O globo, n.31071 , 01/09/2018. País, p.6

Haddad recorre a Lula para traçar estratégia após decisão do TSE.

Sérgio Roxo

 

 

Candidato a vice na chapa petista vai visitar ex-presidente em Curitiba, na segunda-feira, para definir rumos da campanha presidencial

Com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de negar o registro da candidatura de Lula à Presidência, o candidato a vice na chapa do PT, Fernando Haddad, vai se encontrar, na próxima segunda-feira, com o ex-presidente, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, para definir os próximos passos da estratégia para as eleições. Lula está preso na capital paranaense, onde cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro. O PT terá que definir a forma de fazer a troca na cabeça da chapa diante da derrota no TSE. Mesmo com as movimentações do tribunal já indicando que o julgamento aconteceria ontem, Lula se recusou a tratar do assunto na quinta-feira, quando recebeu a visita de Haddad. Por isso, a necessidade de uma nova conversa na segunda-feira.

— Estarei com Lula na segunda, vou levar ao conhecimento dele o resultado do Tribunal Superior Eleitoral e ali vamos discutir o que fazer — afirmou Haddad, no começo da tarde de ontem, em Fortaleza.

Na noite de ontem, Haddad encerrou apressadamente um encontro com lideranças de movimentos sociais, em Fortaleza (CE), para se reunir por teleconferência, do hotel onde estava hospedado, com integrantes da coordenação de campanha, em São Paulo, para discutir o quadro político. Na sua rápida fala antes de sair, destacou que o julgamento do TSE acontecia exatamente dois anos depois de o Senado sacramentar o impeachment da expresidente Dilma Rousseff. Mesmo com o futuro de Lula sendo definido em Brasília, Haddad manteve a sua rotina de campanha e praticamente não acompanhou o julgamento no TSE. Na visita ao Ceará, chegou a se encontrar com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), chamado pelos petistas de “golpista” por ter votado a favor do impeachment. De acordo com o vice petista, Eunício pediu para avisar a Lula que votará no ex-presidente ou em quem ele indicar para o Planalto. Apesar de Haddad ainda se esforçar para manter a discrição sobre a sua condição, seu nome já começou a ser aclamado como cabeça de chapa por aliados antes mesmo da definição do TSE.

— Agora é trabalhar para colocar a campanha na rua com o Haddad — afirmou o deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder da oposição na Câmara.

 

VISITA A GARANHUNS

Ao chegar a Fortaleza na manhã de ontem, Haddad recebeu tratamento de candidato principal. Acostumado até então a passar quase despercebido nos aeroportos, o ex-prefeito de São Paulo foi recepcionado por um grupo de cerca de 150 pessoas, convidadas por lideranças petistas cearenses, com bandeiras e instrumentos musicais. Mesmo pessoas próximas a Haddad avaliavam que seria mais eficaz mostrar inicialmente no horário eleitoral Lula ainda como candidato. Nos programas que estavam prontos, havia grande espaço reservado ao expresidente e cenas de apresentação de Haddad, ainda desconhecido dos eleitores fora de São Paulo. Além disso, caso Haddad se torne candidato, as aparições de Lula devem ficar restritas a 25% do tempo de propaganda. O ex-presidente havia deixado uma série de vídeos gravados antes de ser preso, em abril, com depoimentos sobre a situação do país. Mesmo de outra forma, o PT continuará apostando na vinculação com Lula para tornar Haddad conhecido. Foram selecionadas dezenas de imagens dos dois juntos. Uma das ideias é mostrar que a relação é antiga e duradora. Também serão destacadas cenas do novo candidato inaugurando campus de universidades federais ao lado do padrinho político nos tempos em que era ministro da Educação. Há também entrevistas com elogios do ex-presidente. Hoje, Haddad visitará Garanhuns, terra natal de Lula. A última viagem do ex-presidente para a cidade ocorreu em 2010, quando o petista ainda estava no Palácio do Planalto. Apesar de a viagem de Haddad ter sido marcada antes do julgamento do TSE, a visita faz parte da estratégia que o PT pretende adotar daqui em diante. A ideia é intensificar cada vez mais a vinculação entre as figuras de Haddad e do ex-presidente.

— É muito simbólico eu estar na terra do Lula —afirmou Haddad, durante a noite de ontem, ainda em Fortaleza, enquanto os ministros do TSE votavam o pedido de impugnação do expresidente.

Pela manhã, Haddad fará gravações para o horário eleitoral em Caetés, local onde Lula nasceu, e que, na época, era um distrito de Garanhuns. À tarde, haverá um ato político. A intenção é colar ainda mais a imagem dos dois, para facilitar a transferência de votos. Na última pesquisa do Ibope, Lula teve 37% das intenções de voto, enquanto Haddad marcou só 4%.