O globo, n.31075 , 05/09/2018. RIO, p.10

Ministério Público Federal fez alerta, e museu pediu reunião

Chico Otavio

 

 

Fonte anônima relatou ‘gambiarra’ elétrica e plástico inflamável no 3º andar

Cobrado pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre duas denúncias recentes, que alertavam para o risco iminente de incêndio nas instalações do terceiro andar, o Museu Nacional pediu, duas semanas atrás, o agendamento de uma audiência com os procuradores da República responsáveis pelo caso, com o objetivo de apresentar uma justificativa. Não houve tempo para a marcação do encontro. No domingo, o museu foi destruído por um incêndio, e uma das suspeitas investigadas pela Polícia Federal é de que a tragédia tenha sido provocada por problemas no sistema elétrico.

Uma das denúncias, formulada no final de julho por uma pessoa que não quis se identificar mas que se apresentou como arquiteto, diz que “o descaso da gestão da UFRJ em seus imóveis pode ser muito bem representada pelo terceiro andar do Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista, onde são vistos fios desencapados, gambiarras elétricas e cobertura de plástico inflamável em parte do telhado”. De acordo coma fonte anônima ,“em tese, isso vai muito além desse quadro desolador, muitas vezes justificado por restrições orçamentárias, e demonstra uma atitude enraizada de descaso para com este imenso patrimônio de todos os brasileiros”.

O autoral ertaque“é urgente uma vistoria dos bombeiros, principalmente no terceiro andar, para que se dê ciência à sociedade carioca e brasileira da real dimensão do risco que corre seu patrimônio”. A denúncia, anexada a outra com o mesmo teor, mas de autor distinto, foi incorporada, no dia seguinte, ao inquérito civil que investigava as condições de conservação do museu.

Diante das denúncias, a única providência tomada pelo MPF foi cobrar explicações no início de agosto ao Museu Nacional. Na resposta, encaminhada pela direção da instituição científica duas semanas atrás, havia apenas um pedido de audiência.

De autores diferentes, as duas denúncias se assemelham no propósito: questionara intenção do museu de transferir parte do acervo e laboratórios para um terre noda União, nos fundos do palácio, onde ficavam as antigas Cavalariças Imperiais Brasileiras.

 

PROBLEMAS QUE EXPLICAM A TRAGÉDIA NA QUINTA DA BOA VISTA

Material inflamável

Grande parte da estrutura do Museu Nacional era feita de madeira, e muitos materiais inflamáveis estavam guardados no interior do prédio. A vicediretora da instituição, Cristiane Serejo, disse que havia um plano para retirar as substâncias do local, mas não deu tempo de executá-lo.

Ausência de brigada

O museu confirmou a inexistência de uma brigada de incêndio para proteger o patrimônio. A UFRJ alegou que seria um custo a mais e também afirmou que não tinha condições financeiras para manter uma equipe especializada.

Sem sistema contra chamas

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, disse que funcionários do Museu Nacional realizavam treinamentos com o Corpo de Bombeiros e que estava em curso um projeto de modernização dos extintores. Não havia, porém, um sistema contra incêndio, com detectores de fumaça.

Alertas de arquiteto

Em julho, um arquiteto fez denúncia sobre as condições precárias do Museu Nacional ao Ministério Público Federal. O documento alertava que o prédio poderia pegar fogo a qualquer momento, devido a fios desencapados, gambiarras elétricas e coberturas de plástico inflamável no telhado.

Hidrantes sem água

Um caminhão do Corpo de Bombeiros com 30 mil litros d’água não foi suficiente, e o trabalho de combate às chamas ficou prejudicado: segundo a corporação, havia pouca pressão nos hidrantes do entorno do Museu Nacional.