O globo, n. 31072, 02/09/2018. País, p. 4

 

Sem Lula, PT decide atacar veto do TSE

Sérgio Roxo

02/09/2018

 

 

Partido manterá exposição de ex-presidente e não indicará Haddad imediatamente

Embora o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tenha barrado a candidatura do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT resiste a admitir que ele está fora da eleição e não pretende anunciar de imediato sua substituição pelo vice na chapa, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. A estratégia é utilizar os próximos dias de campanha em rádio e TV para confrontar a decisão da Justiça Eleitoral e reforçar a exposição da imagem de Lula, como já ocorreu no primeiro dia de propaganda. Também quer usar este período para o que chama de “transição” do candidato inelegível para o nome que efetivamente estará nas urnas no dia 7 de outubro. O plano será discutido amanhã, em Curitiba, com o próprio Lula, que receberá a visita de Haddad na prisão.

Caso o próprio ex-presidente não altere o planejamento, o partido atuará em três frentes antes de anunciar Haddad. Além do uso ostensivo da imagem de Lula, o PT destinará seus dois minutos e 20 segundos de tempo no horário eleitoral para sustentar que o TSE descumpriu recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU para que a participação de L ulana disputa fosse assegurada. Atese, contudo, foi rechaçada por seis dos sete ministros da Corte eleitoral, sendo adotada apenas pelo ministro Edson Fachin. A legenda ainda vai usara propaganda para apresentar Haddad, desconhecido por parcela expressiva do eleitorado petista, especialmente no Nordeste.

O PT tem dez dias para indicar um novo candidato. Se não fizera indicação, fica fora da eleição. A Justiça Eleitoral autorizou o partido a continuara exibir programa no horário eleitoral mesmo antes de apresentar um novo nome, desde que Lula não seja apresentado como candidato e suas imagensnão ocupem mais de 25% do tempo da propaganda.

Ontem, Haddad manteve sua agenda se apresentando como vice. O ex-prefeito visitou Garanhuns (PE), cidade natal de Lula. No local, gravou imagens para o programa eleitoral, fez uma caminhada no município e se encontrou com lideranças políticas da região. Mas resistiu o quanto pôde a se apresentar como o substituto. Haddad afirmou que o partido ainda buscará reverter a decisão contra a candidatura de Lula, com recurso ao STF. — Enquanto couber recursos, vamos usar todos os meios jurídicos disponíveis —disse. Pela manhã, ele foi a uma fazenda no município de Caetés, vizinho a Garanhuns, para fazer gravações. Lula nasceu em Caetés, que na época era um distrito de Garanhuns.

É o "Andrade"

Na saída da fazenda, o ex-prefeito de São Paulo visitou rapidamente parentes distantes do ex-presidente que vivem na cidade e ouviu questionamentos sobre a sua indicação para candidato. Vestido com um chapéu de vaqueiro, foi indagado por uma mulher:

— O Lula mandou votar em você?

— Mandou votar em nós, porque nós formamos uma chapa —despistou Haddad. À tarde, em Garanhuns, Haddad sentiu novamente na pele os efeitos do desconhecimento. Apesar de ter sido assediado para posar para fotos, viu eleitores chamá-lo de “Andrade” ou simplesmente não saberem quem caminhava pelas ruas da cidade ao lado do governador Paulo Câmara (PSB), candidato à reeleição. Na tentativa de apresentar Haddad, o locutor apelou:

— Tem um ditado que diz: amigo do meu amigo é meu amigo também. Se Lula é nosso amigo, se é a migode Paulo e é amigo de Haddad, Haddad também é nosso amigo. Antes, enquanto caminhava pelas ruas ao lado de Câmara, um homem gritava:

—É o Andrade. O estudante Lucas de Oliveira Ramos, de 19 anos, saiu do município de Águas Belas, a 80 quilômetros de Garanhuns, para participar do evento e conseguiu se aproximar dos políticos para fazer uma foto. Mas perguntou apessoas de seu grupo quem era aquele ao lado de Paulo Câmara.

— Como é mesmo nome desse rapaz ? —indagava. Os programas desse período de transição devem seguir atônica do que foi exibido ontem na horado almoço. Num post de 30 segundos que começaria a ser exibido na noite de ontem, eleitores aparecem vestidos coma faixa presidencial e falando em nome de Lula. No vídeo, o próprio vice veste uma máscara de papel com o rosto de Lula.

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Para Ciro, debate ganha clareza; Marina quer mais políticos punidos

Luiza Dalmazo

Jeferson Ribeiro

02/09/2018

 

 

Um dia depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), potenciais herdeiros de votos, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) comentaram o novo cenário eleitoral. Ciro Gomes fez uma caminhada pelo calçadão de Curitiba, onde Lula está preso por corrupção e lavagem de dinheiro. —Por mais que se deteste o Lula em alguns setores e se idolatre em outros, é um trauma que um dos principais líderes do país esteja impedido de participar do processo eleitoral —afirmou ele, ao dizer ainda que foi boa a decisão do TSE ter sido tomada agora, e não mais perto das eleições, o que geraria um tumulto e poderia “tirar a legitimidade” do próximo presidente. — Agora o eleitor pode olhar para o debate com mais clareza.

No Sindicato dos Metalúrgicos do Paraná, Ciro usou números positivos do governo Lula enquanto explicava suas propostas de governo. — O desemprego era de 4 milhões de pessoas, hoje chega a 13 milhões —disse, ao explicar por que revogaria a reforma trabalhista. Perguntado se os elogios eram uma forma de cativar eleitores órfãos de Lula, Ciro contestou:

— Quem herda voto é coronel, de curral.

Por sua vez, a coordenação da campanha da ex-senadora Marina Silva deve debater nos próximos dias o impacto da decisão na corrida eleitoral. Marina cobrou, ontem, em agenda em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, julgamento de políticos com foro privilegiado.Ela disse que a saída de Lula da disputa não lhe ajuda.

— Na minha vida nunca teve essa coisa de mais fácil — disse a candidata, ao afirmar também que as eleições estão manchadas com a participação de políticos investigados e não julgados. — Não pode haver dois pesos e duas medidas. O foro privilegiado está protegendo o Renan (Calheiros), o (Romero) Jucá, o Aécio Neves. Isso não é justo, o povo quer que todos paguem pelos seus crimes. Isso vem de muito tempo. Em 2014, foi o abuso do poder econômico, caixa dois usado por PT, MDB e PSDB. E agora temos 200 parlamentares impunes, que deveriam estar sendo punidos. É por isso que vou acabar com o foro privilegiado —afirmou.