Título: Artilharia contra o PT no Recife
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2012, Política, p. 5

Impedido pelo próprio partido de disputar a reeleição, João da Costa ameaça apelar à Justiça e compromete aliança com o PSB

A pacificação do PT no Recife — condição imposta pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para apoiar a candidatura do senador Humberto Costa (PT) à Prefeitura —, está mais difícil. Ontem, em entrevista a uma rádio local, o prefeito João da Costa (PT), impedido de disputar a reeleição pela Executiva Nacional do partido, mesmo após ter vencido as prévias, informou que vai recorrer, conforme o próprio estatuto da sigla, ao Diretório Nacional. O colegiado é formado por mais de 100 membros e representa uma instância acima da Executiva, composta por 22 integrantes. Caso não obtenha sucesso, há chance de levar o imbróglio à Justiça comum. A declaração do prefeito fortalece as chances de o PSB lançar candidatura própria.

O governador colocou as cartas na mesa ao exonerar, na quinta-feira, respeitando os prazos eleitorais, os quatro secretários mais fortes do governo numa clara demonstração de que um deles pode entrar na disputa eleitoral. Ontem, o PCdoB, partido que compõe a Frente Popular, também não assegurou apoio a Humberto Costa. Informações extra-oficiais apontam que Eduardo Campos já teria estabelecido um prazo para o candidato petista costurar a união do partido e convencer o prefeito João da Costa a apoiá-lo. A missão, entretanto, não é fácil. Humberto Costa bate na tecla de que não trabalha com a possibilidade de não ter o apoio do governador.

A tropa de choque do prefeito, liderada pelo deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), defende que, se o Diretório Nacional não homologar o nome de João da Costa, ele entre na Justiça comum. Nesse cenário, o caminho da expulsão do PT estaria pavimentado. A estratégia é colocar o prefeito como vítima de um processo autoritário e minar o nome de Humberto Costa a partir do carimbo de candidato biônico.

"Os limites são as datas das convenções. A decisão tomada pela Executiva Nacional não me convenceu politicamente. Não foi usado nenhum argumento político. Prefiro, primeiro, recorrer às instâncias do partido. A outra possibilidade (entrar na Justiça comum), a gente ainda vai analisar", declarou João da Costa, em entrevista a uma rádio local.

Costura O ex-prefeito do Recife e deputado federal João Paulo, antigo aliado de João da Costa, pediu mais "tolerância" ao governador Eduardo Campos para que todo o processo de costura seja consolidado. "É um momento difícil. É importante compreender que a direção e a Executiva Nacional têm tido também paciência para que o PT do Recife resolva a situação", afirmou o deputado.

Estimulado pela militância, que o recebeu na noite de quinta-feira com festa e palavras de ordem contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Aeroporto Internacional do Recife, João da Costa foi às ruas, na manhã de ontem, vistoriar algumas obras. "Agora, é trabalhar cada vez mais para corresponder à expectativa da população. Estamos fazendo um esforço grande", disse João da Costa. À noite, o prefeito, ao lado de todos os secretários, participou da abertura oficial do são-joão, no Sítio da Trindade, bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.

"Ô, Lula, decepção, no Recife você não manda, não!" Coro entoado por cerca de 150 militantes que recepcionaram o prefeito do Recife, João da Costa, na noite de quinta-feira