Título: UnB não atingirá metas do Reuni
Autor: Paranhos, Thaís
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2012, Cidades, p. 17

No último ano do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a Universidade de Brasília (UnB) não executará a tempo as determinações estabelecidas há cinco anos. Até agora, 16 reformas e quatro obras foram entregues à comunidade acadêmica, mas cinco estão em andamento e outras, no Câmpus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto, ainda precisam ser licitadas. Falta contratar também mais 100 professores para completar o quadro de docentes previsto no início de 2008.

A conclusão das obras se tornou um dos principais problemas para a UnB. Como o Reuni prevê um aumento do número de alunos a partir da criação de novos cursos e de vagas e a seleção de docentes e técnicos, foi preciso ampliar a estrutura física da universidade. "O programa exige infraestrutura adequada, laboratórios, condições em sala de aula. Mas foi tudo muito rápido, houve uma explosão de serviços e não tivemos tempo para fazer um planejamento. O plano chegou ao fim de 2007 e, no ano seguinte, já estávamos com um canteiro aberto", comentou o decano de Ensino de Graduação, José Américo. Antes de o prazo acabar, ele destaca que o prédio de ciências políticas e de relações internacionais, dois blocos de salas de aulas e laboratórios das Faculdades de Saúde e Tecnologia devem ser entregues

Desde a implantação do programa, em 2008, o número de alunos saltou de cerca de 22 mil para aproximadamente 32 mil nos quatro câmpus — Darcy Ribeiro, Planaltina, Gama e Ceilândia. A quantidade de professores também aumentou. Foram contratados 967. Mas a realidade deve mudar. As previsões do decano de Ensino e Graduação sugerem que, até 2017, quando a primeira turma chegará ao último semestre e o quadro de alunos dos novos cursos ficará completo, haverá 50 mil estudantes e 2,6 mil docentes. "Contratamos 200 técnicos, mas a priorização da UnB foi para os professores, pois nossa carência é muito alta. O Reuni nos trouxe vários gargalos, faltam profissionais em algumas áreas que foram criadas ou ampliadas", explicou José Américo.

Condições de trabalho A meta do Reuni para a UnB é ter um professor para cada 18 alunos. Mas essa relação é questionada. Segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Claus Akira Matsushigue, esse número deve ser de um para 10, como ocorre em outras instituições no mundo. "Em todas as instituições federais, a quantidade de docentes cresceu cerca de 30% enquanto a de alunos dobrou. Não adianta aumentar a quantidade de estudantes sem oferecer condições de trabalho para o professor. Estamos pressionados e com carga de trabalho muito maior. Na universidade, temos a obrigação de promover ensino, pesquisa e extensão", explicou.

O presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb), Ebnezer Maurílio Nogueira da Silva, apontou diversos problemas desde a implantação do Reuni. "É grave montar um curso sem ter o prédio pronto, como ocorreu em Ceilândia. Os alunos têm aula em uma escola de primeiro grau e muitos vão se formar sem nunca ter entrado em um laboratório. No Gama, as atividades funcionavam dentro do fórum da cidade", apontou. Segundo ele, no Câmpus Darcy Ribeiro, a situação não é diferente. "Há um caos completo no Restaurante Universitário e na Biblioteca, por exemplo", citou.

"O Reuni é bom, mas não da maneira como foi administrado aqui na UnB. Nem metade das obras está pronta e a contratação de docentes não foi suficiente para atender à demanda dos novos alunos", comentou o presidente da associação. Apesar das críticas, Ebnezer acredita que o programa pode mudar a realidade daqueles que não têm condições de entrar em uma universidade pública. "O programa possibilitou que mais alunos pudessem entrar na universidade, mas não podemos esquecer que ela é pública, gratuita e de qualidade. Não é só colocar as pessoas dentro da sala de aula. A UnB era a quarta melhor do país, hoje, ocupa a 14ª posição", completou o professor.

Expansão O Reuni também proporcionou a criação de 28 cursos, boa parte deles nos câmpus fora do Plano Piloto. A expansão da universidade foi firmada em um convênio com o Governo do Distrito Federal (GDF), mas a parte do plano que cabia à UnB veio do programa do governo federal. As obras ainda não ficaram prontas. O estudante do primeiro semestre de terapia ocupacional Kennedy Ferreira Bonifácio, 17 anos, morador do Gama, acredita que se o Reuni não fosse implantado, ele não teria a chance de ingressar em uma universidade pública. "Nunca imaginei que entraria na UnB. Oprograma proporcionou um maior número de vagas e a oportunidade aumentou", opinou. Kennedy estuda no campus de Ceilândia.

Para Renata Nobre, 18 anos, moradora do Novo Gama e colega de Kennedy, a expansão da UnB facilitou o acesso à universidade para aqueles que moram fora de Brasília. "Gerou muitas oportunidades, principalmente para quem não tem como ir ao Plano Piloto", disse. Ela acredita, no entanto, que a expansão deveria acompanhar a qualidade da instituição. "Como o prédio não está pronto, só temos uma aula no câmpus. Os laboratórios também estão fechados e falta estrutura adequada para nos atender", lamentou.

"O programa exige infraestrutura adequada, laboratórios, condições em sala de aula. Mas foi tudo muito rápido, houve uma explosão de serviços e não tivemos tempo para fazer um planejamento"

José Américo, decano de Ensino de Graduação

» O que diz a lei Criado pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) objetivou a ampliação do acesso e a permanência dos jovens na educação superior. Entre as metas do programa estão a redução das taxas de evasão, a ocupação de vagas ociosas e o aumento de postos para o ingresso na universidade, além da revisão da estrutura acadêmica com a reorganização dos cursos de graduação e a atualização de metodologias de ensino e de aprendizagem. A partir de apresentação dos planos de reestruturação, o Ministério da Educação (MEC) destinou recursos financeiros para cada instituição construir e readequar a infraestrutura, comprar bens e serviços e custear despesas com pessoal.