Título: Socorro à Espanha deve sair ainda hoje
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Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2012, Economia, p. 16

Rombo de até 100 bilhões de euros no sistema bancário do país deixou o governo em uma situação insustentável. FMI fará parte do pacote de ajuda para evitar o pior

Washington e Madri — Sem saída para resolver, sozinho, os graves problemas de seu sistema financeiro, o governo espanhol deve anunciar, neste fim de semana —possivelmente, hoje —, um pedido de ajuda para salvar os maiores bancos do país, que podem ter um rombo de até 100 bilhões de euros. O pacote de socorro deve reunir a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que ontem admitiu a disposição em evitar o desastre da economia espanhola, com reflexos em todo o mundo.

Segundo o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vitor Constancio, não há escapatória para o governo espanhol, a não ser um socorro imediato. "É esperado que a Espanha formule um pedido de ajuda exclusivamente para a recapitalização dos bancos. E isso deve acontecer rapidamente", afirmou. "O anúncio é esperado para a tarde deste sábado", disse à agência Reuters uma das autoridades da UE. Se for confirmado o pedido, a Espanha será o quarto país a buscar assistência desde que a crise da dívida da Zona do Euro começou. O pacote de ajuda à Espanha deverá ser fechado por meio de conferência hoje pela manhã com representantes dos 17 países da união monetária.

Pelas contas da Ceyla Pazarbasioglu, diretora do Departamento de Mercado de Capitais do FMI, o buraco nos bancos espanhóis é menor do que os 100 bilhões de euros estimados pela agência de classificação de risco Fitch, que, na quinta-feira, cortou o rating da quarta maior economia do Eurogrupo em três níveis. O FMI acredita que as instituições espanholas precisam de ao menos 40 bilhões, cifra levantada por meio de um teste de estresse que mediu a capacidade dos bancos de suportarem o agravamento da crise mundial. "De qualquer forma, não descartamos a necessidade de um volume maior de recursos para uma proteção confiável. É possível que os bancos precisem de um a quantia 1,5 ou duas vezes maior que a necessidade mostrada no teste de estresse", ressaltou um técnico do Fundo, que preferiu não se identificar.

Para as autoridades europeias, o governo da Espanha percebeu a seriedade de seu problema. Mas, apesar disso, a Alemanha não pressionará o primeiro-ministro Mariano Rajoy para pedir um resgate internacional. Segundo a chanceler alemã, Angela Merkel, "está sempre claro que aqueles países que querem (fazer uso de) solidariedade, fazem o pedido por si só". Ela foi além: "Cabe aos países se voltarem para nós. Isso não aconteceu até agora e, portanto, não haverá qualquer pressão aqui ou qualquer coisa do tipo".

Na avaliação da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, o socorro aos bancos espanhóis é vital para o restabelecimento da saúde do sistema financeiro europeu e o fortalecimento da economia global, que luta para recuperar seus passos e corre o risco de perder terreno. Para ela, é urgente que os líderes da Zona do Euro participem de forma direta nos bancos, e, no longo prazo, complementem a união monetária com a união financeira. "Unificar a supervisão dos bancos, instituir uma autoridade de resolução bancária e um fundo único de seguro de depósito são medidas essenciais necessárias", afirmou. "Deixe-me ser clara: o coração da reparação dos bancos europeus está na Europa. Isso significa mais Europa, não menos", sentenciou.