O globo, n. 31077, 07/09/2018. Pais, p. 11

 

Frequente na História, violência na política já era parte do passado

Bernardo Araujo

07/09/2018

 

 

Facada em Bolsonaro é o primeiro ataque contra um candidato à Presidência da República em uma campanha eleitoral no país

Apesar do ineditismo do atentado de ontem, a um candidato à Presidência em plena campanha eleitoral, a violência contra políticos também tem um longo histórico no Brasil. Inclui crimes como que vitimou o senador Pinheiro Machado, no Rio, em 1915, o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, em 1954, e o ataque a tiros do senador alagoano Arnon de Melo contra um inimigo político em pleno Senado Federal, que acabou errando e matando um terceiro senador.

O episódio mais célebre aconteceu no dia 5 de agosto de 1954 e ficou conhecido como Atentado da Rua Tonelero. O jornalista Carlos Lacerda, um dos mais ferrenhos opositores do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, sofreu uma tentativa de assassinato. Ao chegar em casa, em Copacabana, viu um homem disparar e atingir mortalmente o Major Rubens Vaz, da Aeronáutica, que trabalhava como seu segurança. Lacerda foi atingido superficialmente, no pé. Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, confessou ser o mandante do crime e acabou preso ao lado de comparsas. O atentado agravou a crise no governo de Vargas, que acabou cometendo suicídio no dia 24 do mesmo mês. Lacerda viria a ser governador do Rio, entre 1960 e 1965.

João Pessoa, então presidente do estado da Paraíba (como se chamavam os governadores à época), não teve a sorte de Lacerda: ele foi assassinado no Recife, no dia 26 de julho de 1930, quando era candidato à vice-presidência da República, na chapa de Getúlio Vargas. O crime foi cometido pelo jornalista João Duarte Dantas, inimigo político de Pessoa, e pode ter tido motivação passional, devido à relação de Dantas com a professora Anaíde Beiriz. Dantas foi preso pelo crime e assassinado na prisão, e Anaíde cometeu suicídio aos 25 anos, por envenenamento. A história foi contada no filme “Parahyba mulher macho”, de Tizuka Yamazaki, de 1983, com Walmor Chagas no papel de Pessoa, Cláudio Marzo como Dantas e Tânia Alves encarnando Anaíde. A capital paraibana, que até então se chamava Cidade da Paraíba, passou a se chamar João Pessoa. O crime foi o estopim para a Revolução de 1930.

O senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado foi mais uma vítima. Político de grande influência na República Velha (1889-1930), ele foi assassinado no dia 8 de setembro de 1915 com uma punhalada nas costas, no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Flamengo, no Rio. Pinheiro Machado tinha 64 anos, e o assassino, Manso de Paiva, após o crime, entregou a faca a um deputado amigo de Pinheiro Machado e esperou calmamente pela polícia, que o prendeu. Manso cumpriu pena de 20 anos.

Cunha Lima x Burity

Mais recentemente, dois casos envolvendo políticos do Nordeste ganharam as manchetes. Em 4 de dezembro de 1963, o senador alagoano Arnon de Melo disparou três tiros contra seu inimigo político, o também senador Silvestre Péricles, dentro do Senado Federal, em Brasília. Arnon — pai de Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil e atual senador por Alagoas — errou os tiros, apesar de ter disparado a uma curta distância, e acertou no peito o senador acriano José Kairala, que morreu. Arnon não teve o mandato cassado e nem cumpriu pena pelo crime. Morreu em 1983.

Uma década depois, em novembro de 1993, o então governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, encontrou seu antecessor e rival Tarcísio Burity em um restaurante de João Pessoa e disparou três tiros contra ele. Cunha Lima estaria revoltado com críticas de Burity a seu filho, Cássio Cunha Lima (ex-governador e hoje senador pela Paraíba), que à época trabalhava na Sudene, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Atingido pelos tiros, Burity ficou em coma por um período, mas sobreviveu, morrendo em 2003. Ronaldo Cunha Lima não foi julgado pela tentativa de assassinato e acabou morrendo de câncer, aos 76 anos, em 2012.

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Bolsa sobe e dólar cai após notícia sobre incidente

João Sorima Neto

07/09/2018

 

 

Principal índice de ações registra alta de 1,76%, aos 76.416 pontos. Moeda americana recua 0,94%, a R$ 4,105

Em um dia de volatilidade no mercado financeiro, o Ibovespa, principal índice de ações do mercado local, ganhou força após a notícia sobre a agressão, com uma faca, ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). A Bolsa fechou em alta de 1,76%, aos 76.416 pontos. A queda do dólar comercial se acelerou no fim do pregão, e a divisa encerrou perto da mínima do dia, a R$ 4,105, com recuo de 0,94%.

Na leitura dos profissionais do mercado, o incidente pode fazer com que os candidatos mais alinhados à esquerda, e menos favoráveis à implementação de reformas econômicas, percam força. Bolsonaro vem liderando as pesquisas de intenção de voto.

Para o gerente de mesa Bovespa da corretora H. Commcor, Ari Santos, não houve fato econômico que pudesse impulsionar o Ibovespa. Pouco antes das 16h, o índice subia 0,37% aos 75.371 pontos, Depois da agressão ao candidato, a alta do Ibovespa superou 1,5%.

—O índice deu uma esticada logo após o incidente com o candidato. Não houve outro fato que pudesse impulsionar o Ibovespa no mesmo horário —disse Santos.

Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, aponta que a queda mais acentuada do dólar também foi influencidada pela agressão ao candidato:

— Mas muita gente já vinha tomando posição para o feriado e o fim de semana, quando o mercado de câmbio local estará fechado e o exterior funciona.

Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do banco Ourinvest, ressaltou, porém, que a saída de recursos do país não permite uma queda mais acentuada do dólar.

Papéis de bancos avançam

O Banco Central realizou leilão de até 10,9 mil contratos de swap cambial tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares para rolagem do vencimento de outubro, no total de US$ 9,801 bilhões. O Dollar Index, da Bloomberg, que acompanha o desempenho da divisa frente a uma cesta de moedas, recuou 0,17%.

Na B3 (antiga Bovespa), as ações da Petrobras avançaram como reflexo da mudança na política de preços da estatal. Os reajustes da gasolina, agora, serão feitos em prazo de até 15 dias. Os papéis preferenciais( P N, sem direito a voto) subiram 1,82%, a R$18,99, e os ordinários (ON, com voto) tiveram alta de 0,87%, a R$21,92.

O analista da corretora Mirae, Pedro Galdi, avalia que não houve mudança estrutural na política de preços da Petrobras, que continua sendo regida pelas oscilações do mercado internacional. Ma sele considera o ajuste positivo.

A alta das ações da Vale, por sua vez, foi impulsionada pelo ganho de 3% do preço do minério de ferro no mercado internacional. Os papéis da mineradora avançaram 2,55% a R$53,48.

O setor bancário, também teve ganhos. Itaú subiu 2,53% a R$42,60, e Bradesco avançou 2,86% a R$28,44.