O globo, n. 31082, 12/09/2018. País, p. 4

 

Haddad é confirmado

Luiza Delmazo, Sérgio Roxo, Carolina Brígido, André de Souza e Mateus Coutinho 

12/09/2018

 

 

Após perder 17 recursos na Justiça, PT desiste de manter nome de Lula

“Estou indicando ao PT a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice”

Lula, em carta escrita na prisão

Com o prazo para registro de candidatura esgotado, o PT oficializou ontem a candidatura à Presidência da República de Fernando Haddad no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi considerado inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Lula está preso na sede da Polícia Federal desde abril, condenado a 12 anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.

Desde 24 de janeiro, quando teve sua condenação na Lava-Jato confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Lula deu início a uma guerra judicial. Nos últimos 230 dias, a defesa do petista apresentou ao menos 17 recursos ao TRF-4, ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em média, foi apresentada uma apelação a cada 13 dias. Ontem, Lula sofreu mais duas derrotas. No STF, o ministro Celso de Mello negou estender até o dia 17 o prazo para substituir o nome do candidato à Presidência na coligação do PT e também o pedido para suspender a decisão do TSE que considerou o petista inelegível.

Com a oficialização de Haddad, petistas passaram a defender que o ex-presidente tenha um papel de destaque em eventual governo do ex-prefeito.

— Tenho certeza que logo que Lula sair daqui, ele estará junto com Haddad governando o Brasil, dirigindo os programas, apolítica, mostrando como agente tira esse paísd acrise—afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em um vídeo postado nas redes sociais e gravado na frente da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso desde 7 de abril.

Líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), em outro vídeo, também mostrou alinhamento com aposição defendida por Gleisi.

— O Haddad vai governar junto com o Lula. Vai montar o ministério junto como Lula.

Já Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, acredita que a eventual vitória de Haddad pode ajudar Lula a conseguir a sua liberdade.

— Queria dizer aos meus companheiros que é fundamental a eleição do Haddad, inclusive para a libertação do Lula —afirmou.

Na carta que escreveu na prisão e que foi lida pelo exdeputado Luiz Eduardo Greenhalgh no ato em frente à PF, Lula foi mais sutil ao falar de eventual participação em um novo governo petista:

“Eu sei que um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da esperança. Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo.”

Pelo menos em seu primeiro discurso como presidenciável, em Curitiba, Haddad não fez qualquer menção sobre a participação do ex-presidente em seu governo, se eleito. Ele fez críticas às elites e convocou a militância para ir às ruas “de cabeça erguida”.

— Qual foi o pecado do presidente Lula? Foi ter aberto as universidades para o filho do trabalhador? Foi ter matado a fome do povo no semiárido? Foi garantir juro baixo para o crédito consignado? O que é isso na cabeça da elite? Ou foi um negro sentar ao seu lado no avião? Esse foi o pecado? — disse Haddad, para cerca de 300 militantes que acompanhavam o ato.

Ao lado de Manuela D’Ávila (PCdoB), que foi oficializada como candidata a vice, Haddad afirmou ainda que os governos anteriores aos do PT “desestabilizaram o país” e, segundo ele, “trouxeram o ódio e a desarmonia”.

— Não vamos aceitar o Brasil do século 20, do século 19, do século 18. Não queremos aquele Brasil desigual e intolerante —reforçou o petista.

A indicação de Haddad como candidato foi aprovada por unanimidade pela executiva nacional do PT em reunião realizada pela manhã em Curitiba. No encontro, foi lida uma outra carta de Lula, em que o ex-presidente revelava a sua preferência pelo ex-prefeito e recomendava ao partido que o indicasse como seu substituto.

Em sua primeira aparição na TV como candidato a presidente, ontem à noite, Haddad defendeu o líder petista:

— Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Nós sabemos que ele ganharia esta eleição. Infelizmente insistem em tirar Lula, contrariando a ONU e a vontade do povo. Lula pediu. Vamos continuar juntos. (*Especial para O GLOBO)