Título: Fuga de dólares é a maior desde 2008
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2012, Economia, p. 13

Tomados pelo medo de que a crise na Europa piore e contamine o restante do mundo, os investidores têm deixado o Brasil em troca de portos considerados mais seguros, como os títulos do tesouro norte-americano ou ouro. Apenas em maio, a diferença entre todo o capital que entrou no país e saiu deixou um saldo negativo US$ 2,6 bilhões, o pior desempenho do ano. No mercado financeiro, a fuga de capitais somou US$ 6,3 bilhões, a maior saída desde novembro de 2008, auge da crise desencadeada pela quebra do Banco Lehman Brothers, quando US$ 10,2 bilhões deixaram o Brasil.

Com toda essa saída, o dólar segue em tendência de alta, só ontem subiu 0,50% frente ao real, cotado a R$ 2,027. O movimento, porém, não foi acompanhado fora do país. O iene, a divisa japonesa, teve valorização de 0,54% e o euro de 0,36% em relação ao dólar norte-americano, num dia em que até o dólar australiano subiu 2%. "Há uma disfuncionalidade, que o Banco Central deve corrigir caso ela perdure. A autoridade monetária já deixou claro que não quer que o real se descole do movimento do restante do mundo e que vai intervir sempre que identificar essa falta de sintonia", observou Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez.

Esse movimento de alta da moeda norte-americana no Brasil ocorre ao mesmo tempo em que os bancos, que têm capacidade de influenciar fortemente a cotação da divisa, reduzem suas apostas na elevação do dólar — caiu de US$ 10,2 bilhões em fevereiro deste ano para US$ 2,6 bilhões em maio. "O fluxo deve se manter negativo nos próximos meses, tanto no comercial quanto no financeiro", diz Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora de Câmbio.

"No nosso entendimento o governo está conduzindo a administração do preço do dólar até onde lhe é possível", argumentou Nehme. Ainda segundo o economista, o objetivo do governo garantindo o dólar próximo de R$ 2 é estimular o setor industrial brasileiro exportador, mas apenas até o limite que não gere pressões inflacionárias. "No mais, o que se vê no cenário internacional é baixíssimo risco de melhora, continuando a tendência da caminhada para o pior", avaliou Nehme. Ainda assim, ele pondera que o cenário deve intercalar momentos de esperança, com elevação de liquidez, com correções severas desses excessos.

Para os turistas brasileiros, o exterior continua caro. Ontem, o dólar turismo até cedeu e registrou queda de 0,46% na venda, porém, fechou o dia ainda em patamar considerado elevado, em R$ 2,15. Especialistas garantem que a tendência de elevação da moeda norte-americana é duradoura, ao menos enquanto a crise na Europa ameaçar piora e a recuperação da economia dos Estados Unidos patinar.

Alívio na Bovespa O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou ontem a maior alta em mais de duas semanas, beneficiado pelo otimismo dos mercados externos com as crescentes apostas de que autoridades europeias e norte-americanas anunciem em breve novas medidas de estímulo econômico na Zona do Euro. O Ibovespa subiu 3,19%, a 54.156 pontos. Foi o maior avanço diário desde 21 de maio, quando o índice subiu 3,8%. O giro financeiro do pregão foi de R$ 7,02 bilhões.