Título: PSDB tenta resgatar Perillo da crise na CPI
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2012, Política, p. 2

Governador de Goiás é considerado peça-chave na configuração de poder dos tucanos, que mobilizam tropa de choque para acompanhar o depoimento na terça-feira. Desafio é rebater os indícios de ligação com Cachoeira

Alvo principal do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI do Cachoeira, pressionado pelas versões divergentes quanto à venda de uma mansão em Goiânia em que o bicheiro foi preso durante operação da Polícia Federal e acossado sob as denúncias de que teria pago um jornalista, durante a campanha de 2010, com recursos oriundos do crime organizado, o governador de Goiás, Marconi Perilllo, vai depor na próxima terça com seu prestígio político ainda intacto, tanto no estado quanto no PSDB. O partido promete enviar a tropa de choque para defender o correligionário.

Apesar de toda a maré contrária, os tucanos esforçam-se para salvar Perillo, porque enxergam no governante goiano uma opção de poder fora do eixo sudeste-sul do país. Administrador de um estado importante para a oposição, de forte cunho agrícola, Perillo representa, para o PSDB, um contraponto ao PT, que sempre teve dificuldades em angariar votos e simpatia nas regiões com economia concentrada no agronegócio.

Quadro independente dentro de um partido dividido entre Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), Perillo é visto pela direção da sigla como alguém que consegue ter um contato direto com as massas, habilidade rara entre os tucanos. Avalia-se que, a curto prazo, ele possa enfrentar dificuldades nas eleições municipais deste ano, mas nada ainda suficiente para embaçar 2014, quando deve tentar a reeleição. Assim como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), há indícios de ligações entre o governador e Carlinhos Cachoeira. Agora, na CPI, Perillo tentará se proteger com a sua rede de apoio social e político. "Demóstenes tinha admiradores. Perillo tem seguidores", resumiu um político, contrariado com a possibilidade de o governador resistir à atual crise política.

O Correio apurou que a expectativa do PSDB quanto ao depoimento de Perillo é angustiante. O partido sabe que, depois de bradar durante três semanas que o dirigente estava à disposição dos integrantes da CPI para prestar todos os esclarecimentos necessários, ele tem a obrigação de conseguir encerrar as especulações que envolvem seu nome. "A situação se complicou com as denúncias de caixa dois da contravenção durante a campanha de 2010. A polêmica quanto à casa é matéria antiga. Mas receber dinheiro de bicheiro para pagar jornalistas é algo grave", resumiu um integrante da alta cúpula tucana.

A novela sobre a venda da casa em que Carlinhos Cachoeira foi preso, em 29 de fevereiro, começou a ganhar novos contornos após o depoimento de Walter Paulo de Oliveira Santiago. Dono da Faculdade Padrão e administrador da empresa Mestra, Walter Paulo afirmou que pagou a mansão em dinheiro vivo, no valor total de R$ 1,4 milhão. O depoimento contradiz as palavras do ex-vereador do PSDB Wladimir Garcez, que afirma ter comprado o imóvel com três cheques — dois de R$ 500 mil e outro de R$ 400 mil — obtidos com Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste.

Sonegação O ar matuto de Walter Paulo desconcertou os integrantes da CPI. Os petistas saíram da reunião convencidos de que houve, no mínimo, por parte do governador Marconi Perillo, sonegação fiscal , já que o tucano declarou ter recebido apenas os três cheques, não admitindo o recebimento de qualquer quantia em espécie.

Em meio ao bombardeio, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), manteve o discurso de blindagem. "Estão revirando uma história antiga. Perillo está à disposição da CPI há três semanas e o PT fica adiando o depoimento para encontrar mais coisas. Ele tem que vir logo para esclarecer tudo de uma vez por todas", defendeu o senador do PSDB.

Em Goiás, a crise envolvendo Perillo parece enredo de filme distante. No interior do estado, não há sinais de perda de prestígio do tucano. É justamente onde o governador é mais forte, fruto de um governo entre 1994 e 2002 amplamente focado na implementação de programas sociais e de distribuição de renda. Entre o empresariado, ele também é visto como um governante que foi capaz de abrir as fronteiras goianas para o desenvolvimento industrial e comercial.

O impacto negativo mais visível da crise do Cachoeira na popularidade de Perillo é verificado em Goiânia e na região metropolitana da capital, localidades em que o PT consegue competir em igualdade de condições com o PSDB — Goiânia é governada pelo petista Paulo Garcia. Tucanos do estado afirmaram ao Correio que, entre o eleitorado de Perillo, a imagem é de que o governador estaria sendo vítima de uma "vingança do PT e de Lula" (veja abaixo).

"Estão revirando uma história antiga. Perillo está à disposição da CPI há três semanas. Ele tem que vir logo para esclarecer tudo de uma vez por todas" Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado

Para saber mais

Caixa 2 de campanha As desavenças políticas entre o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começaram na crise do mensalão, em 2005. Na época, Perillo, que era senador por Goiás, disse ter alertado que o deputado Sandro Mabel (GO), então líder do extinto PL na Câmara (hoje PR) teria oferecido uma "mesada" para que a deputada Raquel Teixeira (PSDB) deixasse os tucanos e se filiasse ao PL.

Lula sempre manteve, ao longo do processo, o discurso de que desconhecia a existência de compra de apoio no Congresso. Durante uma viagem que fez à França, gravou entrevista a uma jornalista de uma tevê francesa — o material acabou sendo veiculado no Brasil —, responsabilizando o PT por organizar um esquema de financiamento ilegal de campanhas políticas, popularmente conhecido como caixa 2. Mas jamais admitiu envolvimento do governo no episódio.

Durante a campanha presidencial de 2010, em comícios realizados na região metropolitana de Goiânia e no Entorno, Lula sempre fez questão de frisar que um de seus grandes objetivos era derrotar o tucano, candidato a governador de Goiás. Fez discursos inflamados nesse sentido e trabalhou intensamente nos bastidores para a instalação da CPI do Cachoeira, que ouvirá Perillo na próxima terça. (PTL)