O globo, n. 31131, 31/10/2018. País, p. 14

 

ANJ condena ameaça de Bolsonaro a jornal

Mariana Martinez

31/10/2018

 

 

Ex-dirigente do PSL, advogado Gustavo Bebianno afirma que presidente eleito fez ‘críticas’ e nega que governo cortará verbas de publicidade caso discorde de reportagens publicadas pela ‘Folha de S.Paulo’

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) reagiu ontem à entrevista em que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, atacou o jornal “Folha de S.Paulo”. Ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, o capitão da reserva acusou a publicação de propagar notícias falsas e ameaçou cortar verbas de publicidade do governo federal para veículos de imprensa que divulgarem informações que ele julgar incorretas.

“A ANJ rejeita com veemência os termos e o teor das declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro ao reiterar ataques ao jornal ‘Folha de S.Paulo’”, disse a entidade, em nota.

A ANJ acrescentou ainda que “eventuais inconformismos com noticiário de veículos de comunicação não podem ser confundidos com inaceitáveis retaliações a jornais por meio de uso de verbas publicitárias oficiais”. Por fim, a entidade disse que “espera que o princípio da liberdade de imprensa, saudavelmente afirmado pelo presidente eleito em seu discurso após a vitória nas urnas, se manifeste na prática, o que inclui o respeito a opiniões divergentes e à independência editorial”.

Ex-presidente do PSL, o advogado Gustavo Bebianno, aliado de Bolsonaro, negou ontem que o presidente eleito tenha atacado o jornal:

— Ele (Bolsonaro) não fez ataques, fez críticas. Será que a crítica é unilateral? Acho que nós vivemos num regime democrático, se ele se sentiu atacado em algum momento de forma fora de uma linha de normalidade... Isso faz parte da democracia, ninguém está atacando ninguém, simplesmente são críticas recíprocas

Após as declarações de Bolsonaro, o editor-chefe e um dos apresentadores do “Jornal Nacional”, William Bonner, defendeu a imprensa:

—A “Folha” é um jornal sério, que cumpre um papel importantíssimo na democracia brasileira. É um papel que a imprensa profissional brasileira desempenha e a Folha faz parte desse grupo da imprensa profissional brasileira.

Bolsonaro não reagiu à declaração do apresentador.

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PT retoma campanha para tentar libertar Lula da prisão

Sérgio Roxo

31/10/2018

 

 

Na primeira reunião após a derrota eleitoral para Jair Bolsonaro (PSL), o comando do PT discutiu ontem a necessidade de mobilizar uma campanha internacional pela liberdade do ex-presidente Luiz Lula Inácio da Silva.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, defendeu que Fernando Haddad, candidato derrotado, assuma a linha de frente dessa mobilização, com viagens ao exterior.

O partido, porém, prefere reservar para Haddad o papel de articulador de uma frente de resistência ao governo de Bolsonaro.

— Queremos fazer a construção de uma forte solidariedade internacional da causa democrática passando principalmente pela liberdade de Lula, com quem nós nos preocupamos muito nesse contexto — afirmou a presidente da legenda, Glesi Hoffmann, após reunião da executiva do partido para discutir os rumos da legenda após a eleição.

Ontem, durante a reunião, Haddad chorou enquanto lembrava dos ataques que ele e sua família sofreram com “fake news”.

Gleisi citou o discurso feito por Bolsonaro no último dia 21 transmitido para seus apoiadores que se reuniam na avenida Paulista em que o então candidato do PSL falava que Lula iria “apodrecer na cadeia”. Lula, segundo dirigentes do partido, também reforçou a importância que a Haddad deve ter a partir de agora na legenda.