O globo, n. 31076, 06/09/2018. País, p. 8

 

'Meu nome estará nas urnas. Sou candidato'

Lucas Altino, Flávio Tabak e Thiago Prado 

06/09/2018

 

 

Entrevista - Anthony Garotinho 

Condenado em segunda instância por formação de quadrilha, ex-governador diz ser alvo de motivações políticas e não jurídicas. Ele admite temer uma nova prisão

Em entrevista ao GLOBO, o candidato do PRP, Anthony Garotinho, diz que teme voltar para a prisão, mas afirma que vai ficar na disputa. Um dos líderes nas pesquisas de intenção de voto, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PRP) recebeu uma péssima notícia anteontem. Foi condenado pela Justiça Federal, em segunda instância, por formação de quadrilha. A sentença pode enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa, o que deixaria o caminho livre para Eduardo Paes (DEM) e Romário (Podemos), que estão empatados tecnicamente com ele no Ibope em primeiro lugar. Garotinho vai recorrer da decisão.Horas depois de receber o resultado do tribunal, o candidato recebeu O GLOBO em sua casa, no Flamengo, e abriu o leque de respostas e contra-ataques, com críticas ao Ministério Público, ao Judiciário do Rio e a adversários.

No campo das propostas, o ex-governador defende a revisão das UPPs e do regime de recuperação fiscal.

“Eu tenho feito pelo Crivella o que ele não fez comigo. Defendo ele em todo lugar, e ele não me defendia em campanha.”“O Romário não é a pessoa adequada para administrar um estado diante da crise. O Tarcísio, por nunca ter administrado nada, pode prometer tudo, faz promessas totalmente lunáticas. O Paeséo verdadeiro herdeiro de Cabral e o Índio quer _ apito” Anthony Garotinho, candidato do PRP ao governo do Rio

 

O senhor acaba de ser condenado em segunda instância por formação de quadrilha. E agora?

Fizeram uma teoria completamente maluca, que o Álvaro Lins tinha uma quadrilha e eu, que era chefe dele como secretário de Segurança, respondia a ele. Como alguém que tem cargo hierarquicamente superior responde ao subordinado? Qual a prova contra mim? É muito vago. Quando você não tem prova objetiva, parte para a acusação subjetiva. Como há um desejo político de me tirar da eleição, estão atropelando tudo.

 

A denúncia diz que o objetivo era proteger a quadrilha do contraventor Rogério Andrade, com loteamento de delegacias. Em conversas de envolvidos, o senhor era chamado de chefe...

Chamar de chefe é uma expressão normal. Quantos colegas de trabalho não chamam o outro de chefe? Em alguns casos afastei e escolhi delegados, sim, era uma atribuição minha como secretário de Segurança.

 

O senhor coloca a mão no fogo por Álvaro Lins (condenado no processo a 28 anos)?

Os resultados dele como chefe da Polícia Civil foram extremamente positivos. Se ele cometeu algum ato ilícito eu não sei. Não posso ser responsabilizado por atos de terceiros. Eu tenho relações com ele até hoje, até porque estamos no mesmo processo. Mas ele está afastado da política.

 

Seu nome estará na urna? O senhor teme ser preso de novo?

Meu nome vai estar na urna, eu sou candidato. Entendo que esses fatos estão ocorrendo não por motivação jurídica, mas por motivação política. A minha candidatura incomoda à facção criminosa liderada por Sérgio Cabral, que tem tentáculos no Poder Legislativo e órgãos fiscalizadores. Estamos entrando com duas ações contra a condenação, uma para reverter a prisão em segunda instância e a outra para anular o acórdão que tem, no mínimo, 15 pedidos de nulidade. Então acho que vai ser anulado. Mas, de qualquer forma, eu temo, sim (ser preso). Da outra vez, inicialmente acharam que eu havia inventado uma história de agressão. Depois veio o laudo do MP, com 48 páginas, mostrando que houve manipulação das câmeras. Ficou claro que os fatos ocorreram como descrevi.

 

Como o senhor explica outros processos, como na Justiça Eleitoral, que te levaram a três prisões?

Sobre a Operação Chequinho (acusação de trocar Cheque Cidadão por voto) denunciei um promotor um ano antes. Um laranja dele é dono do pátio legal de Campos. A Rosinha, como prefeita, tirou o pátio dele. Partiram para cima da gente. Sobre a JBS (acusação de repasse ilegal de R$ 3 milhões para sua campanha), o repasse está declarado. O doador originário dos R$ 3 milhões aparece lá, é a JBS. Mas, como recebi do diretório nacional, não sabia quem tinha doado. O delator Ricardo Saud disse que não me conhece, que não tem interesse em Campos, então não tinha por que ele me ajudar.

 

E a condenação de improbidade na Justiça do Rio? Também há citação na delação da Odebrecht, homologada no Supremo Tribunal Federal...

Tem no MP um grupo que, durante meu governo e o da Rosinha, foi escalado para me perseguir. Já no caso Odebrecht, não gerou denúncia. Aliás, a Odebrecht tem uma briga judicial com a prefeitura de Campos, por um crédito em torno de R$ 16 milhões.

 

Então existe um complô contra o senhor que engloba todos os setores da Justiça? Não é complô em excesso?

Não tem isso de complô contra o Garotinho, há uma figura central chamada Luiz Zveiter e o motivo é a denúncia que fiz contra ele (Garotinho foi condenado na segunda-feira por injúria contra Zveiter). Não tenho reclamação com o STF. A questão é que juízes e promotores de Campos estão ligados ao MPRJ e à Justiça do estado.

 

Um dos principais problemas do estado é a segurança. Como resolver? Durante o seu mandato como governador, a letalidade violenta aumentou.

Quando criei o ISP, fizemos questão de que fosse dirigido por entidades de fora do governo, para não haver manipulação de dados. Antes, os policiais anotavam à mão, às vezes até em papel de pão. Depois de ser tudo informatizado, a subnotificação sumiu. Não houve aumento, os números é que passaram a ser reais. Na segurança pública, além do ISP e delegacias legais, fiz a sede do Bope e introduzi a política de treinamento e capacitação dos policiais.

 

Mas houve crescimento das milícias. Foi uma falha sua?

Os dados da CPI do Marcelo Freixo apontam que as milícias explodiram no governo Sérgio Cabral. Em relação ao meu governo houve um aumento, mas não acho que falhei. Tivemos que estabelecer prioridades. Quando assumi, falei para os chefes da polícia que queria nome e cara de quem comandava o tráfico. Em 30 dias montamos uma estratégia de combate. Nós desmontamos o Comando Vermelho. Em algumas comunidades a milícia entrou, mas não com conivência nossa, diferente do Cabral.

 

Mas o Girão (Cristiano, ex-vereador que foi preso acusado de chefiar uma milícia) teve cargo no governo Rosinha.

Girão era peixe pequeno, estou falando dos cabeças.

 

Qual será sua política sobre UPP e intervenção federal?

A polícia de proximidade requer requisitos que a UPP não teve, como treinamento especial, sede fixa e ações sociais. Nós vamos analisar caso a caso, mas eu diria que a maioria das UPPs não tem os requisitos mínimos. Sobre a intervenção, pretendo mostrar ao general Braga Netto o plano de segurança que elaboramos, que prevê política de prevenção, modernização do aparelho policial e equivalência no confronto. Se ele topar, estamos juntos. Para mim é indiferente continuar um interventor, mas o chefe da PM será o governador.

 

E o regime de recuperação fiscal, como vai ficar?

A gente vai tratar como tratamos em 1998, quando consegui a renegociação da dívida. Esse regime atual é uma fantasia, porque foi feito para não ser cumprido. Ao fim de três ou seis anos, o governo precisará pagar por mês a parcela a ser vencida e uma atrasada corrigida pela tabela Price. Isso é brincadeira, o estado não tem condição de pagar nenhuma, vai pagar duas de uma vez? Além disso, o acordo prevê a abertura do direito de recorrer contra créditos que o estado tenha contra a união ou estatais. É uma aberração, vou rever tudo. Os salários dos servidores não ficarão em risco porque não será um rompimento unilateral, será um novo acordo.

 

O PRB, do prefeito Marcelo Crivella, está na sua coligação. Qual seu acordo com a Igreja Universal?

Nenhum. Há uma diferença grande entre um político evangélico e um evangélico político. Eu sou evangélico, mas não misturo as coisas. O governo é laico. Acho que Crivella teve um grande erro, de não mostrar o caos financeiro e as dívidas deixados por Paes. Eu o ajudei no início e a esposa dele lhe sugeriu me chamar para o governo, mas o grupinho dele é muito fechado. Agora, quando ele quiser aparecer na minha agenda, vai aparecer. Eu tenho feito pelo Crivella o que ele não fez comigo. Defendo ele em todo lugar, e ele não me defendia em campanha.

 

Ele não errou no caso da Márcia? (Em gravação revelada pelo GLOBO, Crivella ofereceu privilégios a pastores informando o telefone de uma assessora)

A versão que ele dá é outra. Ele diz que tem se reunido com todos os setores, então disse para falarem com a Márcia porque o prefeito não consegue falar com todo mundo. Mas não foi algo dirigido.

 

O senhor foi prefeito de Campos com 38 anos, depois governador e recebeu 15 milhões de votos para presidente em 2002. Hoje está no PRP, um partido pequeno e tenta se segurar para participar da eleição. O que te motiva, te diferencia dos adversários?

Tenho uma missão. Eu derrubei as pilastras da Babilônia que se instalou no Rio. Agora é hora de reconstruir. O Romário não é a pessoa adequada para administrar um estado diante da crise. O Tarcísio, por nunca ter administrado nada, pode prometer tudo, faz promessas totalmente lunáticas. O Paes é o verdadeiro herdeiro de Cabral e o Índio quer apito.