O Estado de São Paulo, n. 45615, 07/09/2018. Economia, p. B2

 

Petrobrás poderá segurar preço da gasolina por 15 dias

Fernanda Nunes e Denise Luna

07/09/2018

 

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

Com mudança na política de reajustes, estatal deixa de fazer revisões diárias; Guardia elogia medida e diz que não houve interferência

A Petrobrás anunciou nova mudança na periodicidade de reajuste da gasolina, dessa vez, com mais apelo popular. Essa é a terceira alteração em menos de dois anos. Em outubro de 2016, os preços passaram a ser revisados mensalmente nas refinarias; em julho de 2017, diariamente e, desde ontem, a empresa adota ferramentas financeiras que vão permitir segurar o preço por até 15 dias. Para evitar prejuízos, a petroleira vai recorrer a instrumentos financeiros de proteção: a compra de derivativos de gasolina na Bolsa de Nova York e o hedge cambial no Brasil.

Com os derivativos, a empresa se protege de oscilações de preços do combustível enquanto mantém os seus próprios preços inalterados. Assim, ainda que perca dinheiro por alguns dias por não reajustar a gasolina enquanto a commodity sobe no mercado externo, ganha com os derivativos na mesma proporção. No final das contas, o saldo entre perdas e ganhos é nulo, e o cliente é beneficiado por não ter que lidar com as variações diárias do preço.

“Devido aos volumes desse mercado, o máximo que a gente consegue ter de eficiência financeira é em períodos de até 15 dias (de manutenção do preço). Não será a cada 15 dias (que os reajustes vão acontecer). Serão períodos que vão variar”, afirmou o diretor Financeiro da estatal, Rafael Grisolia.

Ontem, a estatal também informou o preço da gasolina que passará a valer hoje, de R$ 2,20 por litro, o mesmo dos dois últimos dias, o que significa estabilidade de pelo menos três dias.

As mudanças não vão interferir, porém, no tamanho dos reajustes que a Petrobrás vai aplicar daqui para frente. As altas da commodity no mercado internacional continuarão sendo repassadas aos clientes. Só mudam os prazos. “O que essa ferramenta está tirando é a volatilidade. O delta (de variação de preço) ao final dos períodos se mantém”, disse o diretor de Refino e Gás Natural, Jorge Celestino. Portanto, o consumidor continuará pagando nos postos um valor equivalente ao cobrado no mercado internacional, mas vai sentir menos esse repasse, porque só vai acontecer de tempos em tempos, dentro de um limite de 15 dias. A política de paridade internacional está mantida, diz a Petrobrás.

As revisões frequentes dos preços da Petrobrás motivaram a paralisação dos caminhoneiros no fim de maio deste ano. Em meio aos desgastes políticos da greve, o então presidente da estatal, Pedro Parente, pediu demissão e foi substituído pelo diretor Financeiro, Ivan Monteiro, que hoje dirige a companhia.

Questionados se a utilização das novas ferramentas financeiras está relacionada à proximidade das eleições e aos rumores de nova paralisação dos caminhoneiros, os diretores da estatal afirmaram que a medida já vinha sendo analisada.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, avaliou a mudança como positiva e disse que que a decisão foi exclusiva da empresa, com “zero” interferência do governo. “É uma decisão exclusiva da Petrobrás com base em critérios técnicos aprovados pela governança da empresa.” Ele disse que foi informado da decisão na manhã de ontem pelo presidente da Petrobrás.

A pesquisadora da FGV Fernanda Delgado avalia que não faz sentido uma empresa monopolista fazer hedge. “Quando você controla preço, seja do jeito que for, não traz competitividade para o mercado. Isso desconstrói a confiança dos investidores, porque a qualquer problema o governo vem e interfere.” 

 

PONTOS-CHAVE

Como fica a política de preços da estatal

Mudanças

É a terceira vez em menos de dois anos que a Petrobrás muda sua política de preços: em 2016, revisão era mensal; em 2017, diária; e agora a cada 15 dias

 

Disputa

Os concorrentes da estatal aproveitavam que os preços eram mantidos inalterados por um mês para oferecer o produto mais barato

 

US$ 67,77​ foi o fechamento ontem da cotação do barril de petróleo leve negociado para outubro na Bolsa de Nova York, queda de 1,38%

 

Blindagem

Para se proteger das oscilações de preços, a estatal vai recorrer a instrumentos financeiros como a compra de derivativos na Bolsa de NY