O globo, n. 31076, 06/09/2018. Editoriais, p. 2

 

Celebrado como vitória, Nafta 2 é ruim para trabalhador dos EUA

 

 

 

06/09/2018

 

 

 

Enquanto técnicos da área comercial de EUA e Canadá retomavam ontem as negociações de renovação do Nafta, o tratado comercial entre os dois países e o México, pairava no ar a ameaça de que o acordo, prestes a completar 25 anos, pode implodir. Se alguns ajustes são de fato necessários, para atualizar detalhes do pacto às condições atuais das relações comerciais entre os três parceiros, trata-se, para Donald Trump, de um acordo nocivo aos interesses americanos, sobretudo no que se refere à geração de empregos no país e ao fortalecimento industrial.

Na semana passada, Washington anunciou, com pompa e circunstância, a revisão do tratado com o México, num acerto classificado por Trump como “incrível” e vantajoso para as indústrias americanas, o que foi contestado por especialistas. Já as negociações com o Canadá caminham com lentidão e têm esbarrado em impasses mais consistentes. Chrystia Freeland, ministra canadense de Relações Exteriores, que está em Washington para negociar o novo Nafta, afirmou que o país não aceitará um acordo desavantajoso.

Trump, como sempre à margem da diplomacia, tuitou no sábado que “não há necessidade política de manter o Canadá em um novo tratado do Nafta. Se não alcançamos um bom acordo, após décadas de abuso, o Canadá sairá” do Nafta. Por sua vez, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou que só um bom acordo interessa a seu país. Do contrário, é melhor que o Nafta acabe de uma vez por todas.

Ressalte-se que Canadá e EUA não andam no melhor de suas relações diplomáticas, desde que Trump reagiu de forma grosseira às críticas de seu colega do norte, por ocasião da reunião do G-7, no início de junho. O ponto de discórdia eram as tarifas impostas unilateralmente por Washington ao aço e ao alumínio.

Pelas lentes de Trump, o governo americano vê seus parceiros históricos como abutres que se alimentam dos trabalhadores americanos e às custas das empresas do país. No Nafta 2 fechado com o México, a produção de veículos passa ter um índice de 75% de peças fabricadas nos EUA, contra 62,5%. Além disso, até 45% da produção terão que ser executados por trabalhadores com salário mínimo de US$ 16 a hora, do contrário, os veículos montados no México serão taxados em 2,5%.

Analistas observam que o novo tratado vai resultar em demissões e elevação do custo dos veículos, com possível transferência da produção para outros países. Isto se o acordo passar no Congresso americano, que é o seu avalista. Não deve dar certo.