O Estado de São Paulo, n. 45667, 29/10/2018. Política, p. A24

 

Guedes diz que corte de gastos será prioridade

29/10/2018

 

 

 Recorte capturado

Eleições 2018 Economia / Assessor de Bolsonaro defende reforma da Previdência, privatizações e corte de impostos

O economista Paulo Guedes, apontado como o futuro ministro da Fazenda do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou ontem que a prioridade do programa econômico do futuro governo será o ajuste fiscal por meio do corte de gastos públicos. Guedes defendeu a reforma da Previdência, privatizações de estatais e o corte de impostos. No comércio externo, disse que o Mercosul não será prioridade.

“O programa econômico tem um diagnóstico claro. O Brasil teve 30 anos de expansão de gastos públicos, descontrolados”, afirmou Guedes, ao chegar ao hotel Windsor Barra, após deixar caminhando a casa de Bolsonaro, na zona oeste do Rio. Segundo o economista, os três maiores itens do gasto público a serem atacados são a Previdência e as despesas com juros e com a máquina pública. No primeiro caso, a estratégia é fazer uma reforma. No segundo item, o caminho é “acelerar as privatizações”, para obter recursos e abater a dívida pública. Para enfrentar o terceiro item, a saída é fazer uma reforma do Estado.

Questionado se é possível zerar o déficit fiscal em um ano, como já declarou, Guedes disse: “Vamos tentar (zerar o déficit fiscal). Claro que é factível”. O assessor de Bolsonaro frisou que o programa econômico será anunciado em blocos temáticos, sem medidas isoladas.

“Além disso vamos simplificar e reduzir impostos, vamos eliminar encargos e impostos trabalhistas sobre a folha de pagamentos, para gerar, em dois ou três anos, 10 milhões de empregos novos. Vamos regulamentar corretamente, fazer os marcos regulatórios para investimentos na área de infraestrutura”, afirmou Guedes.

Para o comércio exterior, o economista citou uma “abertura gradual da economia” e criticou o Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Guedes disse que o Brasil “ficou prisioneiro de alianças ideológicas” e que isso é ruim para a economia. Para o economista, o Mercosul é “totalmente ideológico” e não será prioridade no próximo governo. “Não vamos quebrar nenhum relacionamento. Se eu só vou comercializar com Venezuela, Bolívia e Argentina? Não. Nós vamos comercializar com o mundo, serão mais países. Nós faremos comércio”, afirmou.

Emprego. Para analistas, o novo governo herda um País que dá sinais de melhora na economia, com inflação sob controle e juros baixos. Mas o alto número de desempregados – 12,7 milhões, quase 90% mais do que havia na última eleição presidencial – é um grande desafio.

“A inflação está baixa, mas por um motivo ruim: a ociosidade da economia está muito elevada”, diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. “A percepção da maior parte da população é muito ruim. É o espelho da situação do mercado de trabalho.”

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, lembra que, além do desemprego, a percepção de que os serviços públicos são de baixa qualidade teve grande influência nas eleições. “O desemprego elevado, a corrupção e o serviço público ruim criaram a demanda por uma mudança na política”, diz.

A avaliação é de que, para impulsionar o mercado de trabalho, será preciso recuperar a credibilidade entre os empresários e reformar a Previdência. A reforma teria um efeito indireto, pois criaria espaço para o Banco Central manter a taxa de juros em um patamar baixo. Do lado da credibilidade, a questão é mais política do que técnica, diz Borges. “(Manter parte da) equipe econômica atual ajudaria. Mas querer reinventar a roda prejudica.”