O globo, n. 31127, 27/10/2018. País, p. 12

 

Bolsonaro prega cautela e prepara ação na internet

Jussara Soares

27/10/2018

 

 

A dois dias do segundo turno, candidato critica aliados que tentam se viabilizar como ministros, em caso de vitória

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) passará a véspera da eleição que poderá tornálo o próximo presidente do Brasil em casa, recebendo visitas, e falando aos eleitores pela internet, ambiente onde se projetou como uma nova força política. A estratégia é aproveitar as últimas 24 horas antes do início da votação para reforçar o pedido de voto e adotar um tom de esperança para o futuro governo. Logo no início do dia de hoje, um vídeo começará a ser disparado em grupos de WhatsApp de apoiadores de Bolsonaro, deixando de lado os ataques mais pesados ao PT, marca do segundo turno, para exaltar um “Brasil patriota.” A propaganda, que se inicia com o nascimento de um bebê, apresenta violinistas executando o Hino Nacional e ainda uma sequência de imagens do presidenciável em várias regiões do país. —Sejam muito bem-vindos a um recomeço, onde a liberdade e o respeito andam de mãos dadas. Um novo Brasil onde todos são iguais, sem divisões de gênero, raça, religião. Onde família é prioridade, um só povo unido soba mesma bandeira e um mesmo lema— diz um locutor em off, cujo texto é completado com Bolsonaro dizendo o seu slogan de campanha: — Brasil acima de todos, Deus acima de tudo. As últimas pesquisas de intenções de voto do Ibope e do Datafolha, que mostraram a aproximação de Fernando Haddad (PT), preocuparam a cúpula da equipe de Bolsonaro. O presidenciável —que há dez dias, em 17 de outubro, disse que já estava com “mão da faixa” — moderou o otimismo e passou a pedir mais empenho da militância. Apesar disso, a cúpula da campanha estima que, em caso de vitória nas urnas, cerca de 500 mil pessoas tomem a Avenida Lúcio Costa, em frente a casa do candidato, para comemorar o resultado.

"Toque de recolher"

Hoje, grupos de apoiadores farão ações de mobilização para ir às ruas em diversas regiões do país, como também marcarão presença massiva nas redes sociais subindo hashtags e publicando mensagens pró-Bolsonaro. Até o resultado das urnas, no domingo à noite, deve imperar entre os aliados o “toque de recolher” imposto por Bolsonaro. Os aliados mais próximos temem que um escorregão, a exemplo de outros que ocorreram ao longo da campanha, ponha a eleição em risco. Bolsonaro aproveitou ontem uma transmissão ao vivo no Facebook do filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), para fazer o que chamou de “apelo” aos eleitores para evitar uma “surpresa” no domingo: — Vamos votar no domingo e, até lá, vamos convencer uma pessoa que está indecisa, que votou nulo ou até que votou no outro candidato, que vote na gente. Não tem nada decidido, nada ganho. Tem gente que acha que, como estamos bem, apessoa vai fazer uma viagem, um churrasco na casa da sogra. Não que isso não seja bom, mas vamos votar domingo para que a gente evite qualquer surpresa. O outro lado está ativo, continua trabalhando. Também ontem, o candidato que lidera as pesquisas criticou nomes que, segundo ele, vêm se promovendo para participar de um eventual governo. A dois dias da eleição, o presidenciável chamou de “oportunista” quem tem se apresentado como ministro e subiu o tom ao dizer que estes estarão fora do seu time caso chegue ao Palácio do Planalto. A declaração de Bolsonaro ocorre após os deputados federais Alberto Fraga (DEM-DF) e Pauderney Avelino (DEM-AM), após visita ao presidenciável na última terça-feira, darem entrevistas afirmando que poderiam integrar o time do presidenciável do PSL. “Com o intuito de se promover ou nos desgastar, oportunistas se anunciam ministros. Estes, de antemão, já podem se considerar fora de qualquer possível governo”, publicou Bolsonaro em seu perfil no Twitter. Bolsonaro voltou a afirmar que apenas três ministros estão garantidos em seu eventual governo: o economista Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda, o general Augusto Heleno para a Defesa, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) como chefe da Casa Civil. Bolsonaro já desautorizou publicamente outros nomes que estariam cotados para seu possível governo. Entre eles, Henrique Prata, diretor do Hospital do Câncer de Barretos(SP ), eop residente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, seu principal consultor para o agronegócio.

Ação contra Roger Waters

No front jurídico, a campanha pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investigue propaganda irregular favorável a Haddad, durante os shows de Roger Waters, ex-integrante da banda de rock Pink Floyd. Em turnê no Brasil, o músico fez ataques ao candidato dos PSL durante suas apresentações, inclusive chamando-o de fascista. Os advogados de Bolsonaro sustentam a ação em postagens, feitas no Twitter pelo ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão. Leitão afirmou que “Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno”. O ministro escreveu que Waters chamou Bolsonaro de “insano e corrupto” sem provas. “Isso sim é caixa 2 e campanha ilegal!”, completou. Disse ainda: “informação de fonte segura. US$ 3 milhões por show. Apenas de cachê. Sem contara participação nas receitas”.

Os advogados destacaram ainda que a empresa que organizou oshowé beneficiária da Lei Rouanet, que destina recursos públicos para acultura, embora reconheçam não ter provas de que alei foi usada para financiar o espetáculo

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Em nota, TV Globo esclarece cancelmento de debate no 2º turno

27/10/2018

 

 

Em nota, divulgada na noite de ontem no Jornal Nacional, a TV Globo explicou as razões pelas quais não exibiu o debate entre os candidatos à Presidência da República, diferentemente do que sempre faz quando há segundo turno. O evento ocorreria na noite passada.

“Na segunda-feira (22), último dia combinado com os responsáveis pelas campanhas eleitorais para a confirmação da presença dos candidatos no debate, a TV Globo recebeu e-mail da campanha de Jair Bolsonaro com a informação de que ele não poderia participar do evento, em razão de limitações de saúde. Já o candidato do PT, Fernando Haddad, confirmou a disposição de estar presente. Na reunião de elaboração das regras do evento, foi acertado com as assessorias dos candidatos que, se Jair Bolsonaro não pudesse comparecer por razões de saúde, o debate não seria substituído por entrevistas. No e-mail enviado à Globo, a campanha de Bolsonaro explica que pacientes que têm a bolsa de colostomia fixada ao lado direito do abdômen, como no caso do candidato, não têm qualquer controle intestinal e, com isso, o preenchimento total pode ocorrer de forma rápida e inesperada, podendo levar ao rompimento da bolsa. No e-mail, foi anexado um vídeo em que o doutor Antônio Macedo examina Bolsonaro e apresenta e as explicações”.

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Com 'alegria', ex-estrategista de Trump endossa 'capitão'

27/10/2018

 

 

Acusado de organizar campanha de fake news, Steve Bannon disse não ter relação com a candidatura de deputado do PSL

Acusado de ser o responsável pela suposta campanha de fake news que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, Steve Bannon anunciou ontem seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, do PSL. Ex-assessor do presidente americano e ligado à direita, ele era o cérebro por trás da Cambridge Analytica, consultoria de dados acusada de ter interferido nas eleições americanas de 2016 e também no referendo do Brexit, no Reino Unido. A entrevista foi dada à BBC Brasil. —O capitão Bolsonaro é um patriota brasileiro, e creio que seria um grande líder para seu país neste momento histórico —declarou Bannon, que chamou Bolsonaro de “brilhante”, negou fazer parte da campanha e disse que é a primeira vez que endossa a campanha de alguém publicamente: —Sou apenas um apoiador. Estou aqui endossando com alegria o capitão Bolsonaro e sua campanha para se tornar o próximo líder do Brasil. Como você sabe, eu não apoio muita gente. Na verdade, acho que, tecnicamente, nunca endossei ninguém. Então isso seria uma primeira vez para mim, certamente a primeira em uma perspectiva internacional —disse Bannon, que acrescentou que o candidato do PSL “parece ser o tipo de cara que poderia ser um líder nesta crise, e acho que merece o apoio da comunidade internacional”.

Econtro em Nova York

Em agosto, Bannon teve um encontro em Nova York com Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável. Na ocasião, o brasileiro, eleito deputado federal por São Paulo com votação recorde, publicou uma foto do encontro e disse que o exestrategista de Trump era um “entusiasta” de seu pai: “Foi um prazer encontrar Steve Bannon, estrategista da campanha de Donald Trump. Nós tivemos uma ótima conversa e compartilhamos da mesma visão. ”, escreveu Eduardo nas redes sociais. Sobre o encontro, Bannon declarou à BBC que apenas deu sugestões. Ele e disse também que não ficou surpreso com o atentado contra Bolsonaro, que levou uma facada em setembro, quando fazia campanha em Juiz de Fora (MG): —Eu não sei se continuaria fazendo isso, deixar milhares de pessoas o colocarem nos ombros, como em uma partida de futebol. Ele está concorrendo como um candidato da lei e da ordem. Há muitas gangues e maus elementos lá que, tenho certeza, não estão felizes em ver um candidato assim. Bannon também disse que não acha que as notícias falsas podem ajudar ou prejudicar um candidato, mas acredita que a questão da tecnologia deve ser analisada. Ele reiterou as semelhanças que vê entre Bolsonaro e Trump. —Acho que são muito parecidos —resumiu.