O Estado de São Paulo, n. 45666, 28/10/2018. Política, p. A4

 

País vai às urnas dividido e em busca de reconciliação

28/10/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 2º TURNO / Desafio. Eleitores brasileiros escolhem hoje um novo presidente da República, que terá a responsabilidade de cicatrizar as divisões expostas durante o processo eleitoral

O s eleitores brasileiros escolhem hoje um novo presidente da República, que terá a responsabilidade de conduzir o País pelos próximos quatro anos. Em uma disputa com superlativo grau de agressividade e incerteza, Jair Bolsonaro (PSL) se manteve como líder nas pesquisas de intenção de voto durante todo o segundo turno contra o petista Fernando Haddad.

A eleição presidencial de 2018 foi marcada por um ativismo nas redes sociais de alcance inédito e expôs um processo de fratura na sociedade brasileira. Seu desfecho impõe ao próximo mandatário o desafio de reconciliar a Nação em torno de um programa que encerre as crises política e econômica.

Os finalistas da disputa, porém, marcaram suas campanhas pela tentativa de "desconstrução" do adversário, eufemismo para ataques mútuos e bordões que incluem as palavras "não" e "fora" - acima de qualquer proposta para o País. Além disso, da reforma da Previdência à agenda de inovação para o setor produtivo, há pouca clareza de como os candidatos realizarão algumas das principais promessas apregoadas na campanha.

A votação em segundo turno ocorrerá hoje também em 13 Estados e no Distrito Federal. Levantamento feito com base nas mais recentes sondagens divulgadas pelo Ibope mostra que das 14 unidades federativas onde a disputa se estendeu apenas em três os candidatos que lideram as pesquisas não receberam apoio ou declararam voto em Bolsonaro.

Em São Paulo, no maior colégio eleitoral do País, a disputa pelo governo é a mais acirrada desde 1998, quando Mario Covas se reelegeu após batalha histórica contra Paulo Maluf. Naquele ano, a vitória foi de virada e apoiada no antimalufismo. Agora, 20 anos depois, os candidatos chegam ao dia da votação com chances de triunfo e discursos que remetem, mais uma vez, ao sentimento do "contra". João Doria, do PSD B, espera vencer colado no antipetismo e Márcio França, do PSB, na rejeição aos tucanos, que comandam o Estado desde Covas. Pesquisas de intenção de voto indicam empate técnico entre o tucano e o atual governador.

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Bolsonaro mantém aliados em 'alerta' e Barbosa apoia Haddad 

Ricardo Galhardo e Renata Agostinni
28/10/2018

 

 

Às vésperas da votação, ex-presidente do STF anuncia voto no petista; no Rio, Silas Malafaia evita clima de 'já ganhou'

Na véspera da votação em segundo turno, o candidato do PT, Fernando Haddad, recebeu ontem o apoio do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Aliados de Jair Bolsonaro (PSL) mantiveram no último dia de campanha a mensagem de alerta contra o clima de "já ganhou".

O gesto de Barbosa, que chegou a ser cogitado para a disputa presidencial no primeiro semestre deste ano, veio através do Twitter: ''Votar é fazer uma escolha racional. Eu, por exemplo, sopesei os aspectos positivos e os negativos dos dois candidatos  que restam na disputa.

Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo.

Por isso, votarei em Fernando Haddad", escreveu Barbosa, relator do processo do mensalão, que condenou a antiga cúpula do PT por corrupção e outros crimes.

No início da campanha pelo segundo turno, Haddad visitou em Brasília o ex-ministro do Supremo, que é filiado ao PSB. "O apoio do Joaquim Barbosa é muito significativo. Ele tem uma representação muito forte e representa valores com os quais eu compartilho", disse Haddad antes de fazer uma caminhada em Heliópolis, na capital paulista.

Ao comentar a manifestação de Barbosa, o petista, sem citar nominalmente Ciro Gomes (PDT), lamentou que outros "democratas" não tenham tido a mesma "coragem".

"Já convidei todos os democratas  a estarem comigo porque sinto que o Bolsonaro é um risco institucional. O que o Joaquim Barbosa falou é o que todo mundo sabe e alguns têm medo de falar. Nem todo mundo tem coragem de admitir o risco que ele realmente representa para o País", afirmou.

Questionado sobre Ciro, que chegou ontem da Europa, mas se manteve calado, Haddad tentou evitar o assunto. "Quero falar de quem fez manifestação até sábado (ontem)."

'Quietinho e calado'. No Rio, o pastor evangélico Silas Malafaia deixou na manhã de ontem a casa de Bolsonaro na Barra da Tijuca reproduzindo o discurso moderado que o candidato adotou nos últimos dias - evitando o clima de "já ganhou".

Malafaia relatou o sentimento de Bolsonaro na véspera da  votação - o deputado fez quase toda a campanha do segundo turno de casa, após ser esfaqueado ainda no primeiro turno. "Ele sabe que só se ganha depois que se contam os votos.

(Tem de seguir) Trabalhando e tudo. Tem que esperar. A eleição não é a gente que diz que está decidido. E o povo que decide no voto", disse Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Segundo o pastor, Bolsonaro permaneceria o dia de ontem em casa "quietinho e calado".

Apesar de dizer não esperar um eventual governo Bolsonaro favorável aos evangélicos, Malafaia tem relação antiga com o candidato. Celebrou o seu casamento com a evangélica Michelle.

"Se a vitória de Bolsonaro for para atender anseios de evangélicos, nós somos medíocres. Evangélico é cidadão como todos que estão aí. As pautas sociais são no Congresso. Não vejo esse viés", disse Malafaia, lembrando que Bolsonaro é católico.

Na noite de sexta-feira, Bolsonaro já havia usado a conta do Facebook de seu filho Flávio Bolsonaro, eleito senador pelo PSL, para pedir empenho na reta final, evitando dar a eleição como ganha. ''Vamos votar domingo para que a gente evite qualquer surpresa", disse.

 

Declaração

"Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso, votarei em Fernando Haddad"

Joaquim Barbosa​, EX-PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL  FEDERAL