Título: Direita no poder
Autor: Favilla, Clara
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2012, Economia, p. 12

A crise que solapou Portugal derrubou os socialistas que comandaram o país por um bom período, parte dele com José Sócrates como primeiro-ministro. Desesperançosa, a população optou pela direita, representada por Pedro Passos Coelho, fato que não se via desde o advento da democracia, em 1974. A economia, porém, está sob a liderança da troika, formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE), grupo que socorreu o governo com 80 bilhões de euros e evitou a falência na nação portuguesa.

A grande diferença entre Portugal e Grécia, e mesmo em relação à Espanha, é que o acordo com a troika foi feito no fim do governo anterior, com a aprovação dos partidos que compõem a atual administração. Um caminho semelhante ao trilhado pelo Brasil na transição da era Fernando Henrique Cardoso para a de Lula. Cerca de 80% dos eleitores portugueses estão representados pelas legendas que aceitaram o acordo. Por isso, medidas duras puderam ser aprovadas pelo Parlamento.

Mas a percepção geral dos portugueses é que o governo central está fazendo ajuste fiscal à custa das empresas, da população e dos poderes locais para continuar gastando sem critério. Essa também é a visão dos analistas econômicos, que cobram ações para desonerar o setor produtivo e recolocar o país na trilha do crescimento. O descontentamento é maior porque Pedro Passos continua a apostar em aumento de impostos e em cortes de salários do funcionalismo e de aposentados para forçar a austeridade exigida pela troika.

Desânimo

Ana Melo, professora do quadro efetivo da rede educacional pública, conta que, há quatro anos, está sem receber qualquer promoção, apesar dos direitos adquiridos. Ela perdeu os subsídios de férias e de Natal, como todo o funcionalismo, o equivalente aos décimos terceiro e quarto salários. E o pior, começou, a fazer uma poupança, a título de aposentadoria, porque não acredita que poderá ser beneficiada por uma do setor público. Ana chama ainda a atenção para outra medida polêmica: o governo quer elevar o número de alunos em sala de aula, entre 22 e 25, para pelo menos 30, o que significará a dispensa de professores não efetivos.

Mas não é só. Os jovens portugueses, pegos no contra pé da crise, estão desmotivados, tanto os que estão no mercado de trabalho quanto os que estão de fora. Universitários recém-formados aceitam empregos diferentes das respectivas especializações pelo equivalente ao salário mínimo vigente, em torno de 500 euros. Os bancos, como aconteceu nos Estados Unidos, viraram grandes imobiliárias com os arrestos decorrentes da inadimplência. Manchete recente de jornal dava conta de que a Câmara de Comércio Portugal/França vai organizar Salão Imobiliário em Paris para ajudar as instituições a revender os imóveis a aposentados franceses. (CF)