Título: Caravana goiana no Congresso
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2012, Política, p. 2
Base aliada de Perillo estará em Brasília para acompanhar o depoimento na CPI do Cachoeira. Já estudantes e professores de Goiânia prometem protestar durante a sabatina na capital Goiânia — Aliados e opositores do governador Marconi Perillo prometem fazer hoje um barulho enorme enquanto o tucano estiver depondo na CPI criada para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos, empresários e funcionários públicos goianos. Mais de 20 deputados estaduais, incluindo os três que blindam Perillo em uma CPI aberta na Assembleia Legislativa, vieram ontem à tarde a Brasília com a missão de prestar solidariedade ao governador. Já estudantes e professores pegarão a estrada na manhã de hoje, depois de protocolarem um pedido de impeachment contra o governador de Goiás.
Perillo desapareceu de todas as agendas públicas desde a quinta-feira passada, preparando-se para o depoimento de hoje. Segundo assessores, o tucano reuniu documento e recibos para tentar provar que vendeu a casa para o ex-vereador Wladimir Garcez por R$ 1,4 milhão, divididos em três cheques: R$ 500 mil, R$ 500 mil e R$ 400 mil. A versão confirma o depoimento que o próprio Garcez deu à CPI, alegando que teria pego os três cheques com o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu, libertado no último sábado. E contraria a versão do empresário Walter Paulo Santiago, que diz ter comprado a casa com dinheiro em espécie.
Para não passar a impressão de que usaria servidores da máquina como claque pessoal, Perillo orientou os secretários estaduais e presidentes de empresas estatais a permanecerem em Goiás. Se, por um lado, quer passar a impressão de que "é imprescindível para o estado", também justificou que a administração não pode parar por conta de uma "falsa crise". Mas orientou as lideranças na Assembleia a seguirem com ele para Brasília. "Se os deputados vão assistir à CPI, é uma iniciativa política deles, o governador não pediu nada a ninguém", esquivou-se um assessor pessoal do governador.
No fim da tarde de ontem, um grupo de estudantes e professores da rede pública invadiu a Assembleia Legislativa para protocolar um pedido de impeachment contra Perillo. Portando buzinas que lembravam sons de caminhão, fizeram uma algazarra no vão central do Legislativo e acabaram sendo contidos pelos seguranças. Conseguiram, no entanto, entregar o documento na Procuradoria Parlamentar.
O mesmo grupo já havia enfrentado a segurança do governador Perillo há 15 dias, em evento em Itumbiara (GO). Ontem, os jovens seguraram cartazes ironizando o encontro anterior. "Não nos batam, agora trouxemos testemunhas", dizia um deles. Segundo uma das participantes, a estudante de publicidade Ana Clara Porto, 20 anos, as divergências contra o governador são antigas. "Nosso primeiro movimento Fora Marconi ocorreu em 7 de setembro do ano passado", recorda ela.
Na época, a Operação Monte Carlo, que esmiuçou a ação do bicheiro Carlinhos Cachoeira na máquina pública goiana não havia sido ainda deflagrada pela Polícia Federal. "Nós protestávamos para conseguir 10% do PIB para a educação", recorda Ana Clara. "Agora, temos ainda mais razões para pedir a saída do governador."
Faixas e cartazes Uma das organizadoras do movimento, Aymé Sousa, estudante de produção cultural, disse que o próximo Movimento Fora Marconi está marcado para o sábado que vem. Ela reconhece que existe pouca mobilização nas ruas de Goiânia. "Nós colocamos faixas e cartazes, mas os partidários do governador arrancam", protestou ela.
Deputados e senadores que acompanharam o inquérito afirmam que o governador tem dois pontos-chaves para explicar aos integrantes da CPI no dia de hoje. A venda da casa na qual o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, e o suposto pagamento de R$ 90 mil para o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que fez a campanha de rádio durante a eleição de 2010. Bordoni afirmou que parte desses recursos depositados na conta da filha dele vieram das empresas fantasmas de Carlinhos Cachoeira.
Opositores do governador acham, inclusive, que esta talvez seja a parte mais comprometedora para Perillo, pois envolveria diretamente a campanha eleitoral que o conduziu a mais um mandato à frente do governo goiano. "Mesmo assim, ele ainda pode encontrar brechas, alegando crime eleitoral", disse um especialista no assunto.
R$ 1,4 milhão Valor da venda de uma mansão em Goiânia, segundo a versão de Marconi Perillo. O governador diz que recebeu o pagamento em três cheques: dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil