O globo, n.31075 , 05/09/2018. RIO, p.11
Chamas podem ter surgido em setor de exposições permanentes que fica acima da casa de força do Museu Nacional
Policiais federais que investigam a destruição do prédio do Museu Nacional acreditam que o incêndio teve início no segundo andar, em um setor onde ficavam exposições permanentes de móveis da monarquia e de peças da arqueologia brasileira. Era uma área localizada à direita de quem entrava na instituição pela porta principal, e ficava acima de uma casa de força, que distribuía energia para toda a edificação.
A investigação é conduzida por uma equipe de peritos do instituto de criminalística da Polícia Federal. Entre eles estão dois especialistas na descoberta de origem de incêndios, que foram deslocados de Brasília para o Rio. Os dois levaram para a Quinta da Boa Vista um scanner que produz imagens em 3D, um equipamento usado pela primeira vez no Brasil em 2007, durante a apuração do acidente com um avião da TAM que deixou 199 mortos em São Paulo.
De acordo com a Polícia Federal, o scanner 3D é uma ferramenta importante na elaboração do laudo sobre a tragédia e registra imagens tridimensionais do prédio do Museu Nacional, revelando, com detalhes, modificações em sua estrutura que podem identificar a origem das chamas.
— O equipamento também é importante porque detecta deformações que representam riscos de desabamento — disse um policial federal.
IMAGENS DE CÂMERAS
Peritos entraram no prédio em ruínas para realizar o que chamam de inspeção superficial, por conta da possibilidade de ocorrer um desabamento. Eles recolheram arquivos digitais com imagens de 16 câmeras do circuito interno de segurança. A suspeita de que o incêndio começou no segundo andar ganhou força por meio de uma avaliação preliminar, e também é baseada em relatos de funcionários. Na segunda-feira, dia seguinte à tragédia, a vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, já havia levantado a possibilidade de o fogo ter surgido naquele pavimento.
Nos próximos dias, o trabalho da perícia irá se concentrar na parte dianteira do segundo andar, do lado direito de quem está de frente para o museu. Embora a Polícia Federal afirme que nenhuma hipótese para a origem do incêndio está descartada, há, entre vários investigadores, a convicção de que não foi a queda de um balão que provocou o fogo. Essa possibilidade foi sugerida por uma moradora do Maracanã, que afirmou ter visto um artefato luminoso caindo na Quinta da Boa Vista.
O inquérito sobre o caso foi instaurado ainda no domingo, por determinação do delegado Ricardo Saadi, superintendente da Polícia Federal no Rio. A investigação está a cargo da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, que conta com o apoio do setor técnico-científico da corporação.
OPINIÃO DO GLOBO - RESTOU PROVADO
É ESCLARECEDORA a revelação de que, há cerca de 20 anos, o Museu Nacional recebeu uma oferta do Bird de financiamento de US$ 80 milhões para modernizar a instituição, mas que foi rejeitado pela UFRJ.
ISSO PORQUE rejeitou-se a condição de que o Museu passasse a ser administrado por uma fundação de direito privado. Entendese, pois a ideologia hegemônica no meio universitário costuma ser radicalmente contrária à iniciativa particular.
PREFERE-SE manter sob o controle de servidores públicos uma entidade grande, custosa e complexa como o Museu Nacional, mesmo sob o risco de perda total. É o que restou provado na Quinta da Boa Vista.