O globo, n. 31077, 07/09/2018. País, p. 6

 

A dez metros de distância, a expressão de muita dor

Marco Grillo

07/09/2018

 

 

Repórter do GLOBO relata que nem equipe de seguranças conseguiu evitar ataque, que causou correria e revolta

Para dar cada passo, o líder nas pesquisas de intenção de voto precisava que os seguranças afastassem eleitores ansiosos por uma selfie — alguns, mais desajeitados, praticamente se penduravam no pescoço do candidato. Em uma via bastante movimentada como a rua Halfeld —importante centro comercial, no centro de Juiz de Fora —a operação ficava ainda mais complexa. Para tornar a movimentação possível, Jair Bolsonaro (PSL) contava com os agentes da Polícia Federal, direito que tem por concorrer à Presidência, e seguranças voluntários —vestidos de preto, alguns se comunicam por rádio, e são mais contundentes na hora de afastar quem não deveria estar perto. A barreira, no entanto, não foi suficiente para evitar o ataque. Bolsonaro também não estava usando colete à prova de balas no momento do ataque. Desde o início da campanha, o deputado vinha usando o equipamento de proteção em algumas ocasiões.

Muitos jovens participavam da caminhada, que durou menos de uma hora e terminou em correria. O ponto de encontro para o ato foi a Câmara Municipal, de onde Bolsonaro já saiu carregado nos ombros de seus apoiadores, aos gritos de “mito” e “o capitão voltou”.

Às 15h30, o clima mudou. O golpe atingiu o lado direito, perto do tórax, e a expressão imediata de dor de Bolsonaro deixava pouca margem para dúvidas de que se tratava de algo sério. Um dos policiais que o acompanham tentou alcançar o agressor; outro agente, ao ser perguntado, disse que havia sido uma facada, versão que foi confirmada pela Polícia Militar depois. Presidente do PSL em Minas, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio caminhava de um lado para o outro sem saber ao certo o que fazer.

Eu caminhava de costas, um pouco à frente dessa comitiva de apoiadores e seguranças. Acho que estava a uma distância de uns 10 metros do candidato, quando, de repente, vi que ele fez uma cara de quem sentia muita dor e levou a mão para perto da costela, do lado direito. A equipe da comitiva também percebeu que algo de errado havia acontecido e imediatamente o retirou dos ombros de seus apoiadores. Os policiais já tinham colocado uma toalha em cima de sua barriga.

O ambiente se tornou uma intensa correria. As pessoas ao redor começaram a chamar ambulâncias e um carro da escolta da Polícia Federal entrou na contramão para buscá-lo. Bolsonaro foi retirado rapidamente do local e levado para uma padaria ao lado de onde estava. No chão, ainda expressando dor e sem falar nada, ganhou um pedaço de pano, colocado imediatamente no local da lesão. Pouco depois, um dos carros que levam os policiais federais que fazem sua escolta surgiu e tirou Bolsonaro do local. Uma das organizadoras da agenda do presidenciável na cidade chorava ao telefone.

Enquanto Bolsonaro aguardava ajuda, seu agressor recebia socos de apoiadores revoltados com o ataque. O candidato faria um comício à noite. Até o início da madrugada de ontem, uma equipe médica do Hospital Sírio Libanês era esperada no hospital onde o presidenciável estava internado para discutir a transferência para São Paulo.

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Nas redes, número de menções subiu 2.500%

Igor Mello

07/09/2018

 

 

O atentado contra o deputado Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, teve grande repercussão nas redes sociais. Um levantamento da FGV DAPP mostra que o episódio fez as menções ao deputado federal crescerem 2.500% no Twitter, em comparação à hora anterior ao ataque. No total, foram cerca de 808 mil menções na rede social em apenas duas horas.

Às 18h, quatro dos dez termos mais mencionados pelos usuários brasileiros tinham relação com o atentado, aponta o estudo: violência (216 mil menções), arma (123 mil), Juiz de Fora (88 mil) e facada (83 mil).

Logo após o incidente, diversos vídeos do momento da agressão, feitos por apoiadores presentes no ato de campanha, foram compartilhados nas redes sociais. Internautas passaram a divulgar fotos e o perfil do agressor nas redes sociais. No Facebook, Adelio Bispo de Oliveira recebeu ameaças de morte. Já em fóruns anônimos, dados pessoais de Adelio foram vazados.