O globo, n. 31079, 09/09/2018. País, p. 8

 

Uma campanha de candidatos a vice nada decorativos

Cristiane Jungblut

Eduardo Bresciani

Maria Lima

09/09/2018

 

 

Neste ano, os segundos nas chapas presidenciais ganharam protagonismo e estão saindo a campo para buscar votos

A velha máxima de que “candidato a vice-presidente é peça decorativa” não vale em 2018. Nesta campanha, eles ganharam maior relevância e vão a campo buscar votos, tanto em agendas próprias quanto nas redes sociais. Depois do atentado a Jair Bolsonaro (PSL) ocorrido na quinta-feira, o general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB) será mais um a ganhar espaço e ter a missão de ampliar o eleitorado de sua chapa. Escolhido na última hora por Bolsonaro, após recusas de vários aliados, Mourão é um dos principais conselheiros do presidenciável.

Presidente do Clube Militar e conhecido por polêmicas — em 2017, defendeu a possibilidade de uma intervenção militar—, o vice de Bolsonaro vinha se dedicando a agendas mais reservadas, como palestras, encontros com corporações e visitas a candidatos da coligação. Longe de ser tão conhecido quanto o presidenciável e sem o mesmo carisma, caberá a ele manter algum nível de campanha nas ruas enquanto o cabeça da chapa estiver no estaleiro. Bolsonaro, no entanto, afirma confiar muito em Mourão e várias vezes justificou a escolha do companheiro com uma frase que pode servir de motor para essa nova fase:

— Escolhi um vice que é a minha cara.

A vice também está em ascensão na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB). A senadora Ana Amélia (PP) fez sua estreia na TV na quinta-feira passada e terá cada vez mais espaço no palanque virtual do candidato. Com larga experiência em jornal, rádio e TV, a comunicadora gaúcha já vinha atuando de forma frequente em redes sociais. Nos bastidores, dá dicas aos assessores da campanha e ao próprio Alckmin. Ao tucano, ela tem pedido que ele fale de forma mais coloquial.

—Não adianta falar de crise fiscal no abstrato. Tem que dizer que se gastou demais —diz Ana Amélia. Há duas semanas, Ana Amélia atuou como mestre de cerimônias do seu companheiro de chapa na passagem dele pelo Rio Grande do Sul. Em alguns eventos de que o tucano participou, como a Expointer, a tradicional feira agropecuária na Região Metropolitana de Porto Alegre, Ana Amélia foi até mais saudada do que Alckmin —que não foi reconhecido por alguns eleitores ao passear pelos estandes de carrinho motorizado.

Na campanha do tucano, pretende-se explorar ao máximo a atuação de Ana Amélia como senadora para capturar o voto das mulheres, maior segmento entre eleitores indecisos. Ana Amélia cumpre outro papel importante: tentar estreitar os laços da campanha com o agronegócio e recuperar a preferência dos eleitores no Sul — que estão se inclinando a votar em Bolsonaro e Alvaro Dias (Podemos).

— Não serei uma vice decorativa. Será uma relação respeitosa, mesmo ele tendo me chamado de Kátia Abreu. Quem nunca cometeu um ato falho? — disse Ana num evento no Sul, arrancando risos dos empresários presentes ao lembrar da gafe de Alckmin, que a confundiu com a senadora por Tocantins e vice na chapa de Ciro Gomes (ambos do PDT).

Chapas complementares

Na campanha do pedetista, Kátia cumpre papel semelhante ao de Ana Amélia. Além de ajudar a atrair o voto feminino, a senadora do PDT, enquanto ruralista, tem cumprido agendas próprias em estados com forte produção agrícola no Norte e no Centro-Oeste.

Eduardo Jorge, o vice do PV de Marina Silva, tem atuado para conquistar uma parcela do eleitorado mais à esquerda, que estranha as posições mais conservadoras da candidata da Rede, como ser contra o aborto e a liberação de drogas ilícitas. O caso mais complexo é o do PT.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad foi indicado a vice na chapa de Lula, mas deverá substituir o ex-presidente, declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como candidato. Haddad iniciou uma maratona pelo Nordeste, nicho dos votos de Lula, onde precisa se tornar mais conhecido.

Ao seu lado, a deputada gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB), que já funciona como uma vice extraoficial. O combinado é que, quando Haddad for oficializado candidato, ela será indicada formalmente a vice.