O globo, n. 31085, 15/09/2018. País, p. 7
Haddad: demonização do PT levou eleitor ao erro
15/09/2018
Em entrevista ao Jornal Nacional, candidato do partido à Presidência diz que legenda simbolizou os problemas do país enquanto PSDB e MDB eram apresentados como ‘santos’. Petista reconhece ‘falha’ na fiscalização da Petrobras
Ao Jornal Nacional, o candida todo PT, Fernand o Haddad ,re conheceu falhas de controle na Petrobras e disseque PT foi demonizado. Em sua primeira entrevista após ser oficializado candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad atribuiu ontem, no Jornal Nacional, sua derrota no primeiro turno das eleições de 2016, quando tentou se reeleger prefeito de São Paulo, ao desgaste do partido após a Operação Lava-Jato e o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
— O eleitor foi induzido ao erro em 2016. As informações que ele tinha eram que o PSDB era de santos, o PMDB era de santos, e o demônio do país virou o PT — disse ele.
O presidenciável do PT afirmou que o governo Dilma Rousseff foi sabotado por pautas-bomba do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aprovadas com o apoio do PSDB.
—Eu estou dizendo que as pautas-bomba e a sabotagem que ela sofreu, reconhecida pelo presidente do PSDB, tiveram mais influência na crise do que os eventuais erros cometidos antes de 2014 — disse Haddad, em referência à entrevista do ex-presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), ao jornal “O Estado de São Paulo”.
O petista reconheceu, no entanto, que houve falha nos mecanismos de controle da Petrobras, primeiro alvo da Lava-Jato. Haddad ressalvou, porém, que o esquema de desvio de dinheiro só foi descoberto graças ao fortalecimento, pelos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma, de instituições de combate à corrupção, como o Ministério Público. — Não estou dizendo que não houve falha na fiscalização da Petrobras. A administração pública avançou muito, as estatais ficaram mais desguarnecidas — disse ele, ao ser cobrado a fazer uma autocrítica. Haddad afirmou que a corrupção na Petrobras não começou nos governos petistas e vem desde a ditadura militar.
— Há dois governos possíveis. Um que fortalece as instituições que combatem a corrupção, Polícia Federal, Controladoria Geral da União, Ministério Público, Poder Judiciário, e governos que enfraquecem essas instituições. Na minha opinião, os governos do PT foram os que mais fortaleceram — disse ele. Denunciado por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa pelo Ministério Público de São Paulo, Haddad atribuiu a acusação, feita em delação premiada pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, à retaliação por ter suspendido uma obra com indícios de superfaturamento, e também à suposta perseguição do Ministério Público:
— Esses dois promotores estão sendo investigados pelo Conselho Nacional do Ministério Público por terem me denunciado faltando 30 dias para a eleição. Virou uma espécie de indústria partidária.
Indicações do STF
Haddad foi questionado sobre as acusações do PT de que haveria uma conspiração no Judiciário contra o partido, apesar de a maioria dos atuais ministros do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, terem sido indicados pelos presidentes Lula e Dilma.
—O que você testemunha aqui é que nunca partidarizamos o Judiciário. O presidente Lula nunca nomeou ministro do Supremo e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) pensando em como ia votar. Isso não significa que o Judiciário não possa errar. Nunca usei a palavra conspirar. O Judiciário tanto pode errar que os recursos são previstos na nossa Constituição. Se ele fosse infalível, bastava juiz de primeira instância. O ex-prefeito de São Paulo foi anunciado como candidato na última terça-feira em um ato na frente da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, onde Lula cumpre pena desde o dia 7 de abril por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi condenado no processo do tríplex no Guarujá (SP). O ex-prefeito foi oficializado como cabeça de chapa depois de o PT apresentar 17 recursos para manter a candidatura do ex-presidente, que foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
O principal desafio de Haddad é se tornar conhecido nessas três semanas até a eleição, sobretudo no Nordeste, tradicional reduto eleitoral de Lula.