Natália Portinari
03/09/2018
A pouco mais de um mês para a eleição, legendas só transferiram 34% da verba de R$ 1,7 bilhão do fundo eleitoral. Em meio a queixas de falta de dinheiro para alugar carros e imprimir material, dirigentes das siglas culpam burocracia e diretórios estaduais
Duas semanas após o início da campanha, candidatos receberam de seus partidos apenas R$ 585 milhões do fundo eleitoral, 34% do R$ 1,71 bilhão total a que têm direito. Financiado pelo Tesouro Nacional, o fundo foi inaugurado nestas eleições para substituir as doações de empresas, proibidas em 2015. Apesar de os diretórios das legendas terem recebido o dinheiro, candidatos relatam atraso no repasse de suas cotas.
Levantamento do GLOBO com base nos relatórios enviados pelos candidatos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que apenas 1.041 candidatos declararam ter recebido verba pública. É uma fração de 3,7% de um total de 27.660 inscritos para concorrer a deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente neste ano. O dinheiro é repassado pelo partido após o candidato informar o CNPJ de sua conta, mas não há prazo para fazer a transferência.
O candidato a governador do Espírito Santo pelo PSL, o deputado federal Carlos Manato, ainda não recebeu o fundo eleitoral e relata que usou dinheiro do partido para imprimir santinhos.
— Não contratamos marqueteiro, as mídias sociais estão no osso, materialzinho no osso —diz Manato.
Apenas quatro candidatos do PSL receberam suas partes do fundo, e 19,5% de tudo a que o partido tem direito foi para Luciano Bivar, candidato a deputado federal em Pernambuco e presidente licenciado do partido.
A sigla mais atrasada na distribuição do fundo é o PSD. Apenas dois candidatos a deputado estadual no Rio Grande do Sul haviam registrado repasses, de R$ 50 mil e R$ 30 mil, do total de R$ 112 milhões recebidos pelo partido do Tesouro Nacional. Os candidatos do PV, PDT e PTB também haviam recebido menos de 10% do dinheiro de seus diretórios.
Procurado, o PSD afirmou que todo o dinheiro já foi distribuído para os diretórios estaduais, com a orientação de que 30% da verba deveria ir para candidaturas de mulheres. Carlos Lupi, presidente do PDT, disse que a distribuição depende “de cada estado e de cada candidato enviar a documentação”, e que muitos ainda não têm conta aberta para receber os fundos. Os demais partidos não responderam.
— Até agora não recebi um real, estou administrando com recursos próprios —afirma o deputado federal Marcelo Nino (PSB-BA), candidato à reeleição. — Não tem dinheiro para combustível, nem para contratar gente para panfletar.
O deputado federal Ronaldo Lessa (PDT-AL), que concorre à reeleição, relata que, no grupo de WhatsApp da bancada de seu partido, “a reclamação é geral” pelo atraso do dinheiro.
Do dinheiro já distribuído, 53% foram para candidatos à Câmara, 14,8% para o Senado, 13%, para Presidência, 11,8% para governos estaduais e apenas 7% para assembleias estaduais. Nos critérios de distribuição registrados pelos partidos no TSE, a maioria privilegiou a formação de bancada na Câmara e deixou de lado os candidatos a deputado estadual.
O cronograma apertado prejudicou também a produção dos programas de televisão. Um marqueteiro ouvido pela reportagem disse que, com os atrasos, os publicitários se tornam “financiadores informais”, tirando dinheiro do próprio bolso para serem reembolsados depois.