Título: Dilma prioriza os investimentos
Autor: Batista, Vera; Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2012, Economia, p. 9

A presidente Dilma Rousseff ordenou ontem ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que apresente um pacote urgente com medidas efetivas para estimular os investimentos produtivos e evitar mais um resultado pífio do Produto Interno Bruto (PIB), cuja expansão deve ficar em 2,5% neste ano. Insatisfeita com as ações até agora anunciadas por Mantega—todas de curto prazo, com baixo impacto na atividade —, ela comandou duas reuniões no Palácio do Planalto, uma pela manhã, outra à noite, com o intuito de reforçar o descontentamento como o atual ritmo da economia.Dilma avisou que não quer ver o seu governo marcado pelo "voo de galinha", o qual sempre criticou quando o Executivo era comando pela oposição.

No primeiro trimestre de 2012, o PIB saltou apenas 0,2%ante os três últimos meses de 2011.

A previsão dentro do Planalto é que o pacote seja anunciado ainda nesta semana, tamanha é a ansiedade da presidente. A meta é conceder estímulos aos setores produtivos considerados estratégicos para o crescimento econômico.

O governo está ciente de que muitas empresas botaram o pé no freio e suspenderam investimentos por temerem um longo período de estagnação do país.

Nos cenários traçados pelo empresariado, o Brasil deverá crescer menos de3%neste ano e um pouco além disso nos dois últimos anos da atual gestão, níveis considerados insuficientes para sustentar um forte avanço do consumo das famílias, já muito endividadas.

"A presidente mudou a agenda para negociar uma fórmula que agrade a maioria. Seu discurso, o tempo todo, foi na direção de reforçar as oportunidades do país nas áreas de infraestrutura (transporte, energia e telecomunicações) e resolver o gargalo que impede o escoamento da produção", disse um técnico da Fazenda.

Assessores do Planalto garantiram ainda que, nas conversas de ontem, Dilma forçou uma mudança de rumo na política econômica. Para a presidente, é preciso melhorar, urgentemente, a competitividade da indústria, que vem sofrendo com a invasão predatória de produtos estrangeiros, principalmente depois do agravamento da crise financeira dos países avançados. Dilma quer iniciativas que permitam ao empresariado brasileiro competir em condições de igualdade com as mercadorias que vêm de fora, por meio de programas que aprimorem os mecanismos de concessões públicas.

O dia foi de entra e sai de ministros no Palácio. Além de Mantega, foram convocados Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

"Se está ouvindo esse povo da pesada, não resta dúvida de que a presidente pretende dar um choque na economia, sem perder o controle da inflação", argumentou o técnico da Fazenda.

A certeza de Dilma de que a saída para a retomada do crescimento passa por estímulos aos investimento e não apenas ao consumo, como tem feito a Fazenda, foi reforçada no encontro dela com o rei Juan Carlos I, da Espanha. A líder brasileira disse que a ampliação das fábricas e da infraestrutura são essenciais para um melhor desempenho da atividade. Ela destacou que essa receita vale para o Brasil e para o mundo, que sofre com a crise na Europa e nos Estados Unidos, por ser compatível com o equilíbrio macroeconômico. Segundo a presidente, o Brasil está pronto para "colaborar da melhor forma" no cenário global.

Mas ela ponderou que uma ação coordenada e solidária deve envolver todos os grandes atores da economia mundial, em especial, os próprios países da Europa, e não apenas os emergentes. No pronunciamento que antecedeu o brinde em homenagem ao monarca, Dilma afirmou que, com o acirramento do processo recessivo internacional, o "Brasil está se preparando para ter uma política pró-cíclica de investimentos" e destacou o papel da Espanha, segundo maior investidor estrangeiro no país.

Ela e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, receberem o rei Juan e uma delegação de empresários espanhóis para um almoço no Itamaraty.Com dificuldade de locomoção e usando uma bengala, o rei defendeu a capacidade da economia espanhola de superar a grave crise que enfrenta atualmente e pediu apoio do Brasil. "Nossas contas com o exterior e nossas contas públicas se equilibram com rapidez. Há um trabalho conjunto entre a Espanha e os sócios europeus para fortalecer o euro", afirmou.

A Espanha tem dado destaque a uma maior aproximação como Brasil, especialmente após passar por tensões na América Latina devido às expropriações de empresas de capital espanhol na Bolívia e na Argentina.O estoque de investimento espanhol no Brasil supera os US$ 85 bilhões e o volume de comércio entre os dois países somou, em 2011, US$ 7,9 bilhões, 20% a mais ante o ano anterior.