Título: Briga no PT deixa traumas
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2012, Política, p. 6

A Executiva Nacional do PT que deve homologar hoje a candidatura do senador Humberto Costa à prefeitura de Recife—encerrando as pretensões do atual prefeito, João da Costa, de concorrer à reeleição —levará pelo menos um mês para reconstruir o partido na capital pernambucana. Enquanto os integrantes da Direção Nacional estavam reunidos em São Paulo, uma vigília a favor de João da Costa foi montada em frente ao diretório municipal do PT de Pernambuco.

"Os achincalhados fomos nós e um prefeito em pleno exercício do cargo", reclamou a deputada estadual Teresa Leitão, aliada de João da Costa.

Na sede do PT em São Paulo, a sensação de que não existe alternativa a não ser confirmar a candidatura de Humberto Costa não esconde o constrangimento que a decisão causará. "Qualquer resultado que acontecer amanhã (hoje) deixará sequelas.

Já não há mais solução, agora é administrar os danos", disse um interlocutor da direção nacional.

Não confirmar Humberto Costa, na visão de integrantes da Executiva Nacional, seria tirar a autoridade do presidente nacional do PT, Rui Falcão. Ele convocou o atual prefeito, João da Costa e o secretário de governo de Pernambuco, Maurício Rands, para buscar um entendimento. Rands abriu mão da disputa, João da Costa, não. Se os integrantes da Executiva não aprovarem o nome do senador estariam "premiando alguém que descumpriu um pedido de uma instância decisória do partido", avaliam aliados do senador.

Além disso, ele contaria com uma vantagem numérica na Executiva— estima-se que pelo menos 11 dos 21 integrantes apoiam Humberto Costa. "Não estamos diante de uma questão numérica, estamos diante de uma questão política complexa", disse Teresa.

Se a decisão for contrária ao prefeito, serão quatro derrotas em sequência, segundo a deputada.

"Ele teria direito natural à reeleição. Impediram, marcaram as prévias e nós ganhamos. Anularam e convocaram uma nova.

Rands desistiu, nós continuamos, mas afirmaram que o nome do prefeito teria de ser homologado pela direção. Agora, arrumam um outro nome e nos atropelam de novo", protestou.

Aliados do senador estão preocupados com esse processo de reconstrução do partido. Por controlar o Orçamento Participativo, eles sabem que João da Costa tem ao seu lado os líderes comunitários recifenses. Além disso, Humberto Costa terá de dividir as tarefas partidárias com a difícil missão de aprovar em plenário o processo de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Para completar, partidários do atual prefeito destacam a vitimização do atual administrador de Recife. "O recifense sabe que João está sendo massacrado", disse Teresa.

Fortaleza

No fim de semana, a direção nacional do PT teve que acatar a decisão do diretório municipal de Fortaleza, que homologou a pré-candidatura do secretário municipal de Educação, Elmano de Freitas, para suceder Luizianne Lins.O nome não agrada o atual governador, Cid Gomes, o que pode dificultar uma dobradinha com o PSB. "Fortaleza é mais simples porque ajeitamos a casa e precisamos acertar com o vizinho. Em Recife, a confusão é entre nós próprios", definiu um dirigente do PT.