O globo, n. 31077, 07/09/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro esfaqueado

07/09/2018

 

 

 Recorte capturado

Candidato sofre atentado em Minas durante agenda de campanha e está em estado grave

O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas, sofreu um atentado a faca ontem, enquanto fazia campanha em Juiz de Fora (MG). Eram 15h30m quando um homem se infiltrou entre os apoiadores e golpeou o abdômen de Bolsonaro, que era carregado nos ombros por seus eleitores. Ele gritou, levou as mãos ao ferimento e caiu para trás. Levado para a Santa Casa da cidade, chegou ao hospital correndo risco de morrer. Os médicos constataram que o candidato tinha lesões graves, que provocaram forte hemorragia. Bolsonaro foi operado de emergência e levado para a UTI. Seu estado de saúde ontem à noite era estável, mas grave, e estava prevista transferência para São Paulo. O agressor, Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, preso em flagrante, disse à polícia que agiu por conta própria. Todos os presidenciáveis repudiaram o atentado. Os presidentes dos três Poderes pediram investigação rápida. O presidente Michel Temer disse que o crime é “intolerável, triste e lamentável”. A cena era comum nas agendas de Jair Bolsonaro: uma rua cheia de eleitores, celulares apontados em busca de selfies e o candidato a presidente do PSL erguido em destaque sobre os ombros de um apoiador, acenando e sorrindo.

Às 15h30m de ontem, a caminhada do líder nas pesquisas tomou um rumo inesperado.

Bolsonaro foi esfaqueado na Rua Halfeld, centro comercial de Juiz de Fora (MG). Um homem se infiltrou entre os eleitores e golpeou violentamente o excapitão. A mudança repentina no semblante do candidato não deixava dúvidas da gravidade do que havia acabado de acontecer.

Após ficar deitado no chão de uma padaria minutos depois do ataque, o candidato foi levado em um carro para a Santa Casa da cidade, onde foi operado. Nos exames, foram constatadas lesões graves nos intestinos grosso e delgado e na veia mesentérica, responsável por irrigar o sistema digestivo. Os ferimentos foram tratados em uma cirurgia de emergência que durou quatro horas. Quatro bolsas de sangue precisaram ser usadas.

Até o fim da noite de ontem, o estado de saúde de Bolsonaro era considerado grave, mas estável pela equipe médica. Não há previsão de um prazo para a recuperação do candidato, que está na unidade de terapia intensiva.

O autor do ataque foi Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, preso em flagrante. Segundo a Polícia Militar, o homem, natural de Montes Claros (MG), confessou o crime. À Polícia Civil, ele disse que teve “motivos pessoais”. Em outro momento, falou que decidiu atacar Bolsonaro “a mando de Deus”.

Nas redes sociais, Adélio é um crítico recorrente de Jair Bolsonaro. “Dá nojo só de ouvir que (sic) dizer que a ditadura deveria ter matado pelos (sic) uns 30 mil comunistas”, escreveu, em 1º de agosto. Desde 2011, Adélio passou por 14 empregos. Foi funcionário de construtora, supermercado, telemarketing, hotel e um restaurante japonês, sua última ocupação, em Florianópolis (SC).

Adélio Bispo de Oliveira já tinha sido autuado na polícia em 2013, por lesão corporal. Uma sobrinha contou que ele evitava contato com a família há alguns anos. Em julho, treinou tiro num clube do qual dois filhos de Jair Bolsonaro são sócios, em Florianópolis.

O deputado estava cercado por uma equipe de segurança com aproximadamente 20 pessoas. Cinco delas eram agentes da Polícia Federal, parte da proteção a que tem direito por concorrer à Presidência da República. Também havia cerca de 15 voluntários.

O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, que acompanhava Bolsonaro durante a caminhada em Juiz de Fora, divulgou nota sobre o ataque: “Há muito sabemos que enfrentamos inimigos ardilosos, incapazes de conviver com o contraditório, avessos à real democracia. Sabíamos que havia riscos. Porém, mais impactante que as ameaças é a esperança que nos impulsiona”.

Todos os 12 candidatos à Presidência da República que disputam as eleições com Bolsonaro repudiaram o atentado em declarações públicas.

Os presidentes dos três Poderes também reagiram ontem ao atentado. O presidente Michel Temer afirmou que o crime é “intolerável, triste e lamentável”. A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, manifestou “enorme preocupação” e cobrou uma investigação rápida. Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) classificou o crime como “lamentável e repugnante”.