O globo, n. 31078, 08/09/2018. País, p. 6

 

Presidenciáveis retomam agendas e pregam paz

Cristiane Jungblut

Fernanda Krakovics

Jeferson Ribeiro

Maria Lima

08/09/2018

 

 

Após um dia de paralisação em solidariedade a Bolsonaro, maioria vai hoje às ruas. Alckmin citará atentado em seu programa para defender moderação, e Marina pregará campanha pacífica; Ciro já teve atividade ontem à noite, no Ceará

Após um dia de interrupção nas campanhas em solidariedade a Jair Bolsonaro, os demais candidatos à Presidência retomam hoje suas atividades com discurso de necessidade de paz e diálogo para o resto da campanha. Alguns, como o tucano Geraldo Alckmin, farão referências diretas ao episódio com o candidato do PSL. O tucano, que vinha sendo o principal autor de ataques a Bolsonaro, decidiu incluir referências ao atentado contra o adversário em seus programas de rádio e TV. Alckmin fez uma reunião de emergência ontem com o comando de campanha para rever a estratégia de comunicação, e decidiu gravar novo programa eleitoral para hoje. Segundo participantes da reunião, o programa citará o caso em tom didático para, em seguida, mostrar a capacidade de “diálogo” de Alckmin e a necessidade de moderação neste momento do país. Na reunião, com a presença de Alckmin e da vice na chapa, senadora Ana Amélia (PP-RS), ficou acertado que o caso de Bolsonaro será mostrado para enfatizar que o país não pode tomar o caminho da radicalização e da violência. Além disso, será explorada a capacidade de Alckmin, como governador, de agir em momentos de crise e de violência. Ana Amélia foi chamada a São Paulo para gravar uma participação, depois que a campanha gostou de uma mensagem sua nas redes sociais sobre o Sete de Setembro, e a necessidade de diálogo neste momento do país. A presença de Ana Amélia será reforçada nos programas eleitorais pela resposta positiva à sua estreia na quinta-feira e pela sua facilidade na comunicação dos fatos, por ser jornalista. Nas ruas, Alckmin fará campanha em Santa Catarina, visitando Criciúma e Florianópolis. Marina Silva (Rede) decidiu retomar a agenda hoje, e vai intensificar o corpo a corpo em regiões mais populosas. A candidata da Rede fará uma caminhada pela paz na região da 25 de março, em São Paulo, saindo do Largo de São Bento até o Mercado Central. Na rua e nos programas de TV pós-atentado, a mensagem que Marina quer passar é que, mais do que nunca, é necessário garantir uma campanha pacífica e que ela é capaz de arrefecer esse clima de polarização e radicalização.

— Somos da paz, vamos para a rua. Com paz é que se resolve as coisas — disse Marina na reunião.

Sem carro blindado

Segundo a assessoria da candidata, ela decidiu intensificar o contato direto com a população, porque no último mês, nas caminhadas em regiões como a Baixada Fluminense, as pessoas a receberam muito bem, mesmo quando disseram que não votariam nela. Atualmente, Marina é acompanhada por até quatro agentes da Polícia Federal, dependendo da agenda. Mas ela tem se negado a fazer os deslocamentos no carro blindado que a PF usa. Prefere ir em uma van, com assessores e aliados políticos. —Em nenhum momento, até agora, Marina detectou possibilidade de agressão, nenhuma hostilidade ou qualquer situação que colocasse em risco sua integridade física. Por isso, a decisão é que ela intensificará o corpo a corpo nas ruas —explicou um dos assessores da campanha dela.

Uma longa reunião do conselho de coordenação da campanha de Marina, ontem, concluiu que após o atentado a Bolsonaro ele deve garantir a ida para o segundo turno. No campo da esquerda, avalia a equipe de Marina, haverá um acirramento entre os três “herdeiros” dos votos de Lula para garantir a outra vaga: a própria Marina, Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT), atual candidato a vice. — Com a presença de Bolsonaro consolidada no segundo turno, a partir de terça-feira, quando deverá oficializar sua candidatura a presidente no lugar de Lula, Haddad deve crescer e haverá um acirramento com Marina e Ciro que estão embolados em segundo nas pesquisas de intenção de votos. Marina se inclui nesse grupo da esquerda e a tendência é que haja uma disputa acirrada pelo espólio de Lula, que vai garantir a segunda vaga no segundo turno — disse um integrante da campanha de Marina. O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, já retomou ontem à noite suas atividades de campanha com uma carreata em Sobral (CE) e um comício em uma cidade vizinha. A decisão foi tomada após a avaliação de que o quadro de saúde de Bolsonaro era estável. “As informações que disponho dizem que ele está se recuperando bem e que sua transferência para o Hospital Albert Einsten, em São Paulo ajudará na superação deste trauma”, escreveu Ciro, pela manhã, em uma rede social. Ele cancelou um ato político na noite de anteontem, em Natal, e uma caminhada que faria na manhã de ontem em São Luís, mas manteve os compromissos em seu estado.

Haddad participa, ao longo do dia, de caminhadas na Zona Sul de São Paulo junto com o candidato do partido ao governo do estado, Luiz Marinho. Está prevista uma conversa com a imprensa no início da agenda, às 9 horas.

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PF vai reforçar segurança dos cinco principais candidatos

André de Souza

Gabriela Valente

Karla Gamba

08/09/2018

 

 

Efetivos devem aumentar de acordo com análise de risco de cada um

O diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, fará hoje, às 16 horas, uma reunião com representantes dos cinco candidatos à Presidência, que contam com reforço de segurança — Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Alvaro Dias —para discutir um aumento no efetivo. — Vai aumentar a segurança, variando, porque cada candidato tem uma análise de risco. E cada análise de risco determina a equipe necessária para fazer a segurança. Pelos dados que eu tenho, essa segurança deve crescer em média 60% do efetivo disponível que se tinha até então — disse o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Segundo o ministro, Bolsonaro conta com 21 policiais para fazer sua segurança, dos 80 agentes que foram destacados para acompanhar os presidenciáveis. É o candidato com o maior contingente à disposição. Como há um revezamento na equipe, uma vez que não é possível trabalhar 24 horas por dia, havia 13 policiais federais com Bolsonaro durante o ato em Juiz de Fora, de acordo com o ministro. Também havia 50 PMs. O número, disse Jungmann, foi considerado suficiente, lembrando que apenas nove agentes acompanharam o presidente francês durante os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio. Jungmann relatou que não houve falha da segurança e que Bolsonaro e sua família foram avisados do perigo de ser carregado no meio de multidões.

—Se os candidatos não seguem as orientações da Polícia Federal, obviamente fica praticamente impossível fazer a segurança. Se você diz “olha, não vá para os braços, olha, não vá para dentro da multidão, olha, fica difícil, se você ficar no alto é um alvo preferencial muito fácil”, e os candidatos não seguem essa orientação, não dá para culpar a equipe responsável pela segurança — afirmou, após o desfile de Sete de Setembro, em Brasília.

Por outro lado, o ministro, que já disputou várias eleições, reconheceu que é difícil evitar contato com o eleitor: — Candidato, e eu fui candidato, é um bicho difícil, porque ele procura ter contato. Quem lida com segurança sabe que isso faz parte do jogo. O problema é quando você vai para uma situação de risco reiterada. O que se espera é que a partir de agora eles cumpram o protocolo. Também presente ao desfile, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, pediu apacificação no país. Ele classificou o atentado contra Bolsonaro como “monstruosidade” e disse que a “radicalização” na campanha eleitoral vai destruir a democracia brasileira. — Não é possível que foi para isso que nós construímos a democracia. Não é possível que nós tenhamos evoluído tanto para admitir que, numa disputa democrática, numa campanha eleitoral tão importante e num momento tão sério, nós reduzamos às facadas, aos tiros e às agressões essa festa —afirmou o general. Etchegoyen pediu que todos“coloquem amão na consciência” para que o país possa avançar. Salientou ser importante uma sociedade pacificada eque o jogo democráticos e faça no campo da civilidade. Para o ministro, ainda não é possível dizer se o crime foi de natureza política, já que não se passaram nem 24 horas do episódio: — Adiantar, na manhã seguinte, qualquer coisa é concluir antecipadamente. Não descarto possibilidade nenhuma.