Título: Juíza manda soltar ex-diretor da Delta
Autor: Campos, Ana Maria; Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2012, Política, p. 4
Cláudio Abreu foi interceptado em ligações telefônicas negociando com o bicheiro Carlinhos Cachoeira contratos da empresa. Ficou preso na Papuda durante 44 dias
Às vésperas dos depoimentos dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), na CPI do Cachoeira, o ex-diretor do Centro-Oeste da empreiteira Delta Cláudio Abreu, um dos principais personagens do escândalo, teve a liberdade decidida pela Justiça ontem.
Suspeito de fraude de licitações públicas e pagamento de propina, o homem que tinha ligação direta com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, flagrado em interceptações telefônicas negociando contratos de obras para a construtora, estava preso desde 25 de abril, no presídio da Papuda, em Brasília. Até 22h40, ele ainda não havia sido liberado. A previsão da direção da Papuda era de que isso ocorreria entre 0h e 2h de hoje.
A revogação da prisão preventiva foi determinada pela juíza da 5ª Vara Criminal de Brasília Ana Cláudia Barreto. No entendimento da magistrada, a manutenção de Abreu na cadeia não se justifica porque ele não representa nenhum tipo de ameaça à ordem pública. No despacho, emitido no fim da tarde de ontem, a juíza ordenou que o ex-diretor da Delta entregue o passaporte, compareça perante o juízo todos os meses entre os dias 10 e 15 e não mantenha qualquer tipo de contato com os demais réus ou outras pessoas mencionadas na denúncia do Ministério Público.
Na petição que pediu a liberdade de Cláudio Abreu, os advogados argumentaram que "não se fazem presentes os pressupostos da prisão cautelar, sendo o requerente merecedor do benefício de responder ao processo em liberdade uma vez que é primário e possui endereço fixo".
Ele era o diretor mais influente da Delta. Tinha o poder de movimentar a conta nacional da empresa. Por isso, teve o sigilo quebrado pela CPI do Cachoeira. Em 30 de maio, Cláudio Abreu compareceu para prestar depoimento na comissão, no entanto, adotou a mesma tática de Cachoeira e ficou calado. O ex-diretor foi preso em Goiânia durante a operação Saint-Michel, um desdobramento da Monte Carlo.
Na segunda-feira, a Justiça também concedeu habeas corpus em favor do sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, guardião da "caixa-preta" do esquema Cachoeira. Neste caso, a decisão foi colegiada e tomada por três desembargadores. Utilizaram o mesmo argumento de que ele não representava risco à ordem pública.
O contraventor Carlinhos Cachoeira tentou ser solto por meio de habeas corpus, mas a Justiça indeferiu o pedido de seus advogados. O bicheiro permanece no presídio da Papuda.
Colaborou Larissa Leite
"Não se fazem presentes os pressupostos da prisão cautelar, sendo o requerente merecedor do benefício de responder ao processo em liberdade uma vez que é primário e possui endereço fixo" Trecho da petição da defesa de Cláudio Abreu para sua liberação