Título: China é preocupação
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Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2012, Economia, p. 15
Ainda que não tenha captado o movimento de redução de juros na China, promovido na quinta-feira, pela primeira vez desde o final de 2008, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), comandado por Alexandre Tombini, presidente do BC, deixou evidente a preocupação com a situação do país asiático, a segunda economia do mundo. A China é citada em três parágrafos do documento. Primeiro, para destacar a desaceleração da atividade, em particular da produção industrial e da corrente de comércio, ao longo do segundo trimestre do ano. Depois, para contabilizar o recuo da inflação do país em abril, "embora sem a alteração da taxa básica de juros".
Conforme salientou o Copom, a China vinha preferindo mexer na taxa de recolhimento compulsório — dinheiro que os bancos devem deixar parado no Banco Popular da China, o BC chinês. O nível exigido de compulsório já sofreu duas reduções este ano. Os próprios economistas reconhecem que a redução de juros básicos na China, para 6,31% ao ano, surpreendeu. "O mercado esperava novas medidas de afrouxamento monetário, concentradas em reduções das alíquotas das reservas compulsórias, instrumento mais usado pelo governo de Pequim para impulsionar a economia", disse Luis Otávio de Souza Leal, do ABC Brasil.
A surpreendente decisão chinesa de cortar os juros só confirma os temores do Copom com "o período de incerteza, acima do usual, da economia mundial". Para o comitê, permanecem elevados os riscos associados ao cenário de contenção fiscal e de recrudescimento da crise europeia. "A despeito do substancial provimento de liquidez pelo Banco Central Europeu (BCE) no primeiro trimestre do ano, persistem riscos elevados para a estabilidade financeira global, entre outros, devido à exposição de bancos internacionais às dívidas soberanas de países com desequilíbrios fiscais da Zona do Euro, bem como ao aumento da incerteza política" analisa a ata.
Mesmo antes do rebaixamento do rating dos bancos espanhóis, o Copom já vinha reconhecendo e colocando na conta "os sinais de fragilidade do sistema bancário na Espanha". Segundo o Copom, essa fragilidade provocou a elevação dos prêmios de risco do país, dificultando o acesso ao mercado de dívida soberana. (VC)
» Exportação prejudicada
Embora ressalte os efeitos positivos da fraqueza econômica global sobre os níveis de inflação — o que tem permitido a redução das taxas de juros —, a ata do Copom mostra preocupação com outra consequência desse processo: a queda do preço das matérias-primas exportadas pelo Brasil. Os diretores do BC avaliam que "é plausível afirmar que a redução nas metas de crescimento da China, aliada à fragilidade da economia mundial, deve gerar algum impacto sobre preços de commodities".