O globo, n. 31085, 15/09/2018. Economia, p. 22

 

Níger, dono do pior IDH, tem mais mulheres no Parlamento que o Brasil

Marthe Beck

Manoel Ventura

Daiane Costa

Bárbara Nóbrega

15/09/2018

 

 

Segundo o Pnud, baixa representatividade política feminina contribui para a elevada desigualdade de gênero no país. Brasileiras estudam mais, porém ganham menos que homens

País com o menor IDH do mundo, o Níger tem, proporcionalmente, mais mulheres no parlamento do que o Brasil. Elas ocupam 17% das cadeiras lá, contra 11,3% aqui. A baixa participação política é um dos fatores que contribuem para o país ter elevada desigualdade de gênero, segundo estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Ele ainda mostra que as brasileiras têm mais anos de escolaridade do que os homens, mas menos desenvolvimento humano, porque recebem muito menos por sua força de trabalho. A renda das mulheres no país é 42,7% menor do que a dos homens. Pelo conceito de renda nacional bruta per capita, eles ganham US$ 17.566 por ano, enquanto elas ficam com US$ 10.073. Regina Madalozzo, coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero do Insper, avalia que, por trás dessa desigualdade, está a sobrecarga de tarefas domésticas das mulheres, que, historicamente, trabalham mais horas em casa do que os homens e, logo, têm mais dificuldades de investir na carreira:

— É muito comum, quando uma mulher ganha salário igual ao do homem em uma mesma função, ela ter uma formação muito superior. A mulher sempre tem de fazer mais esforço para atingir um mesmo patamar que os homens. Temos de exigir igualdade em todos os campos, inclusive em casa. Esse sistema que dá ao pai licença paternidade somente de até 20 dias e de até seis meses para a mãe deveria mudar, para o homem ter mais responsabilidades nas tarefas de cuidado.

Regina acredita também que, para mudar esse tipo de legislação, as mulheres precisam eleger mais mulheres para o parlamento.

Sem opção de creche

A participação feminina no parlamento brasileiro é a menor da América do Sul e a terceira pior da América Latina, perdendo apenas para Belize (11,1%) e Ilhas Marshall (9,1%). Na Noruega, maior IDH do mundo, as mulheres detêm 41,1% dos assentos. No Iêmen, apenas 0,5%. Um dos momentos no qual a desigualdade de gênero mais pesa na vida da mulher é na gravidez. Adriana Setubal atuava na área administrativo-financeira e descobriu que estava grávida sete dias depois do fim do aviso prévio. — Minhas maiores dificuldades no mercado de trabalho aconteceram depois de ficar grávida. Procurei emprego após ter tido filho, mas não consegui me recolocar porque as vagas ofereciam metade do salário que eu tinha antes, e isso não daria nem para pagar uma creche. Além disso, as creches públicas atendem em um horário menor que o comercial, e eu trabalhava até as 19h. Acabei optando por empreender na produção de doces — conta Adriana, que hoje administra o Dri Delícias enquanto cuida do seu filho. Segundo o Pnud, o Brasil é um dos países com alta desigualdade de gênero. É o 94º num ranking que inclui 160 nações. O país onde a situação entre homens e mulheres é mais equilibrada é a Suíça. O mais desigual é o Iêmen. Mais mulheres (61%) concluem o ensino fundamental do que homens (57,7%) no Brasil.

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Desemprego de jovens no Brasil é o maior da América do Sul em chega a 30%

15/09/2018

 

 

No Brasil, o desemprego da população jovem (de 15 a 24 anos) é de 30,5%, o maior entre os países da América do Sul. Ainda segundo o Pnud, 24,8% da população jovem (de 15 a 24 anos) no Brasil não trabalham nem estudam na rede de ensino formal. É o caso de Tiago Marques Damasceno, de 22 anos, que procura o primeiro emprego:

— No momento, estou dependendo dos meus pais para viver e faço curso de barbeiro para tentar ingressar no mercado de trabalho. Ele concluiu o ensino médio em escola pública, mora em Madureira com a namorada e ainda deseja cursar faculdade de Educação Física: — Mas, para isso, preciso passar no Enem ou conseguir um emprego para pagar as mensalidades.

Escolas desconectadas

A pesquisa da ONU também mapeou que a quantidade de alunos em sala de aula para cada professor do ensino fundamental é de 22 no Brasil. No Chile, esse número é de 18 e, no Uruguai, de 12. Já na Noruega, o país com melhor IDH, esse número é de apenas nove. A internet não chega nem à metade das escolas brasileiras: apenas 46% estão conectadas. Entre os 35 países com melhor IDH, a tecnologia está presente de 99% a 100% delas. Para Marcelo Neri, diretor do FGV Social, apesar das conquistas quantitativas, a educação avançou no país com baixa qualidade:

— Em 1990, tínhamos 16% das crianças de 7 a 14 anos fora da escola. Hoje, temos menos de 2%.