Título: Oposição denuncia mais um massacre
Autor: de Luna, Thais
Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2012, Mundo, p. 17

A oposição síria acusou ontem o regime do presidente Bashar Al-Assad de promover um novo massacre de civis, com ao menos 86 mortos, inclusive mulheres e crianças, nas proximidades da cidade de Hama, cerca de duas semanas após mais de 100 civis terem sido executados em Houla. A denúncia foi feita horas depois de os Estados Unidos ter defendido a aprovação, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma resolução condenando o governo de Damasco com base no Capítulo 7 da Carta da ONU — cujo texto prevê o uso da força, caso necessário, para garantir o cumprimento das decisões.

"Temos até 100 mortos nas aldeias de Al-Koubeir e Maarzaf", afirmou o porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS), Mohamed Sermini. Ele acusou as forças do regime pela chacina e pediu que observadores internacionais visitem o local. Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), confirmou a morte de 86 pessoas, mas alertou que os números poderiam aumentar e se absteve de apontar um responsável. "O certo é que dezenas de pessoas morreram, incluindo mulheres e crianças", disse Rahman. As aldeias teriam sido bombardeadas e, em seguida, milicianos teriam invadido as localidades e assassinado os moradores com tiros e armas brancas. O episódio é o mais sério denunciado pela oposição síria desde 25 de maio, quando 108 pessoas, incluindo 49 crianças, foram assassinadas em Houla. Investigações preliminares apontaram envolvimento de milicianos shabbiha , pró-regime.

Pressão na ONU Horas antes da denúncia do CNS, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, aproveitou uma reunião dos Países Amigos do Povo Sírio, em Washington, e convocou "todos os países responsáveis" a adotarem "ações apropriadas" contra o regime sírio, "principalmente no âmbito do Capítulo 7(da Carta das Nações Unidas), como pediu a Liga Árabe no fim de semana passado". O Conselho de Segurança da ONU reúne-se hoje, mais uma vez, para examinar a crise na Síria. Geithner argumentou que o regime de Al-Assad não deu sinais de que buscaria a conciliação com os opositores. A Liga Árabe destacou que não quer "ação militar alguma", apenas um meio de pressionar o governo sírio a pôr fim à violência, que já causou 13,4 mil mortes em pouco mais de um ano.

Para Nikolaos Zahariadis, especialista em Oriente Médio da Universidade do Alabama (EUA), uma resposta mais intensa às tragédias na Síria não parece viável no momento. "Primeiramente, porque este é um ano de eleição presidencial nos EUA, então o presidente (Barack) Obama deve agir com cautela, já que intervenções podem levantar mais questionamentos do que trazer votos", disse Zahariadis ao Correio. "Vai ser difícil, no momento, conseguir apoio para isso na ONU", completou. Rússia e China reforçaram que se opõem a uma ação militar e à mudança de regime. Moscou pediu uma reunião para analisar o plano de paz do emissário Kofi Annan— que deve propor hoje a formação de uma equipe das potências para convencer Damasco a dialogar com a oposição. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, defendeu ontem uma transferência completa de poder na Síria.