O globo, n. 31083, 13/09/2018. País, p. 4

 

A tática do 2º pelotão

Bruno Góes

Cristiane Jungblut

Dimitrius Dantas

Maria Lima

Sérgio Roxo

Marco Grillo

13/09/2018

 

 

 Recorte capturado

Empatados, 4 candidatos refazem estratégias

Com a saída formal do expresidente Lula (PT) da campanha e o distanciamento de Jair Bolsonaro (PSL), no primeiro lugar das pesquisas, um bloco de quatro candidatos está empatado na segunda posição. Na tentativa de se desgrudar desse pelotão, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) reavaliaram as estratégias com o objetivo de conter a potencial ascensão de Fernando Haddad (PT), herdeiro natural dos votos de Lula, a quem sucedeu na eleição.

A pesquisa Ibope divulgada esta semana mostra que 38% dos eleitores admitem votar em Haddad com a indicação do ex-presidente — 23% dizem que “com certeza” farão a opção, enquanto 15% afirmam que “poderiam” apoiar o candidato petista. No Nordeste, a soma chega a 52%.

Para impedir a transferência de votos, adversários de Haddad, que aparece com 8% no cenário geral do Ibope, criaram novas estratégias: de críticas a polarizações entre adversários a escolhas a dedo sobre qual concorrente deve ser atacado.

Lupi: "Seremos rapadura"

Além de direcionar seus esforços no Nordeste para tentar tirar de Haddad o maior número possível de votos lulistas, o que já estava fazendo, Ciro aposta na rivalidade entre PT e PSDB. Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, para conseguir uma vaga no segundo turno, Ciro atacará a polarização entre as siglas que comandaram o Brasil de 1995 até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O Sudeste, onde a rejeição ao PT é forte, também receberá a atenção especial de Ciro.

— Não seremos coxinha nem mortadela. Seremos rapadura. Duro, porém doce — afirma Lupi.

Além disso, como o pedetista já tem um desempenho favorável junto ao eleitorado nordestino (lidera com 18%, segundo o Ibope), “não será fácil” para Haddad crescer, diz Lupi. A campanha vê uma oportunidade no enfraquecimento da candidatura de Marina, registrado nas pesquisas.

Na campanha da candidata da Rede, o mote será concentrar as atenções no eleitorado feminino, nordestino e de baixa renda. A avaliação é que esse universo concentra a maior chance de a candidata reverter a queda registrada nas últimas sondagens. Além disso, depois de uma série de eventos fechados, como debates e sabatinas, o comando da campanha avisou que Marina precisa estar mais presente nas ruas, em eventos que a coloquem lado a lado com o eleitor, sobretudo no Norte e Nordeste.

— De 27 dias de campanha, Marina passou só cinco em cidades do Norte e do Nordeste —lembrou um interlocutor da Rede.

Voto antipetista

Abus capelo eleitor de Lula, no entanto, esbarra nas próprias críticas que a candidata tem feito ao PT. Na sabatina organizada pelo GLOBO, ela afirmou que Haddad “terá de explicar à sociedade o que aconteceu no Brasil, que era o país do pleno emprego e agora tem 13 milhões de desempregados”.

Já o PT deve continuar investindo nas regiões onde Lula tem maior popularidade. Uma das agendas previstas é uma ida ao interior da Bahia neste fim de semana. Haddad e sua campanha também já definiram que, por ora, não responderão a ataques de Ciro, Marina e Alckmin. Em um eventual segundo turno contra Jair Bolso n aro( PSL),opet ista tentaria angariar o apo iodos três.

— O potencial de crescimento do Haddad existe, mas vai depender da comunicação da campanha, levando em consideração o tempo que falta até o primeiro turno — avalia a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari.

A campanha de Alckmin, por sua vez, não briga pelo espóliode Lula e seguirá pelo caminho oposto: o tuca novai reforçar o discurso do voto útil, na tentativa de encarnar afigurado anti petista, hoje mais associada a Bolsonaro. Alckmin adotou o mantra de que o adversário do PSL é um “passaporte para a volta do PT”. O tucano também criticou o fato de o candidato petista ter sido anunciado “em frente a uma penitenciária”, em alusão ao ato que oficializou Haddad. Alckmin ainda incluiu Marina e Ciro nas críticas ao lembrar que os dois foram ministros de Lula.

Os programas eleitorais do PSDB voltarão a ter um tom mais crítico em relação aos seus adversários a partir deste fim de semana. Em uma das conversas durante as reuniões de emergência organizadas em São Paulo, Alckmin ouviu de aliados que não dava para continuar apostando em programas sobre suas propostas e ou sobre a sua biografia.

—A linha é dizer que, se vota no Bolsonaro, vai eleger o PT. E, no caso do outro campo, estamos mostrando que todos são sócios do PT —disse um dirigente da campanha.

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Aliados de Bolsonaro divergem sobre substituição nos debates

Marco Grillo

Eduardo Bresciani

Jussara Soares

13/09/2018

 

 

General Mourão, vice do candidato, quer participar de programas na TV

A decisão do PRTB de fazer uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a possibilidade de o general da reserva Antônio Hamilton Mourão substituir Jair Bolsonaro em debates na televisão ampliou a divisão na campanha do PSL. O movimento irritou a cúpula da sigla e um dos filhos do presidenciável, Flávio, afirmou que qualquer atitude sobre esse tema precisa passar pelo candidato, que está hospitalizado em São Paulo após ter sofrido um atentado há uma semana em Juiz de Fora (MG).

— O momento é de ter calma, não pode se afobar. Meu pai está se recuperando ainda. A prioridade é essa. É uma decisão (sobre o debate) que cabe exclusivamente a ele (Bolsonaro). Qualquer decisão importante como essa tem que passar pelo Jair. Ele é o capitão e todos nós temos que seguir. Se ele entender que vai o Mourão, vai o Mourão; se entender que eu vou, eu vou; se ele entender que ninguém vai, ninguém vai. Mas não é o momento disso ainda — disse Flávio ao GLOBO.

Presidente do PSL e principal articulador da campanha de Bolsonaro, Gustavo Bebianno também rechaçou essa hipótese e criticou a sigla alidada. Para ele, o PRTB não tem legitimidade para consultar o TSE sobre esse assunto.

— Quem dá a palavra final chama-se Jair Bolsonaro, afinal de contas está vivo e é o nosso chefe, nosso líder. O PRTB não tem legitimidade jurídica para fazer esse questionamento — disse Bebianno ao GLOBO.

Mesmo diante da resistência do PSL e outros políticos ligados a Bolsonaro, o presidente do PRTB, Levy Fidelix, e Mourão insistem no tema. Em nota, o partido do vice reiterou que fará a consulta sobre a tese ao TSE e que já deu procuração para os advogados da chapa fazerem o pedido de forma específica. Fez apenas uma ressalva de que a decisão efetiva sobre a participação ou não ocorrerá de forma conjunta entre as siglas.

Militares x Políticos

Desde o atentado, o debate sobre qual o papel de Mourão vem dividindo os apoiadores de Bolsonaro. Um núcleo formado majoritariamente por militares entende que o vice deve ter um protagonismo diante da impossibilidade física do candidato. Os políticos, porém, entendem que a aposta deve ser em vídeos de Bolsonaro nas redes sociais e na presença dos filhos, Flávio e Eduardo, em eventos por Rio e São Paulo, onde disputam as eleições.