O Estado de São Paulo, n. 45617, 09/09/2018. Política, p. A8

 

'Estado' faz debate com pesidenciáveis

09/09/2018

 

 

Eleições 2018 Candidatos / Encontro será promovido hoje por TV Gazeta, ‘Estado’, Jovem Pan e Twitter; atentado contra Bolsonaro deve alterar estratégias de candidatos

Preparativos. Estúdio da TV Gazeta onde será realizado hoje o debate entre os candidatos à Presidência da República

O atentado contra Jair Bolsonaro (PSL) deverá mudar as estratégias dos demais candidatos para o terceiro debate entre os presidenciáveis, que será promovido hoje pela TV Gazeta, Estado, rádio Jovem Pan e Twitter. Realizado na sede da emissora, na Avenida Paulista, em São Paulo, o encontro terá início às 18 horas.

Líder nas pesquisas e internado no Hospital Albert Einstein, na zona sul da capital, Bolsonaro não vai participar do debate. O ataque sofrido pelo candidato pode fazer com que o tom hostil que vinha norteando a campanha seja deixado de lado. Os rivais devem evitar ataques diretos ao presidenciável do PSL e ser cautelosos ao abordar o episódio do atentado.

Participarão do debate Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Após ter confirmado presença, Cabo Daciolo (Patriota) anunciou que não comparecerá ao debate.

Fernando Haddad (PT) não vai participar do evento porque, oficialmente, ele ainda é candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, cujo registro foi indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na semana passada. O PT tem até terça-feira para trocar de candidato e, até o momento, Haddad é o nome mais provável para o lugar de Lula, condenado e preso na Lava Jato.

O encontro será mediado pela jornalista Maria Lydia Flandoli e terá cinco blocos. No primeiro, os candidatos terão de responder a perguntas de outros candidatos – todos deverão perguntar e todos deverão responder, em ordem definida previamente por sorteio. Além da pergunta, os candidatos terão direito a resposta, réplica e tréplica.

No segundo bloco, os candidatos vão responder a perguntas formuladas por jornalistas que, ao questionarem, indicarão outro candidato para comentar o mesmo tema da pergunta inicial. O terceiro bloco será igual ao primeiro, com alteração apenas na ordem de os candidatos fazerem perguntas.

O quarto bloco ficará reservado para as perguntas enviadas para os candidatos pelo Twitter sobre saúde, segurança, educação, corrupção e economia. Um jornalista fará o questionamento ao presidenciável, que terá de escolher um adversário para comentar sua resposta, antes de fazer sua tréplica. Na quinta e última parte, os candidatos deverão fazer as considerações finais – cada um terá 45 segundos para deixar sua última mensagem ao eleitor.

Estratégias. No debate, os candidatos ao Palácio do Planalto deverão optar por falar em união e pacificação do País, com discursos de que a violência não combina com o debate político e com a democracia.

Os participantes já trabalhavam com uma eventual ausência de Bolsonaro no debate. Após o atentado em Juiz de Fora (MG), as referências ao deputado e, principalmente, as críticas mais pesadas, deverão ser evitadas pelos adversários.

Devem se abrir duas oportunidades, segundo coordenadores e assessores de campanha ouvidos pelo Estado. A primeira é a de um debate mais focado em propostas. A outra é uma disputa entre Ciro Gomes e Marina pelo protagonismo no campo da centro-esquerda. Com discursos mais moderados, ambos têm tentado demonstrar as diferenças entre eles e o PT.

Ibope. A diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari, afimrou ao Estado que as intenções de voto de Bolsonaro estão consolidadas e que deverá ser muito difícil reverter esse cenário até o dia da eleição.

De acordo com dados da mais recente pesquisa Ibope, 77% das pessoas que declararam voto no candidato a presidente do PSL na pesquisa estimulada já tinham citado antes, de forma espontânea, o nome do capitão reformado. “É um fenômeno. É muito difícil reverter esse voto”, disse a diretora executiva do Ibope. “Mas não sabemos o que vai acontecer com as pessoas depois desse fato (o ataque à faca sofrido pelo presidenciável do PSL em Juiz de Fora na quinta-feira passada).”

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

Agressor é transferido para presídio em MS

09/09/2018

 

 

Zanone de Oliveira Jr. diz ter sido procurado por pessoa de Montes Claros (MG); outros 3 advogados atuam no caso

Remoção. Oliveira durante transferência para Campo Grande

O advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defende Adelio Bispo de Oliveira, autor do atentado a faca contra Jair Bolsonaro, afirmou ontem que foi contratado por uma pessoa do município de Montes Claros (MG) que pediu sigilo sobre sua identidade. O agressor vivia na cidade do Norte de Minas.

Segundo Zanone, até o momento foram pagos apenas os deslocamentos e custos da atuação da defesa em Juiz de Fora (MG), onde Bolsonaro foi esfaqueado por Oliveira.

Oliveira e familiares aparentemente não possuem recursos para arcar com o custo de advogados. Além de Zanone, a defesa de Oliveira é constituída por outros três advogados: Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa, Marcelo Manoel da Costa e Fernando Costa Oliveira Magalhães.

Eles representam escritórios em Belo Horizonte e região metropolitana, Barbacena (MG) e Lajeado (RS). “Um processo desse não é barato”, admitiu Zanone ao Estado. “Tem uma história que vão fazer uma vaquinha. Espero mesmo que façam. Mas a gente não está sendo financiado por igreja alguma”, disse o advogado.

Em Montes Claros, segundo as primeiras informações, Oliveira teria frequentado a Igreja do Evangelho Quadrangular na cidade mineira. O Estado não conseguiu contato ontem com algum representante da igreja.

Zanone já atuou em outros casos de repercussão nacional, como no assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes. Zanone defende o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, condenado pelo crime. Ele também fez a defesa de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado como um dos mandantes da missionária americana Dorothy Stang.

Ele disse que acredita ter sido contatado para atuar na defesa de Oliveira por ser especialista em casos de homicídio e dar aulas em uma universidade Montes Claros e cursos. Ele disse que o contrato prevê atuação somente na fase da investigação. “Não sei se é interesse nosso continuar”, afirmou. “Tem gente dizendo que fomos procurados pelo PT, por partidos políticos. Mas não tem nada disso. Agora, a gente receberia de qualquer um. Se o partido do Bolsonaro nos contratar, a gente defende. Não temos nada contra o Bolsonaro.”

A defesa já decidiu que vai pedir o “incidente de insanidade” do cliente. “Ele acredita que aquilo que fez foi para proteger as pessoas, a Nação de um facínora”, disse Fernando Magalhães. “Não vendemos fantasia. Vendemos serviço jurídico. Não tem condição de absolvê-lo.”

Transferência. Oliveira foi transferido na manhã de ontem para um presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por determinação da juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª. Vara Federal de Juiz de Fora. Indiciado na

Lei de Segurança Nacional, o agressor será julgado por um juiz de primeira instância e não por um tribunal do júri.

A análise de um computador e de quatro celulares apreendidos com Oliveira são as principais pistas da Polícia Federal para investigar a motivação e a possibilidade de outros envolvidos no atentado. Os equipamentos foram encontrados na pensão em que Oliveira estava, em Juiz de Fora. Ontem, a Justiça autorizou a quebra do sigilo dos aparelhos.

Uma das informações que os investigadores já levantaram sobre o histórico de Oliveira é a de que, nos últimos 15 anos, ele passou por 39 empresas distintas, com salários baixos. Isso chamou a atenção diante da apreensão dos quatro celulares e do computador.

 

Defesa

“Tem gente dizendo que fomos procurados pelo PT, por partidos políticos. Não tem nada disso.”

Zanone Manoel de Oliveira Jr.