O Estado de São Paulo, n. 45615, 07/09/2018. Política, p. A10

 

“Problema do governo Temer não são os ministros, é o presidente”

07/09/2018

 

 

 

 

Tucano. Durante sabatina Estadão-Faap, Alckmin diz ser favorável à liberação de armas na zona rural, mas que é contra a liberação nas áreas urbanas

Candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin afirmou ontem na série Estadão-Faap Sabatinas com os Presidenciáveis que o problema do governo federal é o presidente Michel Temer, não seus ministros. Sexto candidato a participar do evento, em São Paulo, o tucano comentou os vídeos postados por Temer em suas redes sociais para ressaltar que Alckmin está coligado com partidos que participam do atual governo e, por isso, não pode criticá-lo. “Ele está de mal comigo”, ironizou Alckmin. Na entrevista, o ex-governador paulista ainda prometeu combater o “corporativismo” e reforçou sua intenção de zerar o déficit público do País em até dois anos, caso eleito.

 

TEMER. Alckmin disse que o problema do governo Temer é o presidente, e não seus ministros. “Não votei no Temer. Era a chapa da Dilma. Houve impeachment. Temos responsabilidade com o Brasil. O PSDB foi o que mais votou pela reforma trabalhista, do ensino médio, naquilo que acreditamos. Eu disse que não deveríamos participar do governo, dando apoio parlamentar, mas sem participar. Não é um governo nosso. O problema do governo Temer não são os ministros, é o presidente, que não tem a liderança nem a legitimidade que precisa ter. E está de mal comigo.”

 

BOLSONARO. De manhã, antes do ataque ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o tucano classificou o adversário como um “passaporte” para a volta do PT ao poder. “Bolsonaro é uma candidatura limitada. Se o que ele fala é ofensivo, problema é dele. Pegamos o que ele acredita e pusemos para a população saber.”

 

ARMAS. Alckmin se posicionou a favor da liberação de armas na zona rural, mas disse ser contra a liberação na área urbana. “Disca 190 na cidade que a polícia está na sua porta. Na zona rural, não tem nem vizinho. Lá, defendo a posse e o porte de armas. Quem tem que enfrentar criminoso não é o cidadão comum, é a polícia.”

 

AÇÃO DO MP-SP. O tucano criticou a ação movida pelo promotor Ricardo Manuel Castro, do Ministério Público de São Paulo, que ajuizou anteontem uma ação de improbidade administrativa contra o ex-governador por indícios de que ele teria aceitado recursos da Odebrecht, por meio de caixa 2, para financiar sua campanha à reeleição, em 2014. “É estranho, a 30 dias da eleição, entrar com uma ação que o Ministério Público Federal e o Superior Tribunal de Justiça já disseram que não há nenhuma improbidade.”

 

CENTRÃO. “Nós vamos escolher os melhores quadros dos partidos que estão conosco”, disse Alckmin, em referência a PTB, PP, PR, DEM, SD, PPS, PRB e PSD. “O PPS, de esquerda, me apoia. Todo mundo queria aliança com esses partidos grandes. A gente controla a gula (por cargos). Se não fizermos reformas, o Brasil não vai mudar. E para ter reforma, tem que ter maioria.”

 

AÉCIO. Questionado sobre o senador Aécio Neves, candidato a deputado federal pelo PSDB em Minas, o candidato disse que a sociedade espera que denúncias sejam apuradas. “Se for culpado, paga pelo erro. Se não tiver nada, absolve e esclarece. Não dá para cometer injustiças. A lei vale para todo mundo. O que temos no Brasil é que todos os partidos estão fragilizados. Com a reforma, espero que possamos avançar.”

 

REFORMA POLÍTICA. Alckmin disse que a grande quantidade de partidos no País dificulta a governabilidade. “Nós temos hoje no Brasil 35 partidos. Isso é fruto de pauta da reforma política, de decisão equivocada do Judiciário. Quem derrubou a cláusula de barreira foi o Supremo. Criaram um monte de partido. As principais democracias têm dois, três partidos. Veja a dificuldade de governabilidade. Nossa primeira reforma será a política. Se não mudar, os problemas vão se repetir. É ingovernável. Defendo a reforma política tramitando junto com a reforma tributária.”

 

DÉFICIT PÚBLICO. “Não é mágica, é cortar gastos”, disse Alckmin, sobre a promessa de zerar o déficit público em dois anos. “Vamos reduzir ministérios, fundações, cargos, estatais. Faremos um enxugamento para valer. O déficit primário é 2% do PIB. O governo dá de incentivo 4% do PIB. Esses incentivos não se justificam.”

 

BANCOS PÚBLICOS. O candidato disse que vai buscar atrair a vinda de mais bancos para o Brasil, como incentivo à concorrência. “Precisamos ter mais bancos. Não tem competição. Tem meia dúzia de bancos. Tem um decreto que proíbe, que tem que ter autorização do presidente, para o banco estrangeiro entrar no Brasil. Vou revogar isso no primeiro dia. Quero mais bancos.”

 

REFORMA TRABALHISTA. Alckmin defendeu a reforma trabalhista, em vigor desde 2016, que, segundo ele, é positiva para acabar com o “corporativismo” no País. “Sou favorável. Defendo acabar com os cartórios. Temos que desregulamentar. A Alesp aprovou a lei Segunda sem Carne. O que tem que ver? Vetei a lei. Somos os maiores exportadores de carne do mundo. Vetei pelo precedente. Começa a segunda sem carne, terça sem café e sexta sem chope. É um cartório.”

 

VIOLÊNCIA POLICIAL. O tucano negou que a polícia no Estado de São Paulo seja violenta. Ele atribuiu mortes causadas por PMs a enfrentamentos durante abordagens e prometeu combater o tráfico e entrada de armas no País. “A polícia não é violenta. O que temos é muito armamento pesado entrando no Brasil. Não tem combate ao tráfico. Nós temos a polícia que mais prende. Toda vez que vai prender, tem enfrentamento.”

 

REPERCUSSÃO

“O Alckmin fala bem, mas sabemos que ele pode não cumprir as promessas, como fez no governo de São Paulo. E acho que ele usa a questão da mulher como estratégia midiática, que ele não acredita mesmo nisso.”

Luiza Jordão

ESTUDANTE

 

“O ponto da redução da máquina pública é interessante, e o Alckmin parece interessado nisso. Ele é um candidato em quem eu poderia votar, mas as propostas precisam ser mais claras.”

Victor Grinberg

PROFESSOR

 

“Ainda não tenho candidato, apenas muita dúvida. Mas não votaria no Alckmin. Acho estranha essa coligação dele e queria muito saber como ele vai dar conta de todos esses partidos pedindo cargos.”

Evandro Campos​, REPRESENTANTE COMERCIAL

 

“Não votaria no Alckmin, acho ele bem contraditório, como na questão do desarmamento, e que esse otimismo dele atrapalha. Ficou faltando esclarecer o jogo político dele em relação ao Centrão.”

Bruno Brandão​, ESTUDANTE

 

“Decidi que vou votar no Alckmin faz tempo. Ele teve muitas experiências bem-sucedidas quando foi governador de São Paulo, e espero que ele possa exportar isso para o resto do Brasil.”

Elisabete França​, PROFESSORA