma vez que Haddad avança rapidamente sobre o eleitorado lulista. O caminho que sobra, portanto, é o de se apresentar como o único de seu campo capaz garantir a derrota de Bolsonaro no segundo turno. Alckmin, por outro lado, frustrou a expectativa criada com seu enorme tempo de TV e flutuou negativamente um ponto, dentro da margem de erro. O tucano não consegue conquistar votos nem na fortaleza bol-sonarista —onde 75% dos eleitores dizem que não mudarão mais de posição —nem entre os eleitores dos outros candidatos de seu campo político. Ainda assim, não lhe resta alternativa a não ser apresentar-se como o único de seu viés ideológico com condições claras de derrotar o PT.

Se a pesquisa é péssima para Alckmin, é trágica para Marina Silva. A ex-senadora, que nas duas últimas eleições terminou em honroso terceiro lugar, já figura numericamente na quinta posição e, mesmo levando em conta a margem de erro, se descolou de Haddad e Ciro.

São muitos os sinais de esfacelamento de sua candidatura: Marina caiu três pontos em apenas quatro dias; sua rejeição, que só era menor que a de Bolsonaro, flutuou positivamente um ponto; e sua situação piorou em todos os cenários de segundo turno, sendo numericamente ultrapassada por Alckmin e vendo sua vantagem para Bolsonaro cair para quatro pontos.