Título: O dia de Perillo enfrentar a CPI
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2012, Política, p. 2
Depoimento do governador de Goiás é o primeiro capítulo da batalha entre PSDB e PT. Em meio ao fogo cruzado partidário, tucano terá que explicar a venda de uma casa em Goiânia e a relação com o bicheiro Carlinhos CachoeiraNotíciaGráfico
O depoimento do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, na CPI do Cachoeira hoje será o primeiro round da batalha que já começou a ser travada entre PSDB e PT. O discurso em defesa da apuração isenta dos fatos, reafirmado desde o início dos trabalhos da comissão, deu lugar a uma franca disputa partidária. Os petistas serão os primeiros a abrir fogo, usando os grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, que mostram a relação entre Perillo e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O contra-ataque dos tucanos está marcado para amanhã, quando será ouvido o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
As declarações de parlamentares de PT e PSDB, ontem, deram a exata medida da disposição de ambos em tentar atenuar os danos aos seus respectivos correligionários e, ao mesmo tempo, bombardear o adversário. O clima no Congresso deixou claro que um suposto acordo firmado entre petistas e tucanos — para que ninguém tensione a corda durante os depoimentos, com objetivo de poupar Perillo e Agnelo — não passou de esboço. Ainda assim, parlamentares de outras legendas ainda desconfiam de uma manobra de última hora. "Só amanhã (hoje) saberemos o que é boato e o que é acordo. Eu não acredito (em acordo), mas, caso haja, vai ficar muito claro ao longo da sessão de hoje", resumiu o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ).
Embora afirme que o governador goiano deve ser questionado com contundência na CPI, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), classifica as denúncias contra Perillo como "fatos requentados". "A versão que fica é que é publicada. Esperamos que se encerre este capítulo hoje para podemos passar aos outros. O objetivo do PT é usar a CPI para tirar o foco do julgamento do mensalão, e Marconi é usado para tirar foco de outros fatos graves, com os que envolvem a construtora Delta e o governo federal. Não queremos uma CPI chapa branca, como está sendo esta", defendeu Dias.
Laranjas As bancadas do PT da Câmara e do Senado se reuniram à tarde para traçar a estratégia que será adotada na visita de Perillo à CPI. Os petistas vão concentrar a artilharia no negócio envolvendo uma casa que pertencia ao governador, imóvel em que Cachoeira foi preso pela PF, em 29 de fevereiro. Até agora, há diferentes versões sobre a venda da mansão, sobretudo no que diz respeito à forma de pagamento e ao verdadeiro comprador. Suspeita-se que o bicheiro tenha utilizado laranjas para adquirir a casa, localizada em um condomínio de Goiânia. Telefonemas mostrando uma suposta proximidade entre o governador e Cachoeira também serão explorados, assim como as denúncias de pagamentos de propinas a ex-funcionários do governo.
"A relação da organização criminosa em Goiás é muito forte, e Perillo não fez nada contra isso. Quem diz isso é a Polícia Federal. Já o caso de Agnelo é completamente diferente. Ele foi vítima da organização criminosa, e não tem nada a explicar sobre isso", disparou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), dando uma prévia dos ataques que serão expostos hoje. Líder do PDT no Senado, Pedro Taques (MT) criticou a partidarização do debate, deflagrada assim que as suspeitas se aproximaram de governadores de duas das principais legendas do país: "A CPI não pode ser do PT contra PSDB nem o contrário, mas, sim, uma comissão que busca a verdade. A CPI não pode ser usada com um instrumento de perseguição política", afirmou Taques.
Enquanto petistas e tucanos protagonizavam o cabo de guerra de declarações acusatórias, o governador de Goiás procurava aliados para pedir apoio. Ele chegou a Brasília no domingo e, desde então, teria se reunido com o senador Cyro Miranda (PSDB-GO), ex-suplente e atual ocupante da cadeira de Perillo no Senado, e com o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN), que negou ter se encontrado com Perillo, mas admitiu que ambos devem conversar antes do início da sessão de hoje. Ontem, à noite, estava prevista uma outra reunião entre petistas.
"O objetivo do PT é usar a CPI para tirar o foco do julgamento do mensalão, e Marconi é usado para tirar foco de outros fatos graves, com os que envolvem a construtora Delta e o governo federal" Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado
"A relação da organização criminosa em Goiás é muito forte, e Perillo não fez nada contra isso. Quem diz isso é a Polícia Federal" Jilmar Tatto, líder do PT na Câmara