O globo, n. 31078, 08/09/2018. Artigos, p. 9
Um pesadelo apavorantemente real
Marcelo Adnet
08/09/2018
É com inevitável tristeza que escrevo estas linhas. Acho que concordamos que tudo isso que parece um pesadelo é apavorantemente real. Em menos de uma semana, como se já não tivéssemos problemas demais, a facada que atinge o candidato e a democracia se soma ao fogo que consome o museu e nossa já fragilizada memória. Essa apavorante sequência de surrealidades anunciadas confrontam nossas quase certezas. Como esses anos turbulentos serão narrados pela História e como serão vistos no futuro? Seé que haverá História; seé que haverá futuro. Eu acredito que sim. Agora mesmo, na calmaria do feriado, ouço crianças que parecem se divertir aqui fora. Por um momento, suas vozes agudas e deliciosamente inocentes invadem o pensamento e deixam o astral mais leve. A sexta-feira de sol forte e céu límpido parece saudar o Sete de Setembro e sugerir uma pausa para que descansemos, cuidemos da alma e da mente. Uma rajada de vento, porém, logo faz as folhas cantarem, lembrando que a tempestade pode sempre estar à espreita. Na noite do domingo passado, após um lindo dia de futebol e churrasco com amigos, descíamos de Petrópolis abençoados pela alegria característica dos desavisados. Cantamos Zeca Pagodinho quando passamos por sua Xerém e emendamos ouvindo clássicosde Djavan, cuja poesia contrastava como cenário noturno da Baixada Fluminense. Lá pela Linha Vermelha, o djavanear foi interrompido por um grito. “Tá pegando fogo!” O raro domingo de paz ruiu logo depois, quando vimos que um incêndio consumia uma enorme edificação. Suas labaredas subi amalto elançavam luz sobre a fachada branca de janelões abertos .“Meu Deus, onde é isso?” De longe, no escuro, lembrava os Arcos da Lapa, mas ponderei que parecia ser na região da Praça da Bandeira. Está gravado, em forma de trauma, o minuto de angústia, sem sabermos do que se tratava. “É o Museu Nacional”. Pausa e pranto. Pronto: em minutos, séculos se foram. P ensoque ali, em 2 de setembro de 1822, aprincesa Leopoldina assinava o decreto de Independência. Eque em 2 de setembro de 2018, exatos 196 anos depois, o Museu Nacional ruiria em frente a nossos olhos. O mesmo lugar que frequentei desde criança. Choro pelo Museu, por Pedro II, por João VI, pela Leopoldina, pelos cientistas, pesquisadores, cariocas e brasileiros. E pelo meu pai, que me deu as mãos com firmeza para me guiar museu adentro. Quando ainda engatinhávamos sobre os escombros, a facada em Jair Bolsonaro impõe mais um capítulo que envergonha a todos os brasileiros. Coma vítima sob cuida dose o agressor sob tutela da polícia, temos um final de semana precioso de recolhimento, reflexão e proteção. A comoção e o respeito pelo ser humano se impõem neste momento. Não posso deixar de lembrar da vereadora Marielle, executada a tiros amando de poderosos desconhecidos, e de seu motorista Anderson. Há 178 dias, como o vento que sopra, seguem nos alertando: vivemos soba violentam ã ode forças ocultas. Amanhã vai ser outro dia.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Mourão, vice de Bolsonaro, diz que é hora de moderação
Lucas Altino
08/09/2018
General afirmou que mensagem será repassada em vídeos para coordenadores da militância do PSL nos estados
Um dia depois do candidato Jair Bolsonaro (PSL) sofrer o ataque em Juiz de Fora, o seu vice, general Hamilton Mourão, afirmou que recebeu, por telefone, o pedido do próprio presidenciável para que os militantes moderem o tom. Segundo Mourão, confrontos nesse momento não vão ajudar ninguém e seria péssimo para o país. O general —que disse ter sido sempre a primeira opção para vice — ainda afirmou que vídeos estão sendo disseminados entre simpatizantes para que a mensagem de redução das tensões seja propagada.
— Hoje (ontem), às 19h, Bolsonaro me ligou e disse que vamos moderar o tom. Me pediu para não exacerbar essa questão que está ocorrendo. Nós vamos governar para todo o Brasil. Sem união agente não chega alugar nenhum. Ter confronto nesse momento não vai ajudara ninguém eé péssimo para o país — explicou Mourão, em entrevista à Central das Eleições, da GloboNews.
Ele ainda falou sobre a estratégia da equipe de espalhar vídeos entre os “cabeças de chave” da campanha nos estados com anova orientação :— Agente não tem condições de controlar 100% a militância, mas estamos fazendo pequenos vídeos, falando para o pessoal raciocinar e abaixar o tom nesse momento. Nosso foco é propagar as ideias de Bolsonaro e reduzir as tensões.
O vice de Bolsonaro admitiu que, num primeiro momento, ele e outros membros da campanha exageraram nas declarações. —Quando ocorre um evento traumático assim, tem que ter muita calma. Realmente subiu um pouco o tom( no início ), mas te mosque baixar, porque não é caso de guerra. Que se investigue e julgue o caso —disse o general.