O globo, n. 31079, 09/09/2018. País, p. 7

 

Adélio ficará isolado em presídio federal no MS

Rafael Ribeiro

Karla Gamba

09/09/2018

 

 

Após passar 20 dias na triagem, agressor irá para ala que abriga delatores e detentos sob ameaça de serem atacados por outros. Unidade tem celas individuais, com sete metros quadrados, monitoradas por câmeras 24 horas por dia

Preso por esfaquear o candidato Jair Bolsonaro (PSL), Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, chegou ontem à tarde ao presídio federal de Campo Grande (MS). Sete viaturas da Polícia Federal (PF) fizeram sua escolta entre o aeroporto da cidade e o Instituto Médico Odontológico Penal, onde ele fez o exame de corpo de delito, e depois até a penitenciária. Nos primeiros 20 dias no local, Adélio ficará isolado na triagem, como acontece com todos os presos que entram na unidade. Ele terá direito a banho de sol restrito, sem contato com outros presos e sem receber visitas. Passado esse período, deverá ficar em uma ala do presídio destinada a delatores e presos com risco de serem atacados por outros detentos.

Na penitenciária de Campo Grande, as celas, de sete metros quadrados, são vigiadas por câmeras 24 horas por dia. O espaço destinado a Adélio tem uma cama, um banco, uma escrivaninha, prateleiras, um vaso sanitário, uma pia e um chuveiro. Segundo agentes de segurança que trabalham no estado, o presídio federal de Campo Grande foi escolhido para receber Adélio porque tinha vagas e condições que atendiam às necessidades impostas pela Justiça. Inaugurada em 2006, a unidade tem capacidade para 208 presos.

Já passaram pelo local traficantes famosos do Rio de Janeiro, como Nem, da Rocinha, e Fernandinho Beira-Mar. Atualmente, o presídio abriga integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Também estão presos na penitenciária cinco acusados de planejar um ato terrorista durante a Olimpíada de 2016.

Por dar uma facada em Bolsonaro durante evento da campanha em Juiz de Fora na última quinta-feira, Adélio foi indiciado pela PF pelo crime de “atentado pessoal por inconformismo político”, com base no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional. A acusação pode render uma pena de três a dez anos de prisão.

Prisão preventiva

Durante a audiência, de custódia, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva. Em seu parecer, ela afirma que o próprio acusado admitiu sua participação no crime, sustentando motivação religiosa e divergência de opinião em relação ao plano político defendido por Bolsonaro.

A juíza destaca que o ataque “desastroso” colocou em risco não só o candidato, mas também os apoiadores que o acompanhavam, “prejudicando a ordem pública e a segurança das milhares de pessoas que participavam do ato de apoio político”. A juíza diz que Oliveira rompeu toda a célula de segurança que cercava Bolsonaro — seguranças particulares, policiais federais e militares —e se revelou “extremamente ousado e perigoso”. Para justificar seu pedido, ela destaca que o acusado não tem residência fixa nem ocupação.

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Defesa de agressor vai alegar insanidade mental

Vinicius Sassine

09/09/2018

 

 

Um dos advogados de Adélio afirma ter sido contratado e pago por religioso de Minas Gerais

A defesa de Adélio Bispo de Oliveira, preso em flagrante por esfaquear o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), prepara um pedido de incidente de insanidade mental em relação ao à tentativa de homicídio contra Jair Bolsonaro na quinta feira, em Juiz de Fora.

Se o pedido for aceito pela Justiça, Adélio será submetido a exames psiquiátricos para analisar o que pode ter levado ao esfaqueamento. Constatada a insanidade, a Justiça poderá decretar a inimputabilidade e absolvição do agressor. Os advogados de Adélio afirmam que ele relatou ter usado remédios controlados, com finalidade psiquiátrica, de forma contínua. Além disso, ainda conforme os advogados, Adélio passou por tratamento psiquiátrico ambulatorial, sem internação.

O agressor de Bolsonaro, porém, não teria precisado qual sua doença. Na audiência de custódia na Justiça Federal, na sexta-feira, Adélio afirmou que agiu sozinho, por conta própria e em cumprimento a uma “ordem de Deus para tirar a vida de Bolsonaro”.

Um dos quatro advogados de defesa de Adélio, Zanone Manuel de Oliveira Junior, afirmou ao GLOBO que foi contratado por um religioso de Montes Claros.

— Uma pessoa ligada às igreja dos testemunhas de jeová de Montes Claros me telefonou na quinta pedindo para eu pegar o caso — disse o advogado, que já atuou em casos de grande repercussão, como o do goleiro Bruno e da missionária americana Dorothy Stang. Segundo Zanone Junior, o colaborador pediu anonimato e já pagou os trabalhos da defesa realizados até agora. Ele não revelou valores. — (Essa pessoa) conhecia o Adélio. Acho que fez por filantropia, acredite se quiser —disse o advogado.

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Faca usada no ataque foi retirada de pensão

Bruno Abbud

09/09/2018

 

 

Agressor havia se hospedado em Juiz de Fora para procurar emprego após temporada em SC

A faca utilizada para atacar o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) foi retirada da cozinha da pensão onde o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, estava hospedado, em Juiz de Fora, segundo um dos advogados dele. Fernando Magalhães conta que Adélio estava hospedado ali há 15 dias para procurar emprego, e que reservou o dormitório até o dia 20 de setembro por R$ 430, no total. Desempregado, Adélio teria voltado a Montes Claros( MG) —onde vive sua família —depois de uma temporada de trabalhando em Santa Catarina.

— Ele vivia como um cigano, migrando de lá para cá à procura de emprego —disse o advogado ao GLOBO. O quarto no segundo andar da pensão onde Adélio ficou hospedado, antes de esfaquear Bolsonaro, permanece trancado. Na quinta-feira, dia do ataque ao presidenciável, a última vez em que a porta foi aberta, agentes da PF apreenderam no local dois telefones celulares inutilizados e um notebook.

A casa que funciona como pensão, onde Adélio ficou hospedado, fica numa ladeira, no centro de Juiz de Fora. Sem numeração, tem um aspecto simples. No início da tarde de ontem, o filho do dono da pensão, que se identificou apenas como André, disse que a família está incomodada com os acontecimentos dos últimos dias.

— Meu pai falou para não deixar ninguém subir. O quarto está trancado. Ninguém entra. Toda hora tem alguém tocando a campainha —disse o rapaz. Um morador da pensão disse que Adélio não se misturava com outros hóspedes. — Ninguém falava muito com ele.