O globo, n.31075 , 05/09/2018. RIO, p.10

Outros prédios da UFRJ estão em situação de risco

Elenilce Bottari

 

 

Escola de Música, que guarda 60 mil documentos, não tem sistema contra incêndio; instalações do Fundão, inclusive o Hospital Clementino Fraga Filho, apresentam problemas estruturais. Oito edifícios da universidade pegaram fogo nos últimos sete anos

O secretário estadual de Defesa Civil e comandantegeral do Corpo de Bombeiros, coronel Roberto Robadey, afirmou na segunda-feira, de forma irônica, que a UFRJ “é um cliente preferencial” da corporação. Ele se referia ao fato de que oito prédios da instituição pegaram fogo nos últimos se teanos. O Museu Nacional foi o terceiro a sofrer um incêndio só em 2018, e não era o único edifício da universidade em condições precárias aguardar riquezas da cultura nacional.

Situada na Rua do Passeio, entre a Cinelândia e a Lapa, a Escola de Música da UFRJ tem 160 anos, e, assim como o palácio da Quinta da Boa Vista, nunca contou com um projeto de prevenção contra chamas. No prédio, não há detectores de fumaça, alarme nem brigada de incêndio. No entanto, ali estão guardados 60 mil documentos, incluindo partituras raras como a original do Hino Nacional, de Francisco Manuel da Silva.

— O acervo da Biblioteca Alberto Nepomuceno, da Escola de Música,é um dos mais importantes do planeta. Remonta ameados do século XIX, coma criação do próprio conservatório, e reúne partituras manuscritas da época colonial. Aqui, há partituras de autores italianos que não existem em nenhum outro lugar porque seus originais foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial. É como se todo esse patrimônio aguardasse sua vez de arder— disse um professor, que pediu para não ser identificado.

A Escola de Música tem aparelhos de ar-condicionado funcionando de forma improvisada dentro de salas sem janelas e, de acordo com uma servidora, moradores de rua e usuários de drogas costumam fazer churrasco junto a um muro da instituição, o que aumenta o risco de incêndio.

Um outro imóvel da UFRJ em situação degradante é o Bloco Ado Centro Tecnológico do Campus do Cidade Universitária, no Fundão. Colunas gigantescas estão escoradas por vigas, e há problemas de infiltração e gambiarras elétricas. O prédio também não tem sistema de proteção contra incêndio. A situação é semelhante em um edifício vizinho, da Coppe, um dos principais centros de inovação tecnológica do país. Foi ali que, em agosto, uma explosão no laboratório de metalurgia deixou três pessoas feridas.

A Coppe conta com um brigada profissional de incêndio, mas não possui plano contra incêndios porque a empresa contratada abandonou o serviço. Um novo projeto está sendo licitado.

Um dos prédios mais problemáticos da UFRJ é o do Hospital Clementino Fraga, também no Fundão, que, em maio, teve um princípio de incêndio no nono andar.

— Temos andares desativados, obras abandonadas paradas e instalações elétricas em condições precárias. Fiações estão expostas — afirmou uma médica.

Um grupo de estudantes denuncia que o prédio da Faculdade de Letras se encontra em situação de perigo. Ontem, no corredor F, a caixa contra incêndio não tinha sequer mangueira.

— Houve um incêndio no almoxarifado em 2012, e nada melhorou depois disso —disse um aluno.

Até mesmo o prédio da Pró-Reitoria de Gestão e Governança sofreu um incêndio, em outubro de 2016.

—O risco é maior no verão, com a sobrecarga de energia. Curto-circuito é algo frequente durante a estação — contou um funcionário.

Em 2011, parte do Palácio Universitário, na Praia Vermelha (Urca), desabou durante um incêndio. A Capela de São Pedro de Alcântara, erguida em 1850 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ficou destruída.

— Começaram uma reforma, mas pararam — lamentou um servidor.

O GLOBO tentou ouvir o reitor Roberto Leher e os diretores das unidades citadas na reportagem, mas não obteve resposta.