O globo, n.31075 , 05/09/2018. PAÍS, p.6

‘O novo negociará de forma pragmática’

Bernardo Mello 

Daniel Salgado

 

 

ENTREVISTA/ CANDIDATOS AO GOVERNO DO RIO

Marcelo Trindade (Partido Novo)

Aos 53 anos e em sua primeira eleição, candidato critica toma lá, da cá e acredita que terá força para mudar a política na Alerj

 

É apenas a segunda eleição do Novo. As pessoas têm reconhecido o partido?

Vamos fazer uma onda, um tsunami que vai arrebatar essas eleições. Você faz corpo a corpo e vê as pessoas cruzando o braço para não receber teu panfleto. Aí eu digo: “Nunca fui político”. E a pessoa pega, olha. A ideia do Novo de um Estado menor, que faça o necessário para que os recursos cheguem mais diretamente à população, também toca o coração das pessoas.

Mesmo que o senhor diga ser representante da nova política, a Assembleia Legislativa ainda seria composta pela velha política. Como lidaria?

Caso eu seja eleito, algo bastante diferente aconteceu. Pois um candidato de um partido desconhecido ganhou as eleições do segundo estado da federação. Será o sopro de um vento muito forte, e ele não aconteceria só na majoritária. Outros quadros de renovação seriam eleitos. E o Novo negociará de forma pragmática, apoiado até por membros de outros partidos que entendam essa mudança. Em segundo lugar, político sabe ler eleitor, sabe ler voto. E isso trará uma força de negociação política. Além de ser preciso acabar com essa política de toma lá, dá cá, de que tudo tem que ser aprovado por uma compensação. É preciso negociar e ouvir a sociedade.

Eduardo Paes foi seu aluno em Direito na PUC e hoje é seu adversário eleitoral. Como tem sido enfrentá-lo?

Eduardo já era “prefeitinho” (subprefeito) da Barra quando foi meu aluno. Então ele foi pouquíssimo à aula, fez até segunda chamada. Sempre achei um ótimo sinal quando algum aluno meu ia para a política. Infelizmente, o conformismo com a velha política ceifou muitos talentos. Eu estou velho demais de idade para não ser novo na política. Meu caráter está formado de maneira definitiva.

Seu programa de governo fala em cobrar mensalidades de parte dos estudantes da Uerj. Como seria essa escolha?

Essa proposta segue nossa linha de confiar no cidadão. Aposto que será um sucesso: quem tem condições de pagar, declare voluntariamente. Se 10% dos alunos pagarem R$ 1 mil mensais, equivale a 5% da folha da Uerj. Podemos estimular uma cultura de contribuir com a universidade que faça da Uerj um exemplo para o Brasil.

Mas qual é o efeito prático?

O gestor público brasileiro acha que 5% é porcaria, que não muda nada. Muda muita coisa. Muitas empresas deixam de quebrar porque cortam 5% das despesas. Só quero deixar claro que isso não é a única solução dos problemas das nossas universidades. É preciso trazer dinheiro privado, aumentar produção científica, viabilizar a Uerj na proporção do que ela consome de recursos públicos.

Embora esta seja sua primeira campanha, o senhor já presidiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no governo Lula, indicado pelo então ministro Antonio Palocci. Isso faz sentido com o discurso do Novo?

Completamente. O Novo propõe que o Estado faça o mínimo que tem de fazer. Nas demais atividades, deve conceder para a iniciativa privada atuar sob supervisão estatal. Você precisa de regulação adequada. A CVM tem cinco diretores, e com mandatos alternados. Cada ano muda só um. A cultura da casa prevalece sobre a dos governos.

A corrupção na Fetranspor e no Detro, evidenciada pela Lava-Jato, expôs falta de fiscalização e regulação no setor de transporte, que atendeu a interesses privados. Como corrigir?

São décadas de corrupção nessa área, décadas de captura do interesse público pelo interesse privado. Nós temos uma oportunidade no Rio porque esses sujeitos ou estão presos ou estão soltos por liminares. Estão todos investigados, fazendo delações premiadas. A nossa proposta é levar transporte intermunicipal rodoviário, que é competência do estado, para a Agetransp e mudar a sua governança. Vamos fazer um enorme programa de concessão à iniciativa privada. Mas é preciso ter agência reguladora direta. Não basta privatizar. Tem que privatizar tudo e supervisionar direito.

É possível?

Um governador com legitimidade moral, que não recebeu caixa dois, negocia muito bem. Os empresários brasileiros têm sua parcela idêntica de culpa com o mais patológico dos nossos políticos. O caixa dois é o primeiro furo que rasga a moralidade pública.

ENTREVISTAS: O GLOBO vai entrevistar os 12 candidatos ao governo do Rio, começando pelos que não estiveram no debate promovido pelo jornal, junto com o Extra e a revista Época.