Título: Dadá,o primeiro a deixar a cadeia
Autor: Valadares, João; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2012, Política, p. 2

O guardião dos segredos mais sujos da "caixa preta" do esquema de Carlinhos Cachoeira, o sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ganhou liberdade ontem à noite após 96 dias preso no VI Comando Aéreo Regional (Comar). Principal espião da quadrilha do bicheiro, o homem que grampeou a República foi beneficiado por habeas corpus concedido, na tarde de ontem, pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, composta por três desembargadores.

A decisão que colocou na rua um dos integrantes mais próximos do contraventor foi unânime e levou em conta o fato de o sargento reformado da Aeronáutica não representar ameaça a ordem pública, conforme destacou o desembargador federal Fernando Tourinho Neto. O magistrado alegou que não havia razões para que o suspeito continuasse preso preventivamente.

O colegiado fixou, porém, que Dadá não poderá manter contato com nenhum outro denunciado da Operação Monte Carlo e deve comunicar à Justiça sobre qualquer deslocamento.

Apontado pelos investigadores da Polícia Federal como um dos protagonistas da Operação Monte Carlo, Dadá apareceu nacionalmente em 2008, na Operação Satiagraha, responsável pela investigação do banqueiro Daniel Dantas. O sargento reformado era acusado de levantar informações de maneira ilegal para o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Na sessão de ontem, o TRF também negou petição do Ministério Público que pedia a transferência do bicheiro Carlinhos Cachoeira do presídio da Papuda para a penitenciária federal de segurança máxima de Mossoró (RN), onde ele ficou detido de 29 de fevereiro a 17 de abril.

Lençol O ex-sargento, que continua respondendo a processo administrativo na Aeronáutica, deixou a prisão às 21h18. Antes de ganhar a liberdade, passou por um exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal, onde chegou em um camburão militar, deitado no banco traseiro e estava coberto com um lençol. Às 22h10, deixou o IML em uma Hyundai Azera azul, acompanhado do advogado, Leonardo Gagno. O defensor informou que o espião iria para o apartamento onde mora, na Asa Norte. Gagno destacou que a Justiça não determinou a entrega do passaporte. "Mas se ele fizer alguma viagem, terá que informar." O advogado alegou que a baixa movimentação bancária de Dadá foi um critério decisivo na conquista do habeas corpus.

"Foi detectada remuneração de R$ 5 mil. É um valor pequeno.

Idalberto é um profissional da informação." O advogado negou que o seu cliente recebesse dinheiro da Delta por meio da ONG Anjos do Handebol, entidade que seria patrocinada pela empreiteira de acordo com as investigações. Ele também afirmou que não houve acordo de delação premiada: "Nunca houve proposta séria."

Delta vai à Justiça

A construtora Delta entrou ontem na Justiça do Rio de Janeiro com pedido de recuperação judicial. O processo é uma tentativa de a empresa repactuar judicialmente as dívidas. Com o pedido de recuperação judicial—na prática, uma medida legal voltada para evitar a declaração de falência—, a construtora apresenta a seus credores uma proposta para o pagamento dos débitos pendentes, muitas vezes com o alongamento do prazo de pagamento e com a possibilidade de redução do montante. A proposta precisa ser aprovada por uma assembleia de credores e a negociação é acompanhada pela Justiça. “A situação financeira da Delta tornou-se insustentável”, diz a construtora em nota, alegando que está sofrendo uma espécie de “bullying empresarial”. Ontem, o Supremo negou o pedido para suspender a quebra de sigilo decidida pela CPI.(KKaarlaa Correiaa)